Com Paulo Madeira
Na sexta-feira 5 de abril aconteceu em Serafina Correa (RS) o Seminário sobre trabalho escravo, o caso dos apanhadores de frango da indústria frigorífica. Sobre os desafios para o movimento sindical na prevenção e combate dessa prática criminosa, conversamos com Paulo Madeira, presidente da Federação de Trabalhadores nas Indústrias da Alimentação do Rio Grande do Sul (FTIA RS).
Gerardo Iglesias
10 | 4 | 2024
Paulo Madeira | Foto: Gerardo Iglesias
-Qual é a sua avaliação do Seminário?
-Foi muito positivo. Especialmente por termos compartilhado com os auditores fiscais do Ministério Público do Trabalho (MPT), pois são pessoas que conhecem muito nosso setor, com muito contato com o chão de fábrica, conhecem de perto a realidade da indústria e quando recebem alguma denúncia, sabem onde colocar o foco.
Da próxima vez, seria bom incluirmos também os procuradores fiscais do MPT, porque os relatórios apresentados no seminário mostram uma realidade preocupante, não apenas por existirem trabalhadores em condições de trabalho análogas à escravidão, mas também pelo reduzido número de auditores para fiscalizar essas práticas.
Um estado do tamanho do Rio Grande do Sul tem somente 120 auditores fiscais, isso é um absurdo!
-O número de trabalhadores e trabalhadoras resgatados de condições análogas à escravidão no Sul do Brasil vem aumentando significativamente.
-Por isso a importância de um encontro como esse. Em pleno 2024, ver esse tipo de situações é algo que não dá para entender.
Está acontecendo na colheita da maçã e da uva, nas plantações de arroz. Recentemente um grupo de trabalhadores foi resgatado de uma plantação de arroz no município de Rosário. Havia até um menor de idade vivendo em condições desumanas, dormindo no chão, sem banheiro, etc.
Muitos chegam de países limítrofes como a Argentina e o Uruguai, enganados por falsas promessas de altos salários.
Então, estamos vendo que falta também um trabalho de conscientização do pessoal, porque quando a esmola é demais o santo desconfia.
O seminário focou nos trabalhadores do apanhe de aves, mas as apresentações que vimos hoje mostram que há muitos funcionários de frigoríficos que também sofrem com situações escravizantes mesmo com a CLT na mão.
O fato de a reforma trabalhista de 2017 ter tirado o pagamento das horas in itinere, faz com tenhamos trabalhadores e trabalhadoras se deslocando em um trajeto de duas e até quatro horas para chegarem ao frigorífico, e as empresas não pagam esse tempo.
-É preciso os sindicatos tomarem uma posição e ação mais comprometida perante esses casos?
-Com certeza. Temos que ir além das audiências públicas, partir para a ação.
mas não resolvem tudo
Felizmente essas discussões faz com que haja mais fiscalizações. No ano passado, o Rio Grande do Sul bateu recorde de casos de resgate de trabalhadores em condições análogas à escravidão.
Mas imagina se o governo não tivesse mudado. Como seria? Ai o papel dos sindicatos seria fundamental para detectar e denunciar casos desse tipo.
O movimento sindical tem que começar a se mexer, não podemos esperar que o governo faça tudo, porque não vai poder.
Cabe a nós estarmos nessas instâncias também porque a direita, mais especificamente o bolsonarismo, está consolidado no Brasil. Os movimentos sociais e operários progressistas precisam ficar em estado de alerta.
Ficar ligado e sempre garantir os direitos da classe trabalhadora, não achar que porque o governo é nosso está tudo resolvido, não.
A luta é de todos os dias!