-Como essa crise gerada pela COVID-19 afeta os trabalhadores e trabalhadores rurais?
-Estamos em um momento muito adverso em nível global. Afeta a nós muito mais, porque as condições dos trabalhadores e das trabalhadoras brasileiras já são bastante precárias e uma crise dessas proporções só agrava a situação.
É ainda mais complicado para os trabalhadores rurais porque fazemos parte dos grupos essenciais. Somos nós que produzimos os alimentos e os que trabalham com o gado que depois irá aos frigoríficos ou será exportado.
Há alguns dias houve uma exportação de 30.000 bovinos em pé. Para isso acontecer, foi necessário que trabalhadores levassem e embarcassem o gado. Só não sabemos em que condições esse trabalho foi feito.
Esse é um ponto que os sindicatos devem levar em conta para minimizar o impacto na saúde desses companheiros.
- Não ajuda muito a atuação do seu presidente...
-Para você ter uma ideia, o presidente Jair Bolsonaro minimiza tudo e afunda o país mais ainda, desprezando a vida de todos.
Seu governo não tem um mínimo de decência com os trabalhadores, só pensa nas grandes corporações, projetando medidas provisórias que afetam a classe trabalhadora. Algumas dessas medidas conseguimos barrar, mas outras continuam em curso.
Nesse sentido, estamos dialogando com a classe patronal sobre as medidas para garantir condições sanitárias para prevenir o contágio, especialmente no que diz respeito a aglomerações, transportes, fornecimento de produtos de higiene, etc.
Sabemos que este setor não pode deixar de produzir, mas os trabalhadores também têm o direito de cuidar de sua saúde e da de suas famílias, de cuidar de suas vidas porque esse vírus pode matar e os números de mortes no mundo nos mostram isso.
Em alguns casos, conseguimos que isso fosse entendido.
-Como os organismos responsáveis pela saúde estão atuando?
-O Ministério da Saúde segue as recomendações da OMS e estamos em contato com as secretarias de saúde estaduais e municipais a fim de que elaborem protocolos para nossos trabalhadores.
Em algumas regiões, como o sul, onde o frio chegará em breve e com ele as patologias respiratórias, gripes, resfriados, pedimos aos governos para promoverem uma campanha de vacinação contra a gripe influenza, por exemplo. Mesmo que não funcione contra o coronavírus, pelo menos aumenta as defesas.
Os governadores deram um bom exemplo nesse sentido, desvinculando-se do governo federal para proteger o seu povo, mas isso aprofundou a crise política e sinceramente não sabemos como essa história vai se seguir.
-Qual a sua análise sobre esta conjuntura?
-Há muito medo pelo que virá depois disso, porque essa crise sanitária vai se traduzir em um aprofundamento da crise econômica já existente. O Brasil já tinha 14 milhões de desocupados e com a economia em queda, esse número, sem dúvida, aumentará.
Outro aspecto que essa pandemia expôs ao nosso setor é o alto índice de trabalhadores rurais na informalidade, sem acesso à saúde, sem acesso ao seguro-desemprego. Esta é uma grande preocupação, especialmente com um governo que quer retirar dos sindicatos o poder de negociar com os empregadores.
O momento é grave, mas temos que estar para representar os trabalhadores e as trabalhadoras rurais, especialmente defendê-los de um governo que não tem a mínima preocupação pelos trabalhadores, que não valoriza a vida.
Cabe às organizações sindicais e sociais resistir e se rebelar.