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Trabalho escravo em vinícolas de Bento Gonçalves

“Declarações de vereador de Caxias do Sul são discriminatórias e intoleráveis”

A Confederação Nacional dos Trabalhadores nas Indústrias da Alimentação e Afins (CNTA) repudiou públicamente a fala do vereador de Caxias do Sul-RS, Sandro Fantinel (PATRIOTA), altamente discriminatória contra a população da Bahia.

Rel UITA

02 | 03 | 2023

Foto: Divulgação

A manifestação do parlamentar ocorreu nesta terça-feira (28), a respeito da ocorrência de trabalho escravo em vinícola de Bento Gonçalves-RS, e que envolveu 207 trabalhadores, sendo a maioria absoluta de baianos.

Fantinel recomendou aos empresários gaúchos que não mais contratem “gente lá de cima”, pois “a única cultura que os baianos têm é viver na praia tocando tambor”.

Sugeriu ainda que se “contratem trabalhadores argentinos, estes são limpos e corretos”. Questionou, por último, se os empresários teriam de “colocar em hotel cinco estrelas” os trabalhadores que contratarem de outras localidades.
O preconceito e a xenofobia do vereador parecem servir para justificar a prática do trabalho escravo.

Fantinel se utiliza do mais vil sentimento discriminatório, para sedimentar uma narrativa criminosa que perdoa o insulto da escravidão moderna, estabelecendo o patrão como vítima.

Para subverter a responsabilidade dos fatos, alega preguiça entre os trabalhadores escravizados. Busca com isto, respaldo na camada mais torpe do empresariado gaúcho. É tóxico, nocivo, e precisa de resposta da sociedade.

Urge que as autoridades policiais apurem o fato, e que a Câmara Municipal de Caxias do Sul instaure um processo no Conselho de Ética Parlamentar, colocando tais manifestações sob o escrutínio daquela Casa.

Devemos lembrar que, no banco dos réus, não está só o vereador xenófobo e defensor do trabalho escravo. Está a reputação da Casa Legislativa e do conjunto de vereadores de Caxias.

Vozes de repúdio também no Senado

Sobre as declarações do vereador Fantinel o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, e os senadores Otto Alencar (PSD-BA), Omar Aziz (PSD-AM), Jayme Campos (União-MT), Magno Malta (PL-ES), Eduardo Girão (Novo-CE) e Paulo Paim (PT-RS) se pronunciaram sobre o assunto durante a sessão deliberativa desta terça-feira (28).

Otto Alencar foi o primeiro e comentar o caso. Ele classificou as declarações do vereador Sandro Fantinel como xenofobia.

“O vereador se referiu a eles como pessoas que se portavam de forma irregular, ou seja, a vítima sendo tratada exatamente ao contrário do que deveria ser considerada. Eles foram levados para vinícolas do Rio Grande do Sul: 200 baianos e nordestinos tratados exatamente como escravos. Eu quero fazer esse registro de um caso xenofóbico típico de quem quer fazer um apartheid no Brasil” disse Alencar.

O presidente Rodrigo Pacheco apoiou a manifestação de Alencar e repudiou a atitude do vereador. Por sua vez o senador Paulo Paim (PT-RS) acrescentou que o trabalho escravo ainda acontece em todo o Brasil e que mais de 2.500 trabalhadores foram resgatados de trabalhos degradantes ou análogos à escravidão em 2022.


Fonte: CNTA Afins e Agência Senado