As contas, divulgadas nesta semana pelo jornal Estado de São Paulo, chegam até o dia 6 de setembro, mas é muito provável que aumentem fortemente antes do primeiro turno das eleições para presidente, governadores e parlamentares, no dia 5 de outubro.
O grupo JBS, principal processador de carne do mundo, dono de marcas como Friboi, Swift ou Bertin, foi de longe o principal contribuinte dos partidos e candidatos.
Dele, provieram os 11 % de todas as doações, uns 113 milhões de reais.
Também aparece na lista outro gigante da alimentação, a cervejeira Ambev, proprietária da Brahma, Antárctica e Skol, entre muitas outras, doando 41,5 milhões, posicionando-se em quarto lugar.
Entre os dez primeiros, há também cinco grandes grupos da construção (OAS, Andrade Gutiérrez, UTC Engenharia, Queiroz Galvão e Odebrecht) e dois bancos (Bradesco e BTG Pactual).
A mineradora Vale, outra gigante, ocupa também a primeira fila e está em terceiro lugar entre os doadores de fundos.
O ovo e a galinha
Todos os principais partidos, sem exceções, estiveram entre os beneficiários.
A JBS investiu a maior parte de seu dinheiro no governo PT e em seus aliados, que apoiam a reeleição da Dilma Rousseff, mas também colocou seus ovinhos na cesta da sua principal oponente, Marina Silva do PSB, e também no PSDB.
A Ambev preferiu até o momento o PMDB, Bradesco o PSB, mas sem grandes diferenças com o PT. O PT e o PMDB levam quase 80% dos fundos do BTG Pactual, o PT a metade do doado pelo Grupo OAS (uma das maiores empresas brasileiras do setor de engenharia e infraestrutura, que figura em segundo lugar entre todos os contribuintes), e a Vale repartiu suas doações entre o PMDB e o PT,nesta ordem.
O dinheiro continuará fluindo, e uma das conclusões que podemos retirar do destino desses fundos é a imbricação dos grandes grupos empresariais com o Estado.
Não há nenhum destes grupos empresariais que não mantenha relações carnais com os poderes públicos, independentemente de quem esteja no governo.
Marcelo Odebrecht, o principal executivo da Odebrecht, uma Organização transnacional da construção, de origem brasileira e criada por seu bisavô, deixa isto bem claro: “O tamanho do Estado brasileiro não é decisão deste governo. É uma decisão da sociedade, tanto que não vejo nenhum candidato querendo privatizar a Petrobrás ou o BNDES”.
Relações carnais com o Estado
E não é casualidade que, entre os dez maiores doadores dos partidos, haja cinco empreiteiras: todas elas – fundamentalmente a OAS e a Odebrecht – foram se diversificando em direção ao setor da defesa, onde o Estado está investindo fabulosas somas de dinheiro, e continuará fazendo, visto o crescente papel do Brasil na região e no mundo, seja quem for que ganhe as eleições de outubro.
As cinco participaram também nos faraônicos investimentos que cercaram a última Copa do Mundo, e o farão também nos Jogos Olímpicos do Rio de 2016, e em geral obtiveram bons lucros oriundos das obras de infraestrutura promovidas no primeiro governo de Lula, em decorrência do Plano de Aceleração de Crescimento, o PAC, uma criatura da Dilma.
As doações são, obviamente, uma forma de comprar favores e de ganhar impunidade. Por exemplo, para o Estado fazer vista grossa em matéria de relações de trabalho e de cumprimento de normas, como lembrava uma recente coluna na A Rel, escrita por Enildo Iglesias, citando o caso da JBS.
Às vezes, encontram resistências inesperadas, como a do Ministério Público do Trabalho, como aconteceu com a gigante das carnes, a JBS, que foi punida várias vezes por descumprir as normas trabalhistas neste ano de 2014.
Entretanto, ganham muito mais do que perdem. Como era previsível.