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Mulheres sindicalistas, da indignação à luta

Na quarta-feira, 2 de setembro, realizou-se a primeira etapa do projeto Intercâmbio de Experiências Sindicais: Mulher e Diversidade. Clamu te visita! que constará de outras quatro reuniões que acontecerão todas as quartas do mês de setembro.
Foto: Rel UITA

Se Deus fosse mulher não se instalaria
Solitária no reino dos céus
Mas nos aguardaria no saguão do inferno
Com seus braços não cerrados,
Sua rosa não de plástico,
E seu amor não de anjo.
(Fragmento do poema Se Deus fosse mulher, Mario Benedetti)

O encontro, feito em modalidade virtual, contou com a participação de mais de 80 pessoas, entre dirigentes sindicais e convidados de diferentes sindicatos de oito países da região, e também da Europa.

Nessa oportunidade, o Comitê Latino-americano da Mulher da UITA (Clamu) visitou o Sindicato de Trabalhadores da Palma (SITRAPA) da Costa Rica; a Confederação Democrática Brasileira de Trabalhadores da Alimentação (Contac-CUT) do Brasil e a União Pessoal Auxiliar de Casas Particulares (UPACP) da Argentina.

Dania Obando, Geni Dalla Rosa e Carmen Brítez compartilharam as experiências vividas por suas organizações sindicais e que contribuíram para o empodeiramento das mulheres, tanto no âmbito do trabalho como na participação no sindicato em si.

Embora as histórias dessas mulheres são diferentes em termos do lugar de origem e realidade social, nelas se entrelaçam essas mesmas lutas, esses mesmos desafios, dificuldades e discriminação cotidianos.

Entretanto, há também a indignação, os sonhos e a rebeldia de se saberem capazes de enfrentar tudo o que tiverem que enfrentar daqui pra frente, embora ainda em pleno século XXI tenham que continuar provando que são capazes.

Unidas pela Regional Latino-americana da UITA, as trabalhadoras não recuam diante da nova realidade imposta pela pandemia do Covid-19. Elas vão além, e continuam se organizando, se solidarizando e se conectando como podem.

O Seminário desta quarta foi um claro exemplo desse engajamento, destacado pela histórica dirigente da UITA Barbro Budin, que participou da Suécia e por Julie Duchatel, coordenadora de Género e Igualdade da UITA em Genebra, Suíça.

Ambas coincidiram que da América Latina sempre sopram ventos de esperança e de mudança.

As expositoras

A jovem dirigente Dania Obando contou como consegue driblar a forte postura antissindical da empresa onde trabalha, cada vez que tem que realizar alguma atividade para a sua organização sindical. Além desse problema, estão os escassos recursos para levar adiante tarefas como a filiação de novos membros, a logística para se locomoverem entre as fazenadas, e ainda está o seu papel de mãe solteira.

“As mulheres estão em mil atividades diferentes, e pessoalmente eu fui me capacitando no ambiente sindical graças à Fentrag e à Rel UITA, ao Gerardo Castillo, ao Frank Ulloa, ao Gerardo Iglesias e à Jaqueline Leite que me assessoram e capacitam permanentemente”, disse ao finalizar sua exposição intitulada ‘O poder da mulher‘, mostrando sua experiência pessoal como militante que a levou a ocupar o cargo de Secretaria Geral do seu sindicato.

Geni Dalla Rosa, expôs sobre a importância e a necessidade da capacitação sindical e política das mulheres como ferramenta fundamental para abrir espaço em um mundo endemicamente machista.

Ela lembrou de sua própria formação sindical nos Círculos de Estudo que a Rel UITA ministrava no Brasil, inclusive em plena ditadura. Homenageou a memória de Enildo Iglesias (ex-secretário regional) com carinho e admiração, por ter sido o seu mestre e guia no sindicalismo.

Atualmente, e depois de ser durante vários períodos presidenta de seu sindicato, Geni ocupa o cargo de secretária de Educação na Contac, é ela agora a encarregada de formar os novos quadros de homens e mulheres que buscam se integrar com equidade.

Carmen Brítez falou sobre os impactos da quarentena obrigatória em seu país devido à pandemia, e seus efeitos em um setor quase totalmente feminizado.

“Conseguimos que os salários fossem pagos e que os protocolos necessários fossem adotados, por uma maior segurança das companheiras que continuam trabalhando, e também habilitamos 25 novas linhas de atendimento no sindicato. Porém, a realidade ainda nos fere, diariamente, não só com relação à Covid-19, mas também com relação à falta de emprego, com suas consequências más imediatas, como a pobreza e a fome”, destaca Carmen.

A dirigente informou que continuam proporcionando os serviços médicos graças à obra social do sindicato, porém com a crise sanitária que levou a uma crise econômico-social, a situação de vulnerabilidade deste coletivo de trabalhadoras se vê agravado, sendo, portanto, necessário duplicar esforços para enfrentarmos o que vem pela frente.

Este Seminário virtual – o primeiro de um ciclo de cinco- que reuniu referentes e novas dirigentes, tanto as mais experientes como as mais novatas militantes, contou também com a presença de companheiros homens unidos à causa e faz parte de uma experiência coletiva, encabeçada por mulheres trabalhadoras, com a firme convicção que defendendo os direitos de todos e todas é a única forma de se gerar uma sociedade mais justa, digna e igualitária.


Em Montevideo, Amalia Antúnez