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Preparando “Março: Mulheres Trabalhadoras em Movimento”

“Que viva a rebeldia”

Nesta terça, 23 de fevereiro, o Comitê Latino-Americano da Mulher da UITA (Clamu) realizou uma nova reunião preparatória e de coordenação, para encarar o Dia Internacional da Mulher Trabalhadora, que terá atividades durante todo o mês de março.

Amalia Antúnez


Foto: Gerardo Iglesias

Devido ao contexto que nos impõe a pandemia de Covid 19, este 8M será diferente, mas não menos mobilizador, e as trabalhadoras integrantes do Clamu estão organizando uma série de ações com o objetivo de continuar dando visibilidade para a grande desigualdade de gênero que ainda impera na sociedade, e as alarmantes cifras de violência contra as mulheres, que se multiplicaram durante este tempo de isolamento obrigatório.

A Red Clamu vem se fortalecendo porque com a pandemia houve que mudar as formas de trabalhar, passando para a virtualidade, que no início nos pegou um pouco desprevenidas, mas que em seguida foi uma fértil ferramenta de unidade e ação.

Os projetos Ronda Viva, Clamu te visita e 16 dias de Ativismo Contra a Violência de Gênero, desenvolvidos de maneira coletiva pelas integrantes da Regional durante o ano passado, serviram de impulso e de ensaio para os novos desafios que 2021 nos impõe, que por enquanto parece ser o ano siamês de 2020.

Foi assim que no dia 9 de fevereiro, realizou-se a primeira reunião para sugerir pautas de trabalho e, nesta terça, surgiu também a ideia de realizar não só um dia de reflexão e de ação (9 de março), mas todo um mês de atividades.

Foi um momento para tirar dúvidas e para confirmar participações.

Uma reunião mobilizadora

Entretanto, como o Clamu já nos têm acostumadas, esta reunião esteve marcada por um começo mobilizador, forte.

A Rel UITA e o Sindicato dos Trabalhadores da Agroindústria e Similares (STAS) vêm denunciando as precárias condições de trabalho na região rural do sul de Honduras, mais precisamente nas plantações da transnacional produtora de frutas Fyffes/Sumitomo.

Em um vídeo aparece a casa de uma trabalhadora dessa empresa, construída com paus e náilon. A mulher trabalha há mais de 20 anos na produção de melões.

“A casa” não tem luz elétrica, nem água potável e nem acesso ao transporte. As condições são realmente precárias.

Frank Ulloa, assessor da Rel UITA e fiel participante de nossas reuniões, mostrou-se comovido diante da realidade que as imagens mostravam.

“Poucas coisas me surpreendem, até porque já vi de tudo nesta vida, mas isto realmente me impactou. O pior é que há centenas, milhares de pessoas na mesma situação dessa companheira, em toda a América Central” lamentou.

Marta Anariba, presidenta do Sindicato dos Trabalhadores do Instituto Nacional Agrário (SITRAINA) de Honduras, reforçou o exposto no vídeo e assinalou que essa é a realidade de muitas trabalhadoras e trabalhadores em seu país, que mesmo trabalhando anos a fio, não superam a pobreza.

Por outro lado, Saray López, secretária geral do Sindicato dos Trabalhadores da Cana (SITRACA) da Costa Rica, informou sobre a grave situação enfrentada pelos trabalhadores migrantes no setor da cana de açúcar.

“Trata-se de companheiros nicaraguenses em sua imensa maioria, que cruzam a fronteira em busca de trabalho e que estão em situações limite para o tráfico de pessoas. Este é um assunto que devemos abordar e denunciar”, destacou Saray.

Uma indignação que exige reação

Laura Díaz, do STIHMPRA, e Delmi Aguilar, do CLAMU G, mostraram-se indignadas e, como elas, o restante dos participantes do encontro.

“Pensar que muitas vezes comemos melões e não temos ideia de como os assalariados e as assalariadas rurais sofrem ao produzi-los”, afirmou Laura.

No Brasil, as companheiras da CONTAC e da CNTA exortaram apoiar a campanha que iniciarão em defesa da Norma Reguladora 36 (NR36), que regula as condições de trabalho na indústria frigorífica e que o governo ameaça modificar, prejudicando os trabalhadores e as trabalhadoras do setor.

Finalizando a reunião, Giorgio Trucchi, correspondente da Rel UITA, lembrou que no próximo dia 2 de março o assassinato da ativista e defensora dos bens comuns, Berta Cáceres, faz 5 anos e que no Copinh está sendo organizada uma jornada com diversas atividades, entre elas um tuitaço com a hashtag #justiciaparaberta.

No encerramento da reunião, Gerardo Iglesias, secretário regional da UITA, aplaudiu a rebeldia e o valor das companheiras do Clamu, as que não só teorizam e fazem suas reflexões, mas que também estão em movimento, nas ruas, nas lutas operárias por justiça social, por igualdade e por respeito.

“Que viva a rebeldia, que nos move, que nos une e que nos impulsiona a sair dos discursos para a ação”, disse.

E é isso que levaremos conosco, porque março será das Mulheres Trabalhadoras em Movimento.