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Com Jair Krischke
Pandemia Econômica, Social e Ambiental
A bolsa e a vida
Como todos os anos, o Movimento de Justiça e Direitos Humanos do Brasil (MJDH) faz uma convocatória, juntamente com organizações fraternas, entre as quais a Rel UITA, para o Prêmio de Direitos Humanos de Jornalismo.
Amalia Antúnez
Imagem: Ares - Cartón Club
Na 38ª edição deste emblemático prêmio, o documentário A Bolsa ou a Vida, do prestigiado cineasta Silvio Tendler, venceu na categoria e, também, ganhou o prêmio especial Pandemia Econômica, Social e Ambiental.
Sobre o impacto social, econômico e ambiental que o Covid-19 provocou, abordado no filme, falamos com Jair Krischke, presidente do MJDH e assessor da Rel UITA.
“A Bolsa ou a Vida mostra o cenário terrível que a pandemia nos deixou, que aliás não é muito diferente do anterior. O que a pandemia fez foi aprofundá-lo. Os mais ricos se tornaram mais ricos e os mais pobres ainda mais miseráveis”, lamenta e enfatiza Jair.
Para o ativista, o cenário pós-pandemia trouxe consigo uma série de alterações vinculadas aos direitos fundamentais dos indivíduos, principalmente no que diz respeito às relações trabalhistas.
“Devido à pandemia, um grande número de empresas passou a exigir o trabalho remoto em casa, sem haver qualquer tipo de legislação trabalhista, acentuando, com isso, a exploração dos trabalhadores e das trabalhadoras”, destaca.
Jair avalia que o novo modelo de trabalho é muito semelhante ao do século XIV, isto é, condições de semi ou total escravidão.
“A diferença é que agora o trabalho é pago, mas sem garantia nenhuma. No Brasil já vínhamos mal, com uma série de reformas que precarizavam as relações de trabalho, contando com uma população de 14 milhões de desocupados. A pandemia foi o xeque-mate”, analisa.
Segundo ele, a crise sanitária aprofundou ainda mais as desigualdades impostas pelo atual modelo de produção, aumentando o desemprego. Por outro lado, os trabalhadores que mantinham seus empregos não exigiam seus justos aumentos salariais por medo de perderem o trabalho.
“A inflação aqui chegou a dois dígitos (próximo de 12%), o que levou a uma perda do salário real para quem conseguiu manter seus empregos em meio à crise e, por outro lado, houve um aumento exponencial do trabalho informal, um setor que carece de qualquer tipo de garantia”, salienta.
Jair pondera que no Brasil a situação é um pouco pior do que em outros países da região já que o governo federal nega a pandemia e consequentemente não estabeleceu nenhum tipo de política pública que busque minimizar seus impactos sociais.
“O filme do Silvio (Tendler) mostra justamente esse cenário, onde há um Estado máximo para os ricos e um Estado mínimo para os pobres. O título é muito bom: A Bolsa ou a Vida, mas na verdade seria mais fiel dizer A bolsa e a Vida, porque o sistema está ficando com ambas”, ressalta.
Tendler entrevistou 74 personalidades nacionais e internacionais de diferentes áreas e também pessoas do povo para fazer o documentário, incluindo entre eles o bispo Mauro Morelli, figura reconhecida por seu compromisso com as questões sociais.
Jair fez questão de citar uma frase dita por Monsenhor Morelli no documentário para encerrar nossa entrevista: “Estamos nos tornando seres indesejáveis. O seio da mãe terra, que é lugar de vida, converteu-se nas entranhas geradoras de morte”.
Será?
Para ver o documentário clique AQUÍ