Nem tudo que reluz é ouro
O Canadá costuma se apresentar ao mundo como um país preocupado com a defesa dos direitos humanos e do meio ambiente. Talvez por coincidência, nas últimas semanas, grandes empresas canadenses estão sendo criticadas por fazer exatamente o oposto.
Daniel Gatti
07 | 11 | 2023
Protestos no Panamá | Foto: Marcos Llorente – FUCLAT
First Quantum Minerals é uma transnacional sediada em Vancouver que explora depósitos de ouro, cobre, cobalto e outros minerais na África, América Latina, alguns países europeus, Austrália e Turquia. Sua atividade principal é principalmente o cobre, do qual a empresa obtém cerca de 80% de sua receita.
Uma mina de cobre localizada na província de Colón, no Panamá, está causando mais do que uma simples dor de cabeça para a empresa de mineração Minera Panamá, subsidiária da First Quantum.
O contrato, assinado à surdina pela empresa canadense com o governo de Laurentino Cortizo, está sendo rejeitado nas ruas por uma multidão de panamenhos que denunciam as condições abusivas impostas e os perigos que o projeto representa para as comunidades locais e o meio ambiente.
Outras empresas de mineração canadenses foram denunciadas perante as Nações Unidas por “má conduta corporativa” na implementação de cerca de 40 projetos em nove países da América Latina e do Caribe.
A denúncia foi apresentada por mais de 50 organizações sociais latino-americanas como parte de uma iniciativa que visa “desmascarar” o papel das empresas e do governo canadense no que tange às violações dos direitos humanos e do meio ambiente nesses países, de acordo com a Amazon Watch, que liderou a iniciativa.
A ação menciona 16 empresas de mineração canadenses e também bancos desse mesmo país, que atuam como financiadores dos 37 projetos, bem como o governo do Canadá, que promove uma política de “diplomacia econômica” que inclui o apoio aos planos das corporações.
Um dos relatórios apresentados à ONU por estas organizações sociais e representantes de comunidades indígenas diz respeito à atuação das empresas transnacionais nos territórios amazônicos do Brasil, Colômbia, Equador e Peru.
Em todos esses quatro países, que representam 85% da Amazônia, a região com a maior biodiversidade do planeta, conforme o documento, as empresas de mineração canadenses estão desenvolvendo projetos que contribuem para a destruição das florestas tropicais, degradam recursos como a água e afetam os direitos sociais e econômicos de pelo menos 16 comunidades originárias.
“O caso da minha região, Volta Grande do Xingu”, disse Lorena Curuaia, vice-presidente da comunidade Iawá, perante as Nações Unidas, “é um claro exemplo dos impactos prejudiciais da mineração nos ecossistemas, nas comunidades indígenas e nos direitos humanos”.
“A empresa de mineração canadense Belo Sun” —acrescentou— “está buscando construir a maior mina de ouro a céu aberto ao lado da terceira maior represa hidrelétrica do mundo, que já afeta nossas terras e vidas há anos.”
Os requerentes estão solicitando que o Canadá seja obrigado a “aprovar uma Lei de Devida Diligência Ambiental e de Direitos Humanos integral e obrigatória, em conformidade com os padrões internacionais de direitos humanos”.
Uma nova frente aberta para um país que desempenhou nos últimos anos um papel significativo na crescente febre belicista que se espalha pelo Ocidente, francamente, pouco respeitosa com qualquer “princípio de direitos humanos” ou de proteção ambiental.