Brasil | SAÚDE | FRIGORÍFICOS
Com o procurador-chefe Marcelo Gross Neves
Uma indústria que tritura seus trabalhadores
O jovem procurador do Ministério Público do Trabalho (MPT) Marcelo Gross Neves é especialista em questões do trabalho nos frigoríficos, um assunto que o apaixona e o deixa indignado. O Dr. Roberto Ruiz e quem subscreve estivemos em seu escritório em Florianópolis para lhe apresentar o livro produzido pela Rel UITA “As Pandemias dos Frigoríficos” poucos dias antes de seu lançamento oficial em São Paulo.
Em Florianópolis, Gerardo Iglesias
11 | 05 | 2022
Procurador Marcelo Gross Neves
- Este livro foi uma surpresa para o senhor?
-Devo dizer que foi uma dupla surpresa agradável: a edição do livro e conhecer o extenso trabalho da Rel UITA.
É muito gratificante saber que uma organização como a de vocês produziu um livro desse tipo, que lança luz sobre a verdade do trabalho na indústria frigorífica, uma realidade que poucos conhecem.
-O senhor é uma dessas pessoas que conhecem essa dolorosa realidade.
-Sim. Tenho bastante experiência com esse setor desde o tempo em que fui procurador em Chapecó (município de Santa Catarina).
Na verdade, no começo eu estava sozinho, depois outros procuradores se juntaram e então, quando fui nomeado procurador-chefe, continuei atendendo os casos dos frigoríficos de Chapecó por amor à causa e por um profundo compromisso com os trabalhadores desse setor.
Alta rotatividade e uso de mão-de-obra estrangeira
-O livro descreve o trabalho nos frigoríficos como algo massacrante.
-Este, entre os empregos formais, com carteira assinada, é, junto com a mineração e a construção civil, um dos trabalhos mais duros do setor para quaisquer trabalhadores e trabalhadoras.
Tanto que os brasileiros não querem mais trabalhar nesse setor, que emprega cada vez mais estrangeiros.
-Um setor que também tem uma alta rotatividade de mão-de-obra.
-Devido às características desta indústria, a rotação de pessoal é grande. Os baixos salários, somados a uma exigência alta, fizeram com que, a princípio, os frigoríficos empregassem colonos, depois indígenas, e agora principalmente imigrantes venezuelanos, haitianos e senegaleses.
E lá vão eles, esmagando pessoas que depois são largadas com lesões, além do alto custo que isso gera em todos os contribuintes, já que a previdência e a saúde pública são os que arcam com esse custo. Isso sem falar na vida e na saúde dessa massa de trabalhadores que não sabe mais o que fazer.
Os frigoríficos são um mundo à parte, único e bastante desconhecido.
-A intenção deste livro é dar visibilidade a esta situação.
-Isso é muito importante porque poucos são os que se detêm a enxergar uma indústria tão brutal com seus trabalhadores e trabalhadoras.
O mundo deveria prestar mais atenção na carne que consome, pois o produto que sai dos frigoríficos do Brasil é muito bom, porém com um custo altíssimo.
E estou falando de todos os consumidores. Há um sacrifício humano por trás dessa produção que não vale o que custa a carne.