No final de março, por exemplo, o Congresso aprovou uma lei que amplia a terceirização a todas as áreas dentro das empresas, promovendo uma ainda maior precarização no trabalho.
A Rel conversou com Rosecleia Castro, dirigente do Sindicato dos Trabalhadores da Alimentação de Campinas (SITAC) e vice-presidenta do Comitê Executivo Latino-Americano da UITA, sobre o atual contexto do Brasil.
Rosecleia lutou durante dez anos para acabar com a subcontratação na linha de produção da transnacional PepsiCo no município de Campinas (São Paulo), conquista consolidada em 2016. Porém agora, num canetaço, foram destruídos anos de luta por melhores condições de trabalho.
“Por nossa experiência na fábrica da PepsiCo posso garantir que não há terceirização que seja boa. De fato, acredito que a terceirização é uma forma de escravidão moderna. Na época da escravidão os trabalhadores eram comprados, agora com a terceirização são alugados”, lamenta.
A dirigente conta que, quando o Congresso aprovou no dia 22 de março esta lei sobre terceirização, os trabalhadores receberam uma punhalada pelas costas.
“Nós lutamos durante dez anos para este sistema de contratação não ser usado, e da noite pro dia, em um minuto, todo o nosso esforço foi por água abaixo. Quando são os trabalhadores e as trabalhadoras que lutam por alguma coisa, isso vai demorar anos, mas quando é o capital, aí é rapidinho”, disse ela.
De acordo com Rosecleia, um dos aspectos mais preocupantes desta ampliação irrestrita das terceirizações tem que ver com a saúde e a segurança dos trabalhadores e das trabalhadoras.
“Em minhas funções como coordenadora da ATRA, uma associação que se ocupa, entre outras coisas, das vítimas de acidentes de trabalho e de doenças profissionais, posso comprovar que diariamente os mais afetados pelos acidentes de trabalho são os terceirizados”.
De dez trabalhadores que sofrem acidentes nos locais de trabalho, oito são subcontratados, informa a dirigente.
“As trabalhadoras e os trabalhadores terceirizados não contam com prestadoras de saúde e sua situação já é terrível, mas com esta nova lei, nem sei realmente onde vamos parar e nem como vamos terminar”, destaca.
Com as reformas propostas por este governo, as trabalhadoras e os trabalhadores terceirizados irão direto para o fundo do poço.
Dia 24 de maio passado, todas as centrais sindicais do país convocaram a população para ocuparem a capital do país como forma de protesto contra as reformas do Trabalho e da Previdência Social.
A dirigente participou do movimento Ocupa Brasília que, segundo ela, marca um antes e um depois no cenário da luta sindical.
“Tenho certeza que o governo não esperava tamanha mobilização, marcada pela unidade dos trabalhadores e das trabalhadoras deste país, e que além disso contou com o apoio e a difusão internacional da Rel-UITA”, destacou.
O movimento, convocado semanas antes do vazamento dos áudios e vídeos envolvendo o atual presidente Michel Temer no pagamento e recebimento de propinas, também era pelas Diretas Já e pelo Fora Temer.
“Não vamos permitir que os trabalhadores e as trabalhadoras paguem a conta. Até porque a desculpa usada para imporem a reforma da Previdência Social é falsa, pois não são os trabalhadores, mas sim as grandes empresas que mantêm dívidas milionárias com o INSS”.
“Por outro lado – informa a dirigente – a situação do país é de total instabilidade. Ninguém sabe o que vai acontecer no Brasil, e isto está prejudicando muito o processo de negociações salariais. Cada nova investigação revela algum tipo de corrupção vindo de alguma megaempresa. É um descaro total, estancando o país e gerando retrocesso e pobreza”.
“Se a situação já é complicada para o conjunto da classe operária, imagine para as mulheres. Nós já sofremos diversos tipos de discriminação e violência, ganhamos menos, etc. Com as reformas, principalmente com a da Previdência Social, nós mulheres trabalhadoras seremos as mais prejudicadas”, ressaltou Rosecleia.
De acordo com a dirigente, as novas regras para as mulheres receberem uma aposentadoria integral são cruéis.
“Se esta reforma for aprovada como estão propondo, será a pior coisa para nós mulheres. Seremos obrigadas a trabalhar até os 62 anos, com 25 anos de contribuição para podemos nos aposentar. Ou seja, não consideraram que muitas vezes as mulheres cumprem uma triple jornada de trabalho”.
Com relação aos planos de luta, a sindicalista informa que as organizações continuarão mobilizando os trabalhadores e as trabalhadoras, explicando os impactos nefastos destas reformas.
“Todos os dias fazemos palestras informativas. É preciso manter o movimento ativo, para estas reformas não serem levadas a cabo”, finalizou.