39ª edição do Prêmio Direitos Humanos de Jornalismo
Belela Herrera é a grande homenageada
O Prêmio de Direitos Humanos e Jornalismo é promovido pelo Movimento de Justiça e Direitos Humanos (MJDH), em colaboração com a Ordem dos Advogados do Brasil – RS (OAB-RS) e com o apoio da Rel UITA e de outras organizações. Na quarta-feira passada, dia 15, o prêmio foi para a uruguaia Belela Herrera, importante defensora dos direitos humanos.
Amalia Antúnez
24 | 02 | 2023
Belela Herrera | Foto: Daniel García
María Bernabela Herrera, mais conhecida como Belela, nos recebeu em sua casa em Montevidéu, onde lhe entregamos, em reconhecimento à sua trajetória, o troféu da 39ª edição do Prêmio de Direitos Humanos e Jornalismo.
Sempre amável e com sua típica calidez intensificada pelos seus mais de 90 anos de idade, ela recebeu o troféu com visível emoção e agradecimento.
Seu trabalho na área dos direitos humanos começou em 1973, quando morava no Chile.
Anos atrás, quando o Correio Uruguaio lançou um selo em sua homenagem, seu amigo e companheiro de lutas Jair Krischke, presidente do MJDH, lembrava: “Quando derrocam Salvador Allende e a ditadura chilena se torna virulenta, Belela, que então vivia em Santiago, porque seu marido era embaixador uruguaio, por iniciativa própria começou a transportar em seu pequeno automóvel muitos exilados políticos de várias nacionalidades até as mais diversas embaixadas para salvar suas vidas”.
Esta é apenas uma das ações que Belela realizou no Chile. No mesmo ano passou a ser responsável pelo Escritório do Alto Comissionado para Refugiados, até 1980, conseguindo assim salvar milhares de vidas.
Depois foi designada representante adjunta no Escritório Regional para a América Central, o Caribe e o México, com sede na Costa Rica.
No final de 1982, Belela assumiu como representante regional adjunta no Escritório para o Sul da América Latina da agência da ONU, com sede na Argentina.
Além disso, trabalhou no México, no Peru, no Brasil e na Espanha – onde participou da abertura de um escritório da ONU.
Entre 1987 e 1989, integrou a Comissão Nacional Pró Referendo, constituída para revocar a “Lei de Caducidade da Pretensão Punitiva do Estado” do Uruguai, que impedia o julgamento por crimes cometidos durante a ditadura militar em seu país.
De 1995 a 2001, desempenhou-se como diretora de Cooperação e Relações Internacionais da Intendência de Montevidéu, tendo sido vice-chanceler do Uruguai entre 2005 e 2008.
Seu currículo resumido diz algo de seu intenso e histórico trabalho, mas Belela é muito mais: é a história viva de uma época.
Sua complexão pequena aparenta uma fragilidade que não existe. São inúmeros atos e relatos que demonstram uma valentia e grandeza interior que a convertem em uma mulher admirável.
As lembranças vão brotando à medida em que a conversa avança. A necessidade de transmitir para as novas gerações o vivido neste passado recente, sobremaneira durante as ditaduras do Cone Sul, são a principal preocupação de Belela.
“Nós vivemos a ditadura, sabemos como foi, conhecemos as atrocidades, os abusos, a tortura, o desaparecimento de milhares de pessoas, entretanto é preciso que os jovens saibam disso, que conheçam esta história para que nunca mais volte a acontecer”, afirma.
Enquanto aproveito o imenso privilégio de ter lhe entregado o troféu e conversamos sobre os inúmeros problemas de direitos humanos que persistem em nossa região, bem como sobre sua atuação, colaborando com os organismos de direitos humanos, começo também a pensar na célebre frase de Bertold Brecht: “Há aqueles que lutam um dia; e por isso são muito bons;
há aqueles que lutam muitos dias; e por isso são muito bons;
há aqueles que lutam anos; e são melhores ainda;
Porém há aqueles que lutam toda a vida; esses são os imprescindíveis.”
Belela é uma dessas imprescindíveis e esta homenagem à sua vida dedicada à defesa e à luta pelos direitos humanos é mais do que um prêmio meritório é um profundo ato de justiça.
Foto: Daniel García