Siderlei de Oliveira, um gênio e artista
uni-vos!
Siderlei poderia ter sido um publicitário de sucesso. Ele tinha o talento inato para realizar campanhas de conscientização e denúncia, a fórmula mágica para definir o slogan politicamente correto, eloquente e transgressor e uma admirável percepção estética.
Gerardo Iglesias
26 | 09 | 2022
Foto: Gerardo Iglesias
“O Frango” da campanha a favor da NR36 e denunciante da situação massacrante das avícolas brasileiras é, com certeza, sua mais festejada conquista mundial.
Em 2005, a Confederação Nacional dos Trabalhadores da Alimentação (Contac, presidida por Siderlei) e a Rel UITA lançaram a Campanha Nacional Contra o Ritmo de Trabalho nos Frigoríficos (Passo Fundo/RS, 30/09).
No material distribuído, via-se a imagem de um frango carregando um trabalhador em cadeira de rodas e a frase: “Não aguentou o ritmo”.
No dia 15 de agosto de 2007, durante o “Dia Nacional de Mobilização da CUT”, que reuniu cerca de 20 mil pessoas em Brasília, estivemos presentes e “os frangos de Siderlei”, sem sombra de dúvidas, foram a maior atração.
Em seguida, em 2009, foi realizado o Encontro Nacional dos Avicultores (Marau/RS, 17/10), com a participação de 25 sindicatos e quatro federações. A essa altura, os frangos já estavam por toda parte.
Na Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (CNUDS), mais conhecida como Rio+20 (20 a 22/06/2020), o famoso frango e o trabalhador massacrado também estiveram presentes.
Todos os eventos em que a campanha pudesse se infiltrar e ganhar as manchetes foram muito bem aproveitados, porque Siderlei era muito perspicaz na hora de identificar os cenários adequados para a divulgação da campanha.
Eram os primeiros dias de outubro de 2012, Siderlei e Geni Dalla Rosa saíram de Serafina Correa, no sul do Brasil, e chegaram a Genebra com uma mala enorme.
Na mala viajava "o frango gigante", símbolo da campanha internacional da Contac, da CNTA e da Rel UITA, sendo a ponta de lança para denunciar as péssimas e precárias condições de trabalho nos frigoríficos do Brasil.
Barbro Budín, então secretária de educação da nossa Internacional, conseguiu uma cadeira de rodas. Durante a apresentação do relatório da Regional, “o frango gigante” entrou na sala empurrando a tal cadeira de rodas. Sentado nela, um trabalhador vestido todo de branco, simbolizando os acidentes de trabalho que o pessoal das avícolas brasileiras sofria.
O Congresso foi suspenso, as delegações se amontoaram para tirar fotos, muitos risos e aplausos vieram da tribuna. As cores do rosto do então secretário-geral pareciam as de um sinal vermelho quebrado. Pediu-se ordem na sala, mas ninguém prestava atenção: a bagunça era geral.
Saindo do local, Geni retirou a fantasia, rindo muito. A mensagem tinha sido alcançada.
Carlos Molinares, vice-secretário da Federação Gremial do Pessoal da Indústria das Carnes da Argentina, ficou fascinado. Tanto que, da primeira vez que viu o gigantesco frango em ação, não conseguia parar de rir.
Lembro que Siderlei encomendou a um artista de Porto Alegre a criação de um frango para a federação, que hoje em dia sabe-se lá em que organização do Brasil esse frango foi parar.
Agora em 17 de agosto, em Buenos Aires, organizações sociais e sindicatos realizaram uma gigantesca mobilização em protesto contra o alto custo de vida. Um frango gigante desfilou na frente do grupo da federação enquanto todos marchavam pela Avenida de Maio.
Esse novo frango gigange foi ideia de Carlos Molinares e na fantasia está o logotipo do Sindicato dos Trabalhadores da Carne de Colón, província de Entre Ríos, de onde o dirigente é oriundo.
Carlos enviou fotos e uma breve mensagem:
“De alguma maneira, Siderlei esteve junto conosco na manifestação de Buenos Aires”.