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Crônica do 8M

A indignação que se transforma
em movimento

As marchas de 8 de março são um dos compromissos inevitáveis para aquelas que acreditam e lutam para construir um mundo mais justo, menos violento e mais igualitário. A deste 2024 teve uma particularidade: novas companheiras dos sindicatos afiliados à Rel UITA no Uruguai se juntaram. Um processo lento, mas contínuo.

Amalia Antúnez

20 | 3 | 2024


Foto: Amalia Antúnez

Nós nos reunimos previamente na sede da Secretaria Regional em Montevidéu para confeccionar os cartazes que mais tarde levaríamos à marcha pela 18 de julho, a principal avenida da capital.

A primeira a chegar foi Angélica Badell, presidenta do Sindicato dos Trabalhadores do Frigorífico Durazno (Sifridur).

Também foi dela a ideia de se juntarem à marcha de Montevidéu como integrantes do Comitê Latino-Americano de Mulheres da UITA (Clamu).Angélica participa das reuniões virtuais e atividades presenciais do Clamu desde antes mesmo da Federação dos Trabalhadores da Indústria da Carne e Afins (FOICA), que reúne os sindicatos frigoríficos no Uruguai, se filiar à Internacional.

Entusiasta e ávida por aprender, ela é uma das companheiras mais comprometidas com o trabalho do Comitê, e está sempre disposta a viajar os 200 quilômetros que separam sua cidade, Durazno, de Montevidéu.Depois chegaram Laura Rebollo e Ingrid González, do Sindicato dos Trabalhadores do Frigorífico Carrasco (SITFRICA), que participam de todas as atividades e workshops promovidos pelo Clamu, desde que a FOICA se afiliou à UITA.

Logo depois, em 2023, juntou-se Sonia Muniz, do Sindicato dos Trabalhadores da Nestlé Uruguai, quando o Clamu realizou uma série de workshops no Uruguai. Desde o seu lugar de trabalho, Sonia tem mantido uma presença constante e ativa nas propostas do grupo.Por último, chegaram as companheiras da Associação Laboral do Pessoal do Estabelecimento Colonia (ALPEC), Verónica González e Natalia Gamboa.

Ambas se uniram durante as atividades dos 16 Dias de Ativismo de 2023, reunindo as trabalhadoras da indústria frigorífica em uma jornada de reflexão e memória no histórico prédio da FOICA, no Cerro, um bairro histórico de Montevidéu, com uma longa tradição operária.

Todas somos Argentina

Com os cartazes prontos e as bandeiras nas costas ou na cintura, partimos para nos juntar à caminhada, conscientes de que esta é uma data para reivindicar as lutas das trabalhadoras que nos antecederam e que a greve internacional das mulheres é uma forma de demonstrar a importância do trabalho feminino no mundo.

Este ano, o Clamu compartilhou a preocupação de todas as trabalhadoras latino-americanas pela situação social e política na Argentina, por isso marchamos com uma faixa solidária, sob a premissa de que “Nossa Pátria não está à venda”.

Durante o percurso, os grupos de WhatsApp foram inundados por imagens que chegavam de vários lugares: Guatemala, Honduras, Peru, Equador, Costa Rica, Colômbia, Argentina, tanto da capital Buenos Aires quanto de Córdoba, onde militam grandes e queridas companheiras do Clamu.

Suzalynn Zamora, do Sindicato dos Trabalhadores da Marfrig de Fray Bentos, Roxana Quinteiro, do Sindicato dos Trabalhadores da Calpryca e Trevilard de Las Piedras, Canelones, e Natalia Pesce, do Sindicato dos Trabalhadores do Frigorífico Casablanca, em Paysandú, participaram das mobilizações em suas respectivas localidades.

Estas mobilizações costumam ser muito emotivas, pois demonstram, entre outras coisas, que o movimento feminista, assim como o movimento operário, permanece vivo e solidário. O Dia 8 de março é uma data de convergência entre ambos os movimentos.

A sororidade que se torna uma maré

Também é emocionante ver o grande trabalho que as mulheres que compõem o Clamu vêm realizando.

Todas as organizações que fazem parte do Comitê aderiram à consigna de solidariedade com as trabalhadoras argentinas, todas participaram, da maneira que puderam, do lugar que puderam ou como foi possível.

Porque é isso que esse grupo de mulheres combativas tem: sororidade que se torna uma maré, união que se sente e se celebra e, acima de tudo, indignação que se transforma em movimento e avança.

Assim são essas mulheres do Clamu. Ainda que muitas vezes tentem detê-las, silenciá-las ou ignorá-las, avançam obstinadamente, cientes de que ninguém lhes dará nada se não lutarem e que na união reside sua verdadeira força.