Com Paulo Madeira
As enchentes registradas no Rio Grande do Sul teriam sido ainda mais trágicas sem a solidariedade manifestada por organizações de vários países da América Latina e de outros estados do Brasil, disse à Rel Paulo Madeira, presidente da Federação dos Trabalhadores nas Indústrias da Alimentação (FTIA-RS).
Gerardo Iglesias
13 | 8 | 2024
Paulo Madeira | Foto: Gerardo Iglesias
Paulo participou do Seminário sobre Saúde e Trabalho no setor de Alimentação da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Alimentação (CONTAC/CUT) e da Rel UITA, realizado nos dias 25 e 26 de julho em Chapecó.
Lá nos reencontramos e aproveitamos a ocasião para conversar sobre o que aconteceu durante aqueles meses em que tiveram que se mobilizar para ajudar as centenas de filiados que perderam quase tudo, alguns inclusive familiares.
—Como organizaram a solidariedade?
—A Federação se encarregou de identificar quem eram os mais afetados por meio dos diretores sindicais das bases nas cidades mais atingidas pelas águas.
Foi uma campanha que surgiu espontaneamente. Começamos a arrecadar e a verdade é que a solidariedade que chegou através da Rel UITA, do Panamá, Argentina e Uruguai, bem como de outros estados brasileiros como Paraná, Santa Catarina, Rio de Janeiro e Bahia, foi muito importante.
Em Lajeado, ajudamos quatro ou cinco famílias, em Encantado três, em São Sebastião do Caí, 16 e em Roca Sales, 15 famílias. Foram doados fogões, camas, guarda-roupas, colchões. Conseguimos, como se diz, aliviar um pouco a situação desses companheiros.
Na sede da FTIA centralizamos os materiais arrecadados. Há poucos dias, enviamos os últimos dois caminhões com roupas para doação.
Nosso auditório estava repleto de água mineral, colchões, travesseiros, cobertores. O pessoal do banco Cresol ganhou uma demanda judicial federal por um dinheiro público e doou esse valor, com o qual compramos muitas coisas.
—As autoridades estaduais e municipais estiveram à altura da situação?
—ENo primeiro momento, a situação nos superou a todos. Mas, quando as coisas começaram a se acalmar, a chuva parou e a água foi baixando, as autoridades acabaram complicando mais do que ajudando.
Foi muito bom ver como companheiros de outras organizações e de estados vizinhos chegavam para dar uma mão, seja para limpar os hospitais ou atender os afetados, mas foi desolador ver de perto tanta destruição.
Eu fiquei isolado por um tempo porque havia ido a Sarandi para um ato de 1º de Maio e fiquei preso por 10 dias. Quando conseguimos sair, tivemos que atravessar pontes a pé para poder chegar em casa. Foi um cenário de catástrofe total.
Por outro lado, as ações do governo federal, que foram muito bem-vindas, não estão sendo bem geridas, e houve pessoas que não conseguiram acessar o benefício monetário que lhes foi concedido, enquanto empresários se aproveitaram desses recursos.
De qualquer forma, o papel do governo federal na reconstrução do Rio Grande do Sul está sendo fundamental. Há cidades que precisarão ser realocadas, bairros inteiros que terão que ser mudados; é uma tarefa titânica e levará muito tempo.
—Parabéns pelo trabalho.
—Estendo os parabéns aos companheiros e companheiras dos sindicatos irmãos que fizeram doações.
Agradeço especialmente à Rel UITA, que não apenas doou recursos, mas também os geriu com seus sindicatos filiados para que chegassem até nós.
Aos companheiros da FUCLAT do Panamá, da FATAGA da Argentina e do STCC do Uruguai, agradeço especialmente.
Também agradeço à Regional, pelo que tem feito ao longo da história, especialmente ao abrir o debate sobre temas fundamentais para a classe trabalhadora.