Na mesa de abertura, dirigentes sindicais homenagearam Siderlei de Oliveira, que dá nome à plenária. Fundador da confederação, em 1994, e um dos dirigentes mais aguerridos na luta do ramo da alimentação no Brasil, ele faleceu aos 74 anos, em dezembro de 2020.
Além da apresentação de um vídeo em homenagem e de lembranças de momentos de luta ao lado de Siderlei, os dirigentes também comentaram sobre as quase 600 mil vidas ceifadas pela covid-19, muitas das quais poderiam ter sido evitadas caso o governo de Jair Bolsonaro (ex-PSL) optasse por uma política de enfrentamento à pandemia.
A importância do trabalho de base na atual conjuntura e a necessidade de apropriação de símbolos como a bandeira brasileira pelo movimento sindical e pela esquerda como um todo também marcaram os discursos durante a plenária, reforçando que a bandeira nacional não é exclusiva dos atos de apoiadores da ditadura que defendem o governo atual.
“Todas as falas realizadas na plenária demonstram o comprometimento para que a gente avance nas lutas de temas que são caros a nós, sejam os direitos dos trabalhadores, a luta em defesa do meio ambiente, contra os agrotóxicos, seja em defesa da democracia contra um golpe que se arrasta há alguns anos e vem prejudicando cada vez mais a classe trabalhadora”, afirmou o presidente da Contac-CUT, Nelson Morelli.
Ao lembrar as ações empreendidas por Siderlei, com quem debateu, aprendeu e viajou todo o Brasil para construir frentes de batalha do ramo da alimentação, Morelli falou sobre a importância da sindicalista Geni Dalla Rosa que, além de esposa, foi companheira de luta de Siderlei, mesmo nos momentos mais difíceis de saúde do dirigente. Chamada para compor a mesa, em meio a aplausos, o silêncio e o choro tomaram conta da mesa de abertura por alguns instantes.
“Quero agradecer por este momento, por esta homenagem. Eu cheguei a dizer a Siderlei em um dado momento para priorizar a saúde dele. Eu dizia a ele que no dia em que ele morresse, as pessoas iriam mandar um ramalhete de flores e apenas isso. Mas não é verdade, o que se comprova com as pessoas que estão aqui em homenagem a ele. E isso é resultado da luta que ele construiu, mesmo quando começou a adoecer, dormindo em aeroporto, sem dia, horário ou tempo ruim”, destacou Geni.
“Uma das vezes em que ele estava em tratamento em São Paulo, ele conseguiu colocar a direção executiva da Contac dentro do hospital para discutir e dar continuidade ao trabalho que tinha que ser feito”, exemplificou a dirigente, que hoje ocupa a pasta da Formação na confederação.
Geni ainda trouxe à memória outros momentos. No mesmo local em que ocorre a plenária da confederação, na Câmara Municipal de Serafina Corrêa, ela se lembrou que em 1995 foi realizado o primeiro seminário nacional do frango e o primeiro seminário nacional sobre Lesões por Esforços Repetitivos (LER) e Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho (Dort).
“Estamos aqui novamente, 26 anos depois, agora sem a presença dele [Siderlei], lembrando as conquistas que tivemos até aqui. Num momento em que nossos direitos estão em risco e que podemos perder nossas conquistas, já que estão querendo alterar a NR [Norma Regulamentora] 36, o que não permitiremos”, disse.
Após a composição da mesa de abertura apresentada em cerimonial pelo advogado Ronaldo Machado, o secretário-geral da Contac-CUT, José Modelski Júnior, também presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Indústria Alimentícia de Serafina Corrêa, comentou sobre o legado deixado por Siderlei.
“Ele era uma referência forte e uma cabeça muito inteligente. Precisamos estar unidos para poder seguir seu exemplo”, afirmou.
José Modelski Júnior comentou também sobre a luta da confederação e de entidades sindicais envolvendo a defesa da vacinação no Brasil, assim como a importância de se combater o negacionismo à ciência.
“Assim como Siderlei fazia sindicalismo mesmo embaixo de uma árvore, como costumava dizer, nós não podemos esperar a pandemia terminar e Bolsonaro cair para fazermos luta. Temos de ter coragem, recuperar a história do Siderlei para que todos que estão aqui deem continuidade a ela”, apontou o presidente da Federação dos Trabalhadores nas Indústrias da Alimentação do Rio Grande do Sul (FTIA-RS), Paulo Madeira.
Presidente da Federação Democrática dos Trabalhadores da Alimentação de Minas Gerais, Osvaldo Teófilo prestou igualmente homenagem à Siderlei e às inúmeras vítimas de covid-19 no país.
“Siderlei fazia política em qualquer lugar de fato. Certa vez, fomos à Cuba em uma atividade e ele estava fazendo trabalho de base no avião. Temos que seguir este exemplo, ainda mais neste momento em que viramos chacota para o mundo, tendo à frente um delinquente que deveria estar atrás das grades”, discursou, ao se referir ao presidente da República.
Para o presidente da Federação dos Trabalhadores nas Indústrias de Alimentação do Estado da Bahia, Roberto José de Santana, Siderlei merece ser lembrado com alegria.
“Foi um homem de luta, um grande parceiro, que debatia e sabia conviver com a diversidade”, falou.
A partir das falas em homenagem a Siderlei, lembrando-o como um dos maiores dirigentes do ramo da alimentação que o Brasil já teve, o presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Alimentação de Concórdia e Região, Valdir Azeredo e Silva discorreu sobre o atual cenário político.
“Vivemos um momento difícil da pandemia frente a um governo genocida que tira vidas e direitos. Tivemos as reformas Trabalhista e da Previdência e, recentemente, a tentativa de minirreforma trabalhista [com a Medida Provisória 1045/2021]. Sabemos também que o sistema S [termo que se refere a instituições ligadas aos empresários] tem se articulado para retirar direitos dos trabalhadores a cada dia e a cada hora”, criticou, ao reforçar a necessidade da luta unificada em defesa dos direitos trabalhistas.
“Milhares de trabalhadores e trabalhadoras nunca pararam de trabalhar um único minuto porque precisavam levar o sustento às suas famílias. O ramo da alimentação não parou a produção porque se a nossa produção parar, o povo brasileiro não come. Nesta luta, Siderlei foi um guerreiro e seguirá com cada um e cada uma de nós”, completou o secretário de Políticas Sociais da CUT-RS, Reginaldo Silveira Rodrigues, mais conhecido como Cacá.
Presidente da CUT-MS e da Federação dos Trabalhadores nas Indústrias de Alimentação de Mato Grosso do Sul, Vilson Gregório, lembra de ter conhecido Siderlei em 2005, durante disputa sindical conjunta contra interesses patronais.
“Mesmo com todas as dificuldades que víamos Siderlei passar, em nenhum momento ele mostrava isso, mas sim falava em crescimento e fortalecimento da luta sindical. Temos que vestir a camisa da Contac sem divisão, mas com união.”.
Na mesma direção que Gregório, o presidente da Contac-CUT, reforçou a todo momento a unidade da luta sindical, cobrando os dirigentes presentes.
“Precisamos retomar neste momento os valores que nos inspiraram a criar a confederação e que nos farão seguir unidos para as batalhas que temos pela frente”, concluiu Nelson Morelli.