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Um efeito positivo do Covid-19

Elite brasileira passou a se preocupar com os mais pobres!

O Brasil foi o último país do mundo a abolir a escravidão. Os registros históricos mostram que a assinatura da lei áurea se deu a contragosto da classe social mais alta que via os escravos como mão de obra fundamental para a economia. É evidente que este não foi o argumento utilizado naquela época.

Era preciso encontrar algo que soasse como música para os ouvidos e que pudesse fazer parte do imaginário social, moldando comportamentos em função dos interesses dos grupos dominantes. Logo, assim como nos Estados Unidos, por exemplo, a elite usou como argumento contrário à abolição o risco de morte em massa dos escravos em função de suposta dificuldade que estes teriam de sobreviver sem seus postos de trabalho.

Mas, de que maneira estes fatos se relacionam com o COVID-19? Embriagados com os argumentos de um presidente que sempre demonstrou seu pouco apreço a vida e que agora afirma que o mais importante é salvar a economia, o Brasil tem assistido nas últimas semanas uma preocupação exacerbada da classe alta com a situação dos pobres. Incontáveis atos foram feitos pelo direito “do pobre trabalhar”.

O argumento? Os manifestantes propalam que as pessoas irão morrer de fome se perderem seus empregos; a fome e o desemprego irão matar mais do que a doença; “é preciso salvar a economia”.

Uma matriz escravocrata

Não é esta a única semelhança com o período da escravidão. Se observarmos bem alguns dos atos realizados no Brasil “pelo direito ao trabalho (morte)” verificaremos que muitos deles foram convocados pela internet com cartazes que deixavam claros: “não desçam dos seus carros, obedeçam às orientações do Ministério da Saúde”.

Nos vídeos disponíveis na internet é possível observar a presença marcante de carros de luxo nessas manifestações. De dentro dos seus carros, com vidros fechados e ar condicionados ligados, a elite brasileira mais uma vez, indica aos mais pobres o caminho da sobrevivência.

Também foi assim no processo abolicionista, quando não havia mais jeito de manter o regime escravocrata, uma parcela oportunista da elite também “assumiu” o protagonismo ao defender o fim da escravidão, sob a justificativa de que o negro não teria como lutar por isso. É isso que se passa no Brasil, é a elite quem está falando pelos pobres.

Vale salientar que não apenas a elite tem defendido a volta ao trabalho. Por mais que pareça absurdo, é comum, ainda, assistir algumas pessoas que integram classes sociais “inferiores” principalmente a massacrada classe média, vociferar pelo direito do pobre trabalhar e sobreviver.

Ou seja, é possível identificar, ainda no Brasil, até mesmo a figura do capitão do mato – aquele escravo que por um pouco mais de comida ou por uma condição de vida aparentemente melhor perseguia e maltratava os demais escravos.

É isso que o Brasil tem assistido agora: uma súbita criação de consciência dos escravocratas e capitães do mato modernos que, de repente, passaram a se preocupar com a fome e com a geração de emprego. Para isso, lutam, defendem, violam as orientações das autoridades de saúde para exigir que os pobres voltem ao trabalho, mesmo que para isso tenham que morrer.

Tudo isso alimentado pelo comportamento do presidente que se soma aos líderes da Bielorrússia, Nicarágua e Turcomenistão, se opondo a ciência, numa estratégia negacionista e que poderia render ao quarteto o apelido de “Cavaleiros do Apocalipse”.

Ao integrar este “seleto” time, o presidente alimenta seu exército de escravocratas e cria dúvidas na sociedade sobre seguir ou não as orientações da Organização Mundial da Saúde (OMS), o que motivou um considerável aumento da circulação de pessoas nas ruas nas últimas semanas.

A nova proposta desta turma é o isolamento vertical, que tem como fundamento a permanência em casa apenas daqueles que integram o grupo de risco, pela idade, ou pela existência de comorbidades, como: hipertensão, diabetes, obesidade e problemas respiratórios. O Reino Unido é um bom exemplo do resultado assombroso provocado por essa estratégia.

Novos escravos

Pois bem, com certeza assistiremos nos próximos dias a reabertura do comércio sem qualquer planejamento e a “tão sonhada” concretização da “emocionante” luta da elite escravocrata brasileira pelo direito ao trabalho dos pobres e junto com ela virá a morte destes trabalhadores, que farão a economia girar com suas vidas, como ocorreu durante a escravidão.

Muitos dizem que o mundo não será o mesmo depois da pandemia, mas o brasileiro começa a demonstrar que continuaremos sendo uma sociedade desigual, controlada por uma elite mesquinha e que não se preocupa com nada, além dos seus investimentos e, consequentemente, com a saúde financeira dos seus cofres.

Outra certeza que o Brasil terá é que o isolamento vertical não dará certo, principalmente, porque o povo, de forma irrestrita, sofre da mesma comorbidade. Sim, o maior fator de risco do povo brasileiro é o senhor deste grande engenho colonial escravocrata, o presidente da república: Jair Messias Bolsonaro.