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Contaminação por microplásticos

Os oceanos transformados
em lixões

A contaminação gerada pelos microplásticos, partículas imperceptíveis mas altamente nocivas, cresce descontroladamente no fundo dos mares e no alto das montanhas.

Daniel Gatti

27 | 02 | 2023


Foto: Gerardo Iglesias

Nos últimos anos, 300 milhões de toneladas anuais de plástico foram produzidas. Se essa orgia do use e jogue fora continuar, a ONU prevê que em 2050 haverá 12 bilhões de toneladas de lixo plástico nos rios, mares e no meio ambiente do mundo inteiro.

Pesquisas universitárias, divulgadas pela publicação digital Ecoportal informam que “no fundo dos mares a quantidade de microplásticos triplicou só nas últimas duas décadas”.

O fenômeno tende a crescer, apesar de que de tanto em tanto são lançadas alertas para se deixar de consumir plásticos descartáveis ou surgem publicidades com fotos chocantes de animais marinhos com seus estômagos repletos de lixo plástico, como talheres ou copos descartáveis.

O leito marinho, no fundo do mar, é o lugar de descanso final dos microplásticos, que primeiro flutuam na superfície do mar e depois vão sendo arrastados para o fundo do mar, onde vão se acumulando e se sedimentando”, informa o Ecoportal, dando voz a uma pesquisa em parceria com a Universidade Autônoma de Barcelona e com o Departamento do Meio Ambiente da Universidade de Aalborg, na Dinamarca.

O estudo, com base na análise de sedimentos obtidos no Mediterrâneo, sustenta que o aumento da contaminação é proporcional ao crescimento da produção mundial de plásticos, que entre 1995 a 2016 triplicou.

Os efeitos disso não são para nada banais: as substâncias químicas liberadas podem contaminar a água que bebemos e os nossos alimentos. 

“A partir de 1980, mais intensamente nas últimas duas décadas, percebe-se o aumento da acumulação de partículas de polietileno oriundas de garrafas, embalagens e plásticos presentes nos alimentos, assim como o poliéster oriundo das fibras sintéticas presentes nos tecidos das roupas”, disse Michael Grelaud, um dos autores da pesquisa.

Outro estudo, da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, afirma que as maiores concentrações de microplásticos estão nos oceanos a uma altura de 50 a 250 metros de profundidade, exatamente onde espécies como as baleias costumam se alimentar de krill, passando elas a serem então fortes consumidoras (infelizmente) de lixo plástico.

As baleias, os habitantes da terra de maior tamanho, chegam a engolir até 10 milhões de lixo plástico por dia, informa o Ecoportal.

Em todos os lados

Estas partículas de um tamanho inferior a cinco milímetros, derivadas de materiais de uso industrial ou doméstico, não estão presentes apenas no mar.

Um trabalho da Universidade de Auckland, da Nova Zelândia, descobriu que “74 toneladas métricas de microplásticos caem da atmosfera todos os anos em cima desta cidade”, contaminando o ar que respiram. É como se mais de 3 milhões de garrafas de plásticos caíssem do céu, em micropedacinhos. Um pesadelo.

De acordo com a ONU, só 9 por cento dos 9 bilhões de toneladas de plástico produzidas na história foram recicladas. Anualmente, 8 milhões de toneladas métricas de plástico, o equivalente a um caminhão de lixo por minuto, são jogadas no meio ambiente.

Diante desta dramática realidade, pouco se tem feito na terra para evitar que os microplásticos terminem no fundo do mar, cheguem às montanhas ou contaminem o ar que respiramos.

Outros estudos revelam que, se a produção de plásticos continuar crescendo, prevê-se que para cada 3 toneladas de peixes no mar haverá uma tonelada de lixo plástico. Isto é, haverá mais plásticos que peixes, proporcionalmente falando.

As águas e os oceanos terão se convertido – aliás, de certa forma já são – o lixão do mundo global capitalista.