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7ª Marcha das Margaridas

A marcha da esperança

Chegamos a Brasília, após uma viagem demorada, para nos juntarmos a uma nova Marcha das Margaridas, a sétima. A expectativa era grande, assim como a emoção de poder participar.

Amalia Antúnez

21 | 08 | 2023


Foto: Amalia Antúnez

O Pavilhão de Exposições do Parque da Cidade, um espaço de 50.000 metros quadrados, é adaptado a cada quatro anos para receber milhares de mulheres de todos os cantos do Brasil e de outras partes do mundo.

A delegação do Comitê Latino-Americano de Mulheres da UITA (Clamu) composta por sete companheiras, contou também com a presença da Secretária-Geral da Internacional, Sue Longley.

Após os cumprimentos calorosos que sempre marcam os reencontros deste grupo de mulheres, nós nos dirigimos ao local do acampamento onde a maioria das pessoas que chegam para a marcha se hospedam.

Nos galpões do pavilhão de exposições, as pessoas montam suas barracas, enquanto outras estendem seus sacos de dormir e colchonetes no chão, ou penduram suas redes para dormirem.

A organização a cargo de nossa filiada CONTAG é simplesmente impressionante.

Há um setor onde há mesas e cadeiras para as refeições do dia oferecidas aos participantes, além de pontos de água espalhados por todo o evento, visto que o clima em Brasília nessa época é bastante seco, e estar bem hidratado para percorrer os seis quilômetros até o Planalto Central é fundamental.

Assombro, admiração, debates

Esta sétima edição da Marcha é a primeira para mim, e enquanto percorro as instalações, passo do assombro à admiração.

São milhares de mulheres de diversas etnias e de muitos lugares que nem sabíamos que existiam, ali reunidas por uma causa comum, assim como comum é a alegria desse encontro.

Durante a primeira jornada, ocorrem oficinas sobre os eixos temáticos da mobilização, intercaladas com espetáculos culturais e musicais.

Democracia participativa e soberania popular; participação política das mulheres; vida livre de violências; democratização do acesso à terra; defesa do meio ambiente; promoção da agroecologia, entre tantos outros temas, são debatidos entre as e os participantes.

Junto com Rose Castro, Viviana Córdoba, Laura Díaz, Silvina Scacheri, Marta Anariba, Jaqueline Leite e Sue Longley, chegamos ao Parque da Cidade para fazer nosso registro como convidadas e percorrer os mais variados cenários.

Ao cair da tarde, chegam os dirigentes organizadores da Marcha, com destaque para nossa companheira Mazé Morais, secretária de Mulheres da CONTAG e coordenadora do evento, acompanhadas por autoridades do governo, como as ministras da Cultura e da Mulher, para a abertura oficial da atividade.

Os vários dias de viagem de ônibus que a maioria enfrenta para chegar a Brasília —algumas levam até sete dias— não diminuem a euforia dessas mulheres que cantam, dançam e celebram fazer parte da maior mobilização de mulheres trabalhadoras da América Latina, e talvez do mundo inteiro.

No dia da marcha, elas se concentram bem cedo e partem em blocos regionais, cada um seguindo um grande caminhão que também serve como palco. Em cima do trio elétrico estão as dirigentes, motivando e coordenando a multidão.

A polícia organiza um cordão de segurança até que a marcha chegue à Esplanada dos Ministérios, ocupando toda a avenida.

Entre batucadas e recordações

Nós participamos da marcha no bloco internacional, onde encontramos companheiras da Europa, África e Ásia. Marchamos junto com elas por um trecho, mas, sendo boas latinas, a irresistível batucada da região Nordeste nos atraiu logo em seguida. Então, quase sem perceber, nos dirigimos para o outro bloco.

Percorro vários blocos para capturar em fotos a imensa diversidade que nos une, enchendo-me de orgulho por fazer parte, ainda que modestamente, desse mar de pessoas que fazem Brasília florescer aos olhos do mundo inteiro.

De chinelos de dedo, tênis ou descalças, algumas vestindo trajes típicos e outras usando camisetas de seus sindicatos e organizações, todas com chapéus ou bonés, avançam relembrando constantemente a luta de Margarida Maria Alves, a primeira mulher a presidir um sindicato de trabalhadores rurais, cruelmente assassinada por defender o direito à terra e ao trabalho digno no campo.

Cantando, chegamos à Esplanada, o sol começa a esquentar e a ansiedade da maioria se concentra na chegada do presidente Lula.

Marta, Rose, Viviana, Sue, Jaqueline e Laura, que participaram da edição anterior realizada em 2019, durante o governo ultradireitista de Jair Bolsonaro, enfatizam as diferenças entre aquela marcha e esta.

“É incrível pensar que há quatro anos estávamos aqui exigindo a liberdade do Lula, e hoje temos ele aqui com a gente», lembrou emocionada Marta.

“A Marcha das Margaridas de 2019 ocorreu em meio a um clima de tensão constante, com agressões verbais por parte da polícia e o receio de repressão. No entanto, hoje o sentimento é de alegria, emoção e liberdade”, afirmou Rose.

A multidão se aglomera, todos querem um lugar perto do palco, todos querem ouvir a resposta do governo às demandas propostas pela pauta das “Margaridas”, mas, acima de tudo, querem ouvir o seu presidente.


Foto: Amalia Antúnez
Recuperação de direitos

Mazé, quase sem voz e muito emocionada, lembra que neste governo estão sendo recuperados muitos dos direitos que lhes foram arrebatados pelo governo anterior.

São vários os oradores: dirigentes sindicais, senadores, senadoras e ministros. Sue, no palco com as demais autoridades, registra o momento, compartilhando depois com a gente: “Foi impressionante ouvir de onde eu estava a ovação das pessoas quando o presidente chegou”, observa.

Lula da Silva não as decepciona. Em seu discurso, no encerramento do evento, o presidente lista um por um todos os programas sociais que sua gestão retomará, dando destaque aos que têm relação direta com a agricultura e os trabalhadores e assalariados rurais, assim como àqueles programas relacionados com a reforma agrária e a demarcação das terras dos povos originários.

“Quero que saibam que em mim vocês não têm apenas um presidente, mas um companheiro que está aqui para ouvi-las. Não tenham medo de reivindicar seus direitos”, disse Lula enquanto a multidão aplaudia e agitava seus bonés em sinal de aprovação e gratidão.

Uma e todas

Cansadas, mas felizes, voltamos com o coração cheio de esperança. No caminho, encontramos outras companheiras do Clamu que vieram de suas respectivas cidades. A gente se abraçou e a nossa alma cresceu nessa hora.

Nós que estamos aqui lembramos de todas as companheiras do Clamu que quiseram participar e não puderam. Então, Laura nos lembra de que “quando está uma estão todas.”

Quanta verdade contida nessas palavras, que valem não só para o Clamu, mas para todas as mulheres do mundo, nossas antecessoras nas lutas que ainda hoje travamos.

Mulheres valentes que não hesitaram em lutar por seus direitos e, com eles, pelo direito de todos; por serem escutadas e terem defendido com amor e coragem a construção de um mundo mais justo, inclusivo e igualitário.

A todas as “Margaridas” do mundo, hoje e sempre, respeito, admiração e gratidão.


Foto: Amalia Antúnez