-Quais são os antecedentes deste conflito?
-As negociações coletivas do setor começaram no início de outubro e após 13 rodadas de negociações, conseguimos chegar a um acordo sobre as horas in itinere, as chamadas horas de trajeto, uma conquista do movimento de trabalhadores rurais das quais não estamos dispostos a abrir mão.
A patronal, encorajada pela reforma trabalhista, pretende retirar da convenção coletiva estadual dos cortadores de cana o pagamento dessas horas de percurso do trabalhador/trabalhadora.
Atualmente, se não forem contabilizadas essas horas, os trabalhadores perderão 52 horas semanais, o que representará uma redução salarial de aproximadamente 20 por cento.
-Qual é o salário básico de um trabalhador da cana-de-açúcar?
-Em negociação, conseguimos obter um salário básico de 1.010 reais, fora as horas in itinere. Ou seja, os empresários dão com uma mão o que querem retirar com a outra. Aliás, o que querem mesmo é retirar essas horas.
A negociação estancou exatamente devido às horas de percurso, levando à ruptura do diálogo com a patronal. Por esta razão, voltamos à greve, que já está hoje em seu terceiro dia de paralisação.
-Houve algum enfrentamento nestes dias de greve?
-Sim, houve. Em algumas usinas, como no Engenho União Indústria, proibiram o sindicato de ter acesso aos cortadores de cana, pressionando-os para não entrarem em contato com nenhum sindicalista.
Nesta quarta-feira 5 de dezembro, no norte da zona da Mata de Pernambuco, a Polícia Militar do estado teve que escoltar os trabalhadores até as suas plantação, evitando dessa forma que o sindicato pudesse entrar em contato com eles.
No sul da zona da Mata, os trabalhadores foram surpreendidos pela vigilância de capatazes, isto é, milícias particulares.
Mas, até agora não houve violência explícita.
-Esta paralisação inclui quantos engenhos e qual a porcentagem de adesão?
-São 13 usinas e duas cooperativas do setor industrial localizadas em 52 municípios na região conhecida como zona da Mata de Pernambuco.
Houve cortes nas rodovias de Pernambuco e há usinas que estão completamente paralisadas. Estima-se uma adesão de 80 por cento e este número tende a crescer. Em poucos dias de paralisação, várias comunidades já se uniram.
-A patronal se manifestou após o início da greve?
-Não. Eles ainda não deram nenhum tipo de sinal. O Ministério Público está mediando para que ambas as partes se aproximem. Nós já deixamos claro que estamos dispostos a dialogar. Quando nos convocarem, iremos. No entanto, é fundamental que ofereçam um ac