"Na minha área de atuação, o Rio Grande do Sul, temos 32 frigoríficos com casos confirmados de Covid-19, mais de 5.000 trabalhadores e trabalhadoras contaminados e, além disso, 5 trabalhadores e 12 parentes próximos a eles faleceram", disse.
Conforme informou, a última notificação de morte por Covid-19 foi a de um trabalhador da JBS de Três Passos, na terça-feira, 23.
- Há denúncias de que trabalhadores que testaram positivo para Covid-19 ainda estão nas linhas de produção O que você sabe sobre isso?
-Houve um caso na unidade da JBS de Ipumirim, onde um auditor fiscal do trabalho constatou que um funcionário testado positivo continuou trabalhando por três dias na fábrica.
Eu não saberia dizer se há outros casos.
-O que você pode informar sobre os surtos no Paraná, também ligados à indústria frigorífica?
- Na verdade, houve um importante surto de contágios. Não só no oeste do Paraná, mas também no Rio Grande do Sul, oeste de Santa Catarina, Mato Grosso do Sul, Goiás e Rondônia, todos diretamente ligados à indústria de processamento de carne.
No caso do Paraná, estamos falando de uma avícola, a Avenorte, que pertence ao prefeito de Cianorte. O MPT iniciou uma ação civil pública que levou ao fechamento da empresa. Ontem, 25 de junho, houve uma audiência e se chegou ao acordo de reduzir a capacidade da empresa.
-O MPT mantém a defesa dos trabalhadores do setor em meio a essa crise...
-Sim, até porque o impacto social e na saúde pública, decorrentes da falta de medidas preventivas, é enorme.
Cito como exemplo o caso do município de Trindade, no Rio Grande do Sul, onde 68% dos contagiados pelo coronavírus são ou trabalhadores e trabalhadoras do frigorífico da JBS ou os seus parentes.
Se você analisar o mapa do avanço da pandemia, você pode ver claramente que acompanha os lugares onde a atividade da indústria frigorífica ocorre. Isso acontece em todo o país.
-Como você avalia a portaria interministerial referente às normas do setor durante a pandemia?
-É uma portaria que saiu em 18 de junho, partindo de três ministérios, Saúde, Economia e Agricultura. O MPT, ao ser consultado, deu o seu parecer sobre os pontos que deveriam ser contemplados para a prevenção à Covid-19 no setor.
Mas nenhuma das nossas propostas foi considerada, portanto rechaçamos a portaria.
Em comparação com a anterior, essa norma apresenta alguns avanços, mas se a compararmos com os acordos já assinados, ou com as normas técnicas estabelecidas para o controle e a prevenção da pandemia, é um completo retrocesso.
Se estivéssemos em março, no início da pandemia, uma norma como essa poderia ter sido aceita, mas agora, em pleno auge do contágio, não faz sentido algum, porque o que ela determina já foi aplicado e sem sucesso.
Entre as coisas que a portaria não prevê está o fato de não exigir das empresas que testem todos os seus trabalhadores, como condicionante para a retomada das atividades, tanto no setor como nos estabelecimentos, determinação bastante necessária.
- Desde o seu ponto de vista, como você vislumbra o futuro do setor frigorífico no curto prazo?
- Há várias empresas que estão se ajustando às normas de saúde, investindo seriamente na prevenção e proteção de seus trabalhadores e trabalhadoras, porém outras não estão fazendo nada seriamente, sendo as responsáveis pela situação atual e futura do setor.
São problemas que não se limitam à saúde, visto que se estendem à indústria como um todo, e que já vem se dando, por exemplo, com o bloqueio pela China de produtos de carne brasileira para exportação.
Serão os próprios empresários do setor que terão que pressionar os seus pares para cumprirem as normativas antes de que o mercado lhes dê as costas, afetando todo o setor. Talvez só assim tomarão as medidas necessárias.
-Quais empresas não fazem o investimento em prevenção? São as menores?
- Não, pelo contrário, as pequenas empresas são as primeiras em adotar as medidas. As que não veem necessidade em adotá-las são os grandes grupos como a JBS, uma empresa com a qual não conseguimos negociar nada, porque simplesmente se recusa a dialogar.
Em Montevidéu, Amalia Antúnez