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Três anos após o golpe de Estado

Mais do que nunca, solidariedade e luta

Nesta quinta-feira, 1 de fevereiro de 2024, completam-se três anos do golpe militar em Myanmar, que resultou em uma repressão brutal, com milhares de mortos e detidos, incluindo muitos sindicalistas. Desde o início, a Regional Latino-Americana da UITA tem estado a serviço dos companheiros birmaneses e da regional Ásia-Pacífico da Internacional.

Gerardo Iglesias

1 | 2 | 2024


Imagem: UITA Asia-Pacífico

“Apesar dos esforços internacionais, o governo militar do Conselho de Administração do Estado (CAE) permanece no poder e não cessou em sua brutal repressão e violência”, escreve o secretário regional da Ásia-Pacífico da UITA, Hidayat Greenfield.

A repressão ao movimento democrático desencadeada após o golpe que colocou o general Min Aung Hlaing no comando resultou em 3.353 pessoas assassinadas, incluindo 547 crianças.

Até o momento, contabilizam-se cerca de 25.915 mulheres e homens detidos por sua participação no Movimento de Desobediência Civil (MDC), incluindo centenas de sindicalistas e ativistas trabalhistas.

Do total de detidos, informa Hidayat, 19.977 permanecem atrás das grades, incluindo 710 crianças.

Em sua brutal repressão ao movimento democrático, o CAE matou 4.453 civis, incluindo 547 crianças.

“As Forças Populares de Defesa (FDP) do Governo de Unidade Nacional (GUN), juntamente com as forças armadas aliadas de grupos étnicos que combatem o CAE, continuam libertando centenas de vilarejos, tirando o poder dos militares”, destaca.

Esse avanço levou a questionamentos até mesmo dentro das fileiras do próprio governo.

Avanços democráticos e deserções

“O controle dos militares enfraqueceu devido à deserção em massa de soldados. Diante de uma possível derrota, o governo militar do CAE está cada vez mais desesperado e aumentou seus bombardeios aéreos em vilarejos”, afirma nosso companheiro.

Mais de 2,5 milhões de civis foram deslocados devido a disparos de artilharia e ataques aéreos, incluindo centenas de membros da Federação de Agricultores e Produtores Rurais de Myanmar e suas famílias.

“Só poderemos alcançar a paz e restaurar a democracia através do isolamento total e definitivo do governo do CAE e do reconhecimento internacional pleno do GUN”, destaca Hidayat.

A XVI Conferência Regional Latino-Americana da UITA, realizada no ano passado em São Paulo, adotou uma resolução de apoio "ao povo de Myanmar em sua luta pela democracia", e todos os sindicatos filiados à Regional enviaram mensagens de solidariedade aos companheiros birmaneses.

“Qual opção a ONU tem agora? Reconhecer o governo democrático birmanês já”, dizia o slogan da campanha.

Tão distantes e tão semelhantes

O texto da resolução da Conferência de São Paulo lembrava que os golpistas birmaneses justificaram sua ação como "o meio necessário para estabelecer o caminho para uma democracia genuína e multipartidária", argumentos semelhantes aos ouvidos tantas vezes na boca dos militares golpistas da América Latina.

“Não esquecemos as manifestações de solidariedade democrática internacional recebidas de outros povos, alguns geograficamente distantes, mas tão próximos de nossas lutas naquela época escura”, acrescentava.

E concluía que esses gestos “não são agradecidos, devem ser retribuídos àqueles que hoje enfrentam contextos autoritários”.

A resolução citava nesse sentido uma frase de Jair Krischke, presidente do Movimento de Justiça e Direitos Humanos do Brasil e assessor da Rel UITA: “os direitos humanos devem ser defendidos a todo momento e em todos os lugares”.