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Berta Cáceres

Clamu exige justiça integral e punição para os autores intelectuais do crime

Em 6 de abril, teve início em Honduras o julgamento de Roberto David Castillo, acusado de ser coautor do assassinato da liderança indígena e lutadora social Berta Cáceres. Por quase dois meses, testemunhamos inúmeras tentativas sistemáticas por parte dos advogados de defesa dos réus de obscurecer e atrasar o andamento do julgamento.

Clamu


Foto: Giorgio Trucchi

Roberto David Castillo é ex-oficial de inteligência militar hondurenha, formado pela Academia West Point, e foi presidente da Desarrollos Energéticos SA (Desa), empresa detentora da concessão ilegal para exploração do rio Gualcarque e promotora do projeto hidrelétrico Água Zarca, contra a qual lutaram durante anos Berta Cáceres e o Conselho Cívico de Organizações Populares e Indígenas de Honduras (Copinh).

Após a condenação dos autores materiais do crime brutal, o julgamento contra Castillo é a chave para garantir a justiça para aqueles que armaram as mãos assassinas. À medida que as provas surgem, fica cada vez mais claro que tudo leva a Castillo, aos principais acionistas da Desa, a vários funcionários coniventes com o crime, bem como a um sistema financeiro nacional, internacional e multilateral, que se diz promover o desenvolvimento, mas continua é financiando projetos de morte.

Confirma-se que o motivo do assassinato de Berta Cáceres foi a oposição ao projeto Agua Zarca, em um contexto de ataques sistemáticos contra ela, contra as comunidades Lenca e contra o Copinh, fatores motivadores do crime. Uma violência típica de um modelo neoliberal extrativista, racista e patriarcal que monopoliza territórios, saqueia bens comuns, persegue, criminaliza e mata defensores dos direitos humanos, com total impunidade.

Berta foi assassinada como lutadora social, liderança de um processo de resistência territorial e como mulher. Nesse sentido, compartilhamos a análise da família, do Copinh e da denúncia privada, afirmando que sua morte violenta foi um femicídio territorial, ou seja, um ataque misógino contra uma mulher determinada a combater a desapropriação e em defender o território, a natureza, e o seu próprio corpo.

Castillo deve ser julgado e condenado como autor intermediário do crime, elo entre os autores intelectuais e os pistoleiros contratados para assassinar Berta.

Da mesma forma, instamos o Estado de Honduras, especialmente o sistema de administração da justiça, a ter a coragem, independência e determinação para investigar, processar e condenar os integrantes da estrutura criminosa que planejou, financiou, participou e executou o femicídio de Berta.

Só assim será possível dar à Berta uma justiça integral, o que implica atingir a verdade, gerar reparação e combater a repetição de crimes como esses. Alcançar a justiça para Berta significa quebrar a barreira da impunidade que assola Honduras, pois esses crimes evidenciam uma sistemática perseguição aos defensores e às defensoras da terra, dos bens comuns e dos direitos humanos em geral.

Nós, integrantes da Clamu, estamos totalmente solidarizados com a família de Berta, com o COPINH e com as comunidades Lenca, vítimas diárias de ataques gerados por um modelo predatório e assassino.

Estaremos constantemente vigilantes do processo e internacionalmente divulgaremos sempre tudo o que estiver vinculado à Causa Berta.