Com Gerardo Iglesias
Relatório do secretário regional sobre a situação na América Latina
Giorgio Trucchi
26 | 9 | 2024
Gerardo Iglesias | Foto: Giorgio Trucchi
Durante a reunião anual do Comitê do Grupo Profissional de Trabalhadores e Trabalhadoras da Agricultura (GPTA) da UITA, realizada em Bogotá, Colômbia, o secretário regional Gerardo Iglesias apresentou um relatório sobre a situação vivida na América Latina.
A seguir, transmitimos as partes mais relevantes desse relatório.
“Por muitos anos, a Colômbia tem sido um dos países mais violentos da região para os sindicalistas. Em 1986, na Plaza de Bolívar de Bogotá, Luis Alejandro Pedraza leu o manifesto que fundava a Central Unitária de Trabalhadores. Naquele momento, a OIT registrava que, nos últimos dez anos, haviam sido assassinados 2.740 dirigentes e ativistas sindicais.
Era uma caça ao ar livre e a UITA esteve presente nesse ato fundacional e, posteriormente, junto com a CUT e seus sindicatos filiados (...).
Não tem sido fácil na Colômbia, também não tem sido fácil para um sindicato como o SINTRAINAGRO com suas centenas de vítimas. Em 1995, a UITA, sem que o SINTRAINAGRO fosse filiado à nossa Internacional, realizou uma das maiores campanhas de solidariedade das últimas décadas. Fizemos isso para retirar o manto de silêncio e estigmatização que havia sobre essa organização (…).
Hoje estamos novamente na Colômbia, onde a violência continua, não na mesma dimensão dos anos 90, mas com ventos e rumores de golpe neste país (…).
Somos uma organização que se destaca no mundo por promover e defender os direitos humanos. É terrível o que acontece na América Latina, onde, quando acreditamos que estamos entrando em processos democráticos, de transformações, começa a soprar o vento autoritário e as ameaças dos poderes fáticos.
Em Honduras, também se fala que pode haver um golpe de estado contra a presidenta Xiomara Castro. Isso depois de o país ter sofrido doze anos de uma horrível narcoditadura. Temos a Argentina, com um governo ultra-neoliberal e neofascista que imita muito bem as nefastas reformas trabalhistas realizadas na Espanha e no Brasil.
Uma situação que devemos enfrentar, porque o governo de Milei e sua oligarquia vão, especialmente, contra o movimento sindical argentino e não podemos permitir isso (…).
A tudo isso devemos acrescentar a violência do agronegócio, do extrativismo, da concentração e estrangeirização da terra. O grande capital transnacional, conivente com o poder fático nacional, chega à América Latina para se apoderar da terra, dos territórios e dos bens comuns, como a água. Os incêndios no Brasil e na Bolívia foram claramente programados para o avanço da fronteira agropecuária (…).
É isso que estamos enfrentando na América Latina, a região do mundo onde as pessoas defensoras da terra e dos bens comuns sofrem a maior violência: 166 defensores foram assassinados em 2023. Como Juan López, assassinado a tiros em Honduras por defender a água contra a violência de um empreendimento minerador (…).
Estão nos envenenando. A nova variante de soja transgênica da Bayer, aprovada no Brasil, utilizará pela primeira vez no mundo um coquetel de quatro agrotóxicos misturados. Em um país onde o glifosato já é encontrado em 66 por cento das amostras dos rios. Já há dados que demonstram que o veneno foi detectado até no leite materno.
Enquanto na Europa se autoriza um limite máximo para o glifosato ou qualquer outra substância de até 0,1 miligramas por litro de resíduos, no Brasil essa quantidade é 5 mil vezes maior (…).
Também enfrentamos a expansão do dendê, como por exemplo aqui na Colômbia, onde o SINTRAINAGRO tem a mais importante e avançada convenção coletiva no setor da banana no mundo. Na região de Urabá, estima-se que cerca de 8 mil hectares de banana poderiam ser substituídos pela palma de dendê, com a consequente perda de empregos e aumento da contaminação por agrotóxicos (…).
Essa é a situação que estamos enfrentando. Difícil, complicadíssima. Mas por que tanta violência? Por que continuam nos matando? Não é apenas pela terra e pelos recursos. É que continuamos lutando teimosamente, acreditando que um mundo melhor é possível (…).
Mas, para continuar fazendo isso, precisamos de organizações sindicais fortes e combativas. A história da UITA é rica em ações de solidariedade e apoio aos movimentos democráticos e populares. Nesse cenário, nesse caminho, sempre vão nos encontrar”.