Com Cleuza Gomes
Eleita presidenta do Sindicato dos Trabalhadores da Indústria de Alimentação de Serafina Corrêa, com 95 por cento dos votos, para o período de 2024-2028, foi entrevistada pela Rel sobre os principais desafios de sua gestão e as expectativas para o curto e médio prazo.
Amalia Antúnez
27 | 2 | 2024
Foto: Cleuza Gomes (arquivo personal)
-Quando você começou no sindicalismo?
-Eu me filiei em 1998, quando comecei a trabalhar na avícola da BRF no setor de cortes, e em 2002, passei a integrar a diretoria.
Naquela época, as condições de saúde e segurança eram bastante precárias, o ritmo de trabalho era muito intenso. Então, fui designada pelos meus companheiros para fazer parte da Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA).
Naquela época, o Siderlei de Oliveira ainda estava à frente do sindicato, um dirigente histórico que também foi presidente da Confederação Democrática dos Trabalhadores da Alimentação (CONTAC) e dirigente da UITA.
Lembro-me de que, quando fui liberada para o sindicato, fui a terceira opção dos companheiros que compunham naquela época a diretoria. Isso foi em 2012. Conversei com minha família sobre esse novo desafio, eles me apoiaram e decidi aceitar.
Eu sempre estive com meus companheiros e companheiras. Para um dirigente sindical, estar no dia a dia no chão de fábrica é fundamental.
-Como foi a sua trajetória até chegar à presidência do seu sindicato?
-Foram muitos anos de trabalho ao lado da Geni (Dalla Rosa) e do Siderlei. Tentei absorver todo o conhecimento sobre a atuação sindical dos meus predecessores, que foram verdadeiros mestres para mim. Geni ainda continua sendo.
Mas, para ser sincera, nunca esperei chegar aonde estou hoje. Foi uma enorme surpresa para mim.
-Mas aqui está você. E por que você acha que foi eleita?
-Acredito que tantos anos de trabalho junto às bases foram fundamentais para a minha eleição. Mesmo assim, fiquei surpresa com o alto percentual de adesão à minha chapa.
Acredito que o fato de promover espaços de integração, como o Seminário Nacional sobre Negritude e Diversidade que organizei em conjunto com a CONTAC, CUT e a Rel UITA em 2022, teve um grande peso.
Sempre acreditei que precisávamos abordar internamente nos sindicatos a questão da discriminação racial e de gênero, principalmente agora que uma significativa onda migratória da África e do Haiti chegou ao Rio Grande do Sul, onde muitos desses imigrantes passaram a trabalhar na indústria alimentícia, especialmente nos frigoríficos.
Infelizmente, aqui no Rio Grande do Sul, como também em outras partes do Brasil, há muito racismo e também muita discriminação.
Quando me mudei de São Paulo para cá, sofri muito por ser uma mulher negra, então senti a necessidade de incluir esses temas na agenda de trabalho do STIA de Serafina Correa.
-Quais são os principais projetos para sua gestão?
-Além dos temas transversais de uma diretoria sindical, como as negociações coletivas de condições de trabalho; salário, saúde e segurança; e violência no ambiente de trabalho, quero me dedicar muito em trabalhar com as mulheres.
No setor de alimentação, a maioria da mão de obra é feminina. Portanto, precisamos organizar um espaço específico com as mulheres, e para isso, contamos com o Comitê Latino-americano de Mulheres da UITA (Clamu), do qual faço parte há algum tempo.
Devemos insistir em campanhas de conscientização sobre os direitos das mulheres e demais minorias, realizar cursos de formação e apresentar propostas tanto para as convenções coletivas como para a administração pública.
Agora mesmo, para o mês de março, vamos nos unir à campanha realizada pelo Clamu “Março Trabalhadoras em Movimento”, que busca dar visibilidade ao trabalho das mulheres e sua importância tanto na sociedade quanto na indústria.