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A indústria frigorífica: uma fábrica de moer trabalhadores

Na segunda-feira, 16 de junho, por volta das 8h da manhã, ao final de um turno exaustivo em um frigorífico da multinacional JBS no Rio de Janeiro, um trabalhador sofreu um grave acidente.

Amalia Antúnez

18 | 6 | 2025


Foto: Gerardo Iglesias

Sua condição se agravou porque a empresa impediu que o médico de plantão emitisse um atestado de afastamento, sob o argumento de que ele seria realocado para uma função "menos agressiva", como se isso anulasse a necessidade de repouso e recuperação após o acidente.

Essa prática, absolutamente inaceitável, que viola a autonomia médica e os direitos fundamentais à saúde e à dignidade no trabalho, é comum, não apenas no Brasil.

Na quinta-feira passada, 12 de junho, em uma unidade da Marfrig no Uruguai, um trabalhador sofreu um acidente e foi encontrado por colegas inconsciente em uma poça de sangue ao lado de uma empilhadeira.

Ele foi levado ao hospital, onde posteriormente faleceu devido aos ferimentos. As circunstâncias do acidente ainda não foram esclarecidas, e a empresa não apenas manteve suas atividades como também não emitiu sequer uma nota de condolência à família.

No Brasil, de onde são originados os principais grupos econômicos que concentram a atividade de abate e processamento de carnes a nível global —JBS, Marfrig, BRF e Minerva— ocorrem acidentes graves e lesões diariamente.

Em abril deste ano, um jovem de 26 anos morreu esmagado por um elevador de carga em uma unidade da BRF em Nova Mutum, Mato Grosso.

A indústria frigorífica ocupa o quinto lugar em incidência de acidentes de trabalho no Brasil e, há mais de uma década, ocupa o primeiro lugar em lesões e doenças ocupacionais no Uruguai.

Milhares de trabalhadores do setor são vítimas todos os anos de acidentes perfeitamente evitáveis, caso houvesse melhores condições de segurança nas empresas e uma fiscalização mais rigorosa nos frigoríficos, conforme têm denunciado reiteradamente os sindicatos.

Precariedade e desprezo pelos trabalhadores

Outro dado alarmante no Brasil é que, na indústria frigorífica, ocorre um vazamento de amônia a cada 17 dias. Em 2024, já foram registrados mais de 15 casos, envolvendo centenas de trabalhadores que necessitam de atendimento médico, o que revela a precariedade nos investimentos em prevenção de acidentes, a falta de manutenção das instalações frigoríficas e o desprezo pelas condições de trabalho e pela vida dos funcionários, que ficam completamente desamparados.

Segundo o relatório anual do Observatório de Doenças Infecciosas no Trabalho (DIT) da Fundação Oswaldo Cruz, em 2023, os vazamentos de amônia no país aumentaram 100% em comparação com anos anteriores.

Essa situação vem sendo denunciada há muito tempo pela Rel UITA e seus sindicatos filiados, e embora existam normas que regulamentam as condições de trabalho nos países da região, a realidade mostra que elas continuam sendo insuficientes.

O lucro acima de tudo.