Novos casos de vazamento de amônia em frigoríficos brasileiros
Durante o primeiro semestre deste ano, houve no Brasil um número sem precedentes de acidentes com vazamentos de amônia em frigoríficos. O número continua aumentando, apesar da atuação do Ministério Público do Trabalho e das denúncias das organizações sindicais.
Amalia Antúnez – Gerardo Iglesias
04 | 10 | 2023
Foto: Radar News
Na terça-feira, dia 26 de setembro, em Morrinhos, estado de Goiás, 20 trabalhadores e trabalhadoras foram hospitalizados com sintomas de intoxicação por gás de amônia, após ocorrer um vazamento no frigorífico da empresa Qualitti Alimentos.
Quinze dias atrás, no estado da Bahia, ocorreu um acidente semelhante no frigorífico avícola Naturaves, no município de Eunápolis, afetando 11 funcionários que precisaram ser resgatados por equipes de bombeiros e transportados para um hospital próximo.
As fugas de amônia são frequentes em unidades frigoríficas em todo o mundo e quase sempre deixam feridos ou mortes devido à sua alta periculosidade.
“Nas instalações da Tyson Foods, um dos maiores processadores de carne dos Estados Unidos, foram registrados pelo menos 47 vazamentos de amônia entre 2012 e 2021, deixando 150 feridos” (CNN).
No Brasil, uma recente pesquisa revelou um número significativo de casos (mais de 15) envolvendo centenas de trabalhadores que precisaram de atendimento médico, expondo a precariedade nos investimentos em prevenção de acidentes e a falta de manutenção nas instalações frigoríficas.
O gás amoníaco (NH3) é um gás tóxico agudo e corrosivo (capaz de destruir gradualmente qualquer material inorgânico ou tecido orgânico). “É a opção preferida (mais econômica) para a refrigeração industrial, o congelamento instantâneo e o armazenamento em massa, devido à sua capacidade superior de resfriamento e de baixo custo', afirmou o especialista D. Wagner.
Além disso, trata-se de um gás solúvel (que pode se dissolver ao ser misturado com um líquido).
Setenta por cento do organismo humano é composto por água. Portanto, em altas concentrações ou em exposições prolongadas, a amônia pode ter efeitos gravíssimos, causando queimaduras na pele, nos olhos e nas mucosas em geral, e o que é mais grave, pode afetar o sistema respiratório", ressaltou a professora espanhola María del Carmen Terán.
A NR-36, norma que regula as condições de saúde e segurança na indústria frigorífica, defendida pelo movimento sindical do setor e amplamente criticada durante o governo de Jair Bolsonaro, exige a instalação de sistemas de proteção contra vazamentos de amônia, devidamente dimensionados e em perfeito estado de funcionamento.
Em seu capítulo 36.9.3 sobre agentes químicos, a NR-36 enumera 10 pontos que são imprescindíveis para a prevenção de acidentes desse tipo:
1. Manutenção das concentrações ambientais nos níveis mais baixos
possíveis e sempre abaixo do nível de ação, por meio de uma ventilação
adequada;
2. Implementação de mecanismos para a detecção precoce de vazamentos
em pontos críticos, juntamente com um sistema de alarme;
3. Instalação do painel de controle do sistema de refrigeração;
4. Instalação de chuveiros de emergência e estações de lavagem de olhos;
5. Manutenção das saídas de emergência desobstruídas e devidamente
sinalizadas;
6. Manutenção de sistemas adequados de prevenção e extinção de
incêndios, em perfeito estado de funcionamento;
7. Instalação de chuveiros automáticos ou sprinklers sobre os grandes
recipientes de amônia para mantê-los resfriados em caso de incêndio,
conforme análise de risco
8. Manutenção de instalações elétricas à prova de explosões próximas aos
tanques.
9. Sinalização e identificação de componentes, incluindo tubulações
10. Apenas permanecem na sala de máquinas as pessoas autorizadas a
realizar a inspeção, manutenção ou operação dos equipamentos.
Os sistemas de refrigeração, que utilizam amônia, devem ser operados por trabalhadores qualificados. A presença de rachaduras em válvulas e tubulações, resultantes da falta de manutenção, pode levar a acidentes graves.
As organizações sindicais têm a árdua tarefa de monitorar e denunciar as empresas que não cumprem com os sistemas de segurança, que estão mais preocupadas com o lucro do que com a segurança e o bem-estar de seus trabalhadores e trabalhadoras.
Nesse cenário, vazamentos de amônia, assim como outros acidentes que comprometem a saúde e a vida dos trabalhadores e das trabalhadoras são considerados apenas danos colaterais.