O perigo nas eleições da Argentina
Gerardo Iglesias
20 | 10 | 2023
Imagem: Cartón Club
Estamos diante de um perigo cada vez mais generalizado no mundo: a ascensão da extrema-direita por meio do voto popular.
Na Argentina, isso se reflete no surgimento de Javier Milei, uma figura controversa, candidato da coalizão A Liberdade Avança e o político mais votado nas últimas eleições primárias. Milei se prepara para as eleições gerais do próximo domingo, 22 de outubro.
As pesquisas dão a Milei uma possibilidade bem real de ser eleito o próximo presidente da república da Argentina. O panorama fica ainda pior se considerarmos que uma parte considerável do eleitorado também apoia outros setores da extrema-direita.
Embora não seja possível afirmar que 50% dos argentinos e argentinas que votaram nessa coalizão nas primárias compartilhem completamente suas posturas de extrema liberalização econômica e de repressão às organizações sociais, especialmente ao movimento trabalhista, é possível afirmar que essas posturas convivem um clima social e político favorável a elas.
Como ocorre no Brasil, nos Estados Unidos, na França, na Costa Rica, na Itália, na Espanha, na Polônia, na Hungria, na Grécia e em muitos outros países, as direitas descaradas já não escondem suas intenções: querem ser regimes autoritários, querem eliminar direitos, especialmente os trabalhistas, visam, aliás, desarticular qualquer forma de resistência política, sindical e ambiental que puder interferir na implementação de um modelo neoliberal extremo.
Outro alvo de destruição são os direitos e espaços conquistados pelo movimento feminista e pela comunidade LGBTI. Para isso, recorrem a argumentos tão arcaicos quanto falaciosos.
Portanto, demonizam os movimentos populares, utilizam as redes sociais, espalham fakenews, alinhados à cartilha nazista criada por Joseph Goebbels, onde “uma mentira repetida mil vezes torna-se verdade”.
O surgimento dessas expressões políticas obriga as organizações populares, os setores progressistas, os movimentos trabalhistas e sindicais a repensarem suas ações e a reformularem suas estratégias de luta.
Não basta apenas negociar salários e condições de trabalho dignas; é necessário promover a consciência de classe, reivindicar a história e resgatar a memória como forma de resistência.
Há anos, o advogado trabalhista Lucio Garzón Maceda afirmou: “Devemos entender que nós somos o alvo da extrema-direita. Precisamos recuperar a nossa militância e intensificar a nossa mobilização”.