Brasil | SINDICATOS | FRIGORÍFICOS

BRF estreia corneta da produtividade

Sinfonia da exploração

Recentemente, tivemos notícias de que a BRF foi condenada devido ao fato de uma gestante ter sido impedida de sair da linha de produção, apesar de pedir atendimento por fortes dores.

Wagner do Nascimento*
OBAgro - Rel UITA

7 | 7 | 2025


Foto: Divulgação

Sem receber qualquer socorro, a trabalhadora entrou em trabalho de parto na porta do frigorífico em Lucas do Rio Verde (MT), onde deu à luz. As duas recém-nascidas morreram logo em seguida.

Agora, na BRF de Carambeí, temos uma novidade recém-instalada: a “corneta da produtividade”. Instalada para inibir paradas e aumentar o ritmo por parte dos trabalhadores na linha de produção, a corneta toca muito alto. “Parece turbina de avião”, reclama um trabalhador que foi até o sindicato.

Risco à saúde comprovado

Perguntado a respeito, o médico do trabalho Roberto Ruiz, que recentemente defendeu seu doutorado sobre o tema de doenças do trabalho em frigoríficos, explica “o nível de ruído de uma turbina de avião pode passar dos 130 decibéis, e isto é muito lesivo a saúde dos trabalhadores”.

Ruiz complementa: “o fato é que a instalação deste dispositivo (a corneta) pode piorar muito o ambiente de trabalho, e prejudicar não apenas a audição dos trabalhadores, mas pode aumentar o estresse no trabalho, contribuindo para a ocorrência de diversas enfermidades, desde patologias psíquicas, até hipertensão arterial, conforme publicações científicas que já conhecemos há algum tempo”.

E ainda lembra “dependendo do nível de ruído da corneta, a empresa ainda teria que pagar a insalubridade por ruído ao pessoal que trabalha no setor”.

Antes da instalação da corneta, haviam de 10 a 1 5 paradas na produção por motivos diversos além das micro pausas na jornada atreladas a NR36, o que contribui para manutenção da saúde física e mental das pessoas.

Após a instalação da “corneta”, isso diminuiu para 4, pois mesmo precisando os trabalhadores e trabalhadoras evitam parar a linha para não ter que ouvir o som de navio no setor. Devemos lembrar que só a NR 36, garante uma hora de pausas (distribuídas em até 6 pausas) na jornada mais extensa.

O sindicato vai agir

O Sindicato local (SINTAC) informa ainda que um alto dirigente da empresa em Carambeí disse publicamente: “Quero que esse barulho seja o mais alto possível, dessa forma a produção aumenta!”.

Dirigentes sindicais ponderam: será que as gerências da empresa iam achar bacana colocar a corneta nos escritórios deles, para tocar assim que eles parassem de trabalhar por um minuto?

O SINTAC irá procurar a gestão da empresa local ou nacional o mais breve, para exigir a retirada imediata do aparelho de produtividade inventado em Carambeí, ou irá procurar a Justiça e entidades nacionais e internacionais para corrigir tal situação, no caso de resistência da empresa local.

O vídeo a seguir gravou uma corneta em um ambiente de produção fabril. E detalhe: o vídeo foi gravado a uma certa distância de onde ela foi instalada.
 

*Presidente do SINTAC, Diretor da FTIA/PR e historiador.