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Golpistas de alto escalão à prisão

A grande novidade do final de ano brasileiro

Um plano de 2022 para assassinar o então presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, seu companheiro de chapa e atual vice-presidente Geraldo Alckmin, e o ministro do Supremo Tribunal Federal Alexander de Moraes levou à prisão vários oficiais militares e policiais de alto escalão.

Daniel Gatti

4 | 12 | 2024


Foto: Gerardo Iglesias

“Essa é a grande novidade do ocorrido, o fato de que oficiais de alto escalão foram presos. Até agora, eram pessoas de baixo escalão que iam para a prisão”, disse à Rel o nosso assessor Jair Krischke, presidente do Movimento Justiça e Direitos Humanos do Brasil (MJDH).

O plano foi idealizado por Mario Fernandes, um general da reserva muito próximo do ex-presidente ultradireitista Jair Bolsonaro, e o próprio ex-presidente estava ciente da trama e a aprovou, de acordo com a investigação policial.

Por enquanto, os detidos são cinco, quatro militares e um policial, mas os acusados são 37, incluindo o próprio Bolsonaro, um almirante e oito generais, incluindo o comandante de um quartel situado muito perto de Brasília.

O objetivo manifesto da conspiração, que envolvia os chamados "kid pretos", um corpo especial do exército, era dar um golpe de Estado e instalar no país um governo provisório formado por militares.

De acordo com a investigação, o plano golpista foi arquitetado dentro do próprio Palácio do Planalto e não se concretizou porque os comandantes do Exército e da Força Aérea se recusaram a aderir.

Dois anos de investigações

“Os militares e policiais implicados são todos indivíduos altamente treinados, muitos deles com experiência na Minustah”, a antiga missão de paz da ONU no Haiti, “uma verdadeira força de ocupação” no empobrecido país caribenho, destaca Jair.

A trama, da qual já existiam indícios dispersos, começou a ser desvendada a partir das revelações de um ex ajudante de campo de Bolsonaro, o tenente-coronel Mauro Cid, que falou com os investigadores por meio de um acordo de “delação premiada” que lhe garantiria redução de pena.

Dois anos foram necessários para a Polícia Federal montar um panorama completo da situação.

Cid disse muitas coisas, mas muitas outras ele omitiu, segundo uma perícia em seu celular, determinada pela justiça, que pode colocar em risco o acordo que o beneficiou.

O plano desbaratado agora não é o primeiro descoberto no Brasil nos últimos anos para instaurar uma ditadura (basta citar a tentativa inspirada pelo próprio Bolsonaro para impedir a posse de Lula no início de 2023, cuja investigação está por concluir), nem, claro, é o primeiro com objetivos semelhantes nesta região do planeta.

Basta com um

Mas o número de envolvidos, acusados de tentativa de golpe de Estado, abolição do Estado de direito democrático e associação criminosa, é muito elevado e o caso atinge diretamente Bolsonaro.

“Os detalhes são muito impressionantes. A forma como planejavam assassinar Lula, Alckmin e De Moraes, por exemplo”, por envenenamento ou atentados com explosivos, diz Krischke.

O presidente do MJDH destacou especialmente a figura de Alexander de Moraes.

“Um homem muito interessante. Tem uma sólida formação jurídica e, acima de tudo, muita coragem, porque se meteu em causas muito pesadas”, incluindo uma contra o bilionário sul-africano-americano Elon Musk, proprietário da rede social X.

“Apesar de sua atuação ter transformado sua vida (vive separado de sua família, cercado por seguranças da polícia militar de São Paulo), De Moraes continua se metendo em questões pesadas”, diz admirado Jair.

“Sempre disse que não era necessário prender todos os militares para que o castelo de cartas que eles construíram caísse. Bastava um. O resto falaria, porque morrem de medo. O que está acontecendo agora prova isso”.