Geni ressalta que a Confederação recebe denúncias diárias contra a JBS, pelo descumprimento do protocolo de biossegurança não só em coisas básicas, como também em coisas mais graves, como por exemplo, funcionários com Covid-19 estarem trabalhando nas linhas de produção.
O Brasil superou as 75 mil mortes por coronavírus, número altíssimo e que tende a crescer. Novos casos são registrados diariamente em Santa Catarina, Mato Grosso, Rio Grande do Sul e Paraná, onde predomina a indústria frigorífica.
Segundo a dirigente, essa situação coloca as organizações sindicais em xeque, porque não há data para a retomada da negociação coletiva, inclusive nos grupos empresariais onde foram alcançados acordos e com os quais há um diálogo permanente, como é o caso da BRF.
"O momento é desesperador, porque o número de pessoas infectadas está crescendo nas empresas do setor da alimentação.
Nas empresas em que mantemos acordos nacionais, exigimos a realização de testes, visando a isolar todo aquele trabalhador que testar positivo para Covid-19, fazendo também o rastreamento em todo o ambiente”, diz Geni.
Entretanto, o contágio virou uma bola de neve por não ter sido tomada nenhuma medida efetiva a tempo e por não haver qualquer política nacional de saúde visando ao controle da pandemia.
As mulheres fazem parte do grupo mais atingido. São a maioria dos que trabalham no setor frigorífico e, além do perigo real de contágio por covid-19, há o sofrimento psicológico, porque sabem que podem infectar seus filhos, seus pais, etc.
“Os acidentes de trabalho aumentaram como resultado do estresse. Muitas das mulheres são chefes de família e não podem parar de trabalhar. Portanto, vivem como se suas cabeças estivessem ao fio da espada de Dâmocles", alerta Geni.
A atitude do governo em relação à pandemia tem sido, além de desprezível, típica de ignorantes.
"Essa pandemia virou chacota. Jair Bolsonaro mudou o seu ministro da saúde duas vezes e agora não temos ministro. O próprio presidente descumpriu as diretrizes da Organização Mundial da Saúde, incentivando atividades públicas, aglomerações, entre outros absurdos.
Além disso, hoje no Brasil, os cientistas são muito pouco escutados”.
O governo também está se aproveitando do contexto de pandemia para ir eliminando as conquistas dos movimentos sindicais.
Portanto, a sindicalista considera fundamental, no momento atual, buscar novas formas de resistência e de luta.
"Não temos como realizar mobilizações presenciais, assembleias ou reuniões. Sendo assim, todo o trabalho que pudermos fazer, será através de plataformas virtuais."
Geni destaca o papel desempenhado pela Secretaria Regional da UITA nessas novas condições.
"Sempre cumprindo o seu papel, a UITA esteve fortemente ao nosso lado, tanto no acordo que assinamos com a BRF, em parceria com a CNTA, quanto nas ações concretas para reverter votações prejudiciais aos trabalhadores e às trabalhadoras."
Por fim, Geni ressalta que o foco deve ser a preservação da saúde dos trabalhadores do setor e a elaboração de uma campanha para pressionar as empresas que não cumprirem os protocolos de saúde.
"As pessoas não podem continuar morrendo por negligência ou por falta de controle", protesta. E observa: "Há muitos frigoríficos aqui que estão mais preocupados com a contaminação da carne do que com a contaminação dos trabalhadores."