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JBS e a reafirmação de uma tradição

A maior e a pior

Em uma audiência pública realizada na Assembleia Legislativa de São Paulo (ALESP), sob responsabilidade da deputada Bebel Azevedo Noronha (PT), nossas organizações filiadas, a CNTA e a CONTAC-CUT, juntamente com representantes de sindicatos, federações e o Ministério Público do Trabalho (MPT), denunciaram com firmeza as práticas abusivas da transnacional da carne.

Amalia Antúnez

1 | 7 | 2025


Foto: FTIA

Durante o encontro, foram apresentadas graves acusações sobre as condições de trabalho nas unidades da JBS, empresa que sistematicamente evita negociar com os sindicatos, mantém relações trabalhistas autoritárias e permite práticas de assédio e perseguição a dirigentes sindicais.

Condições de trabalho insalubres

Os sindicatos apontaram a ausência de aumento real de salários, a supressão de adicionais de insalubridade e o ritmo frenético e desumano nas linhas de produção.

Na unidade da JBS em Forquilhinha, trabalhadores e trabalhadoras chegam a realizar 174 movimentos por minuto, 453% acima do limite adequado.

As entidades destacaram também o descumprimento da Norma Regulamentadora (NR36), que estabelece critérios básicos de saúde e segurança no trabalho em frigoríficos.

Essa omissão tem contribuído para o aumento de doenças ocupacionais, lesões por esforço repetitivo, fadiga crônica e depressão.

Também foi documentada a prática de subnotificação de acidentes e doenças relacionadas ao trabalho, ocultando assim a verdadeira dimensão dos danos à saúde dos trabalhadores.

A JBS, apesar de receber importantes benefícios fiscais e incentivos do Estado brasileiro, não retribui com condições de trabalho dignas nem respeita plenamente a legislação vigente.

O papel do MPT

O Ministério Público do Trabalho (MPT) teve uma participação destacada na audiência, apoiando as denúncias dos trabalhadores e confirmando a existência de irregularidades documentadas em diversas unidades da JBS.

O procurador Leomar Daroncho, do MPT, ressaltou o desprezo pela vida dos operários e operárias de muitas das grandes empresas do setor frigorífico, além da JBS, o que se traduz em alta acidentalidade e mortes no setor.

Além disso, o MPT valorizou o papel das organizações sindicais e sua atuação em espaços institucionais de denúncia e acompanhamento, como essa audiência, reforçando a necessidade de estabelecer mesas de diálogo tripartites com as empresas, as organizações sindicais e os órgãos estatais.

Demandas e compromissos

Durante a audiência, as entidades sindicais apresentaram moções para que sejam estabelecidas mesas permanentes de negociação.

Exigir o cumprimento rigoroso da NR36 e punir seu descumprimento; garantir que os benefícios fiscais recebidos pela empresa estejam condicionados à melhoria das condições de trabalho; criar um comitê de acompanhamento interinstitucional, com participação de organizações sindicais, do MPT e da Rel UITA, foram algumas de suas principais propostas.

As confederações anunciaram novas ações de visibilidade pública, denúncias internacionais e mobilizações, com o objetivo de reverter a situação e garantir condições dignas de trabalho em uma das principais empresas do agronegócio global.

A audiência pública na ALESP ratificou um quadro sistemático de violações dos direitos trabalhistas por parte da JBS e de outras grandes empresas do setor, que infelizmente não é novo, mas precisa ser enfrentado com urgência.


Foto: FTIA