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Com José Modelski

CONTAC e CNTA renovam acordo nacional com BRF

Os trabalhadores e as trabalhadoras do setor frigorífico foram considerados essenciais durante a pandemia de Covid-19 e, portanto, não pararam suas atividades como os outros setores da produção.
Foto: José Modelski | Foto: Gerardo Iglesias

“Foram inúmeros os casos de surtos nas fábricas frigoríficas ocasionando contágios em grande escala entre os operários e suas comunidades”, lembrou em entrevista com A Rel, José Modelski Junior, secretário geral da CONTAC.

A partir deste cenário, as confederações, federações e sindicatos nucleados na CONTAC e na CNTA, com o apoio da Rel UITA e do Ministério Público do Trabalho (MPT), começaram a alinhar estratégias para controlar a situação e exigiram das empresas protocolos de biossegurança adequados para prevenir e controlar os contágios por coronavírus.

É importante ressaltar que o acordo com a BRF se deu nesse contexto e que esta empresa foi a única grande empresa do setor em abrir o diálogo com os representantes dos trabalhadores e das trabalhadoras nacionalmente”, destacou Modelski.

A atitude da BRF é de se destacar, principalmente porque no Brasil a crise sanitária foi tratada de forma superficial pelo próprio governo. Aqui há um governo negacionista, genocida e que incentivou a que as pessoas não se cuidassem da pandemia, contribuindo para um maior número de contágios”, disse o dirigente.

“Então, medidas centrais para controlar a propagação do vírus, como o distanciamento social e o uso de máscaras nunca foi respeitado, nem mesmo pelo próprio governo, representado pela sua máxima figura, o presidente Jair Bolsonaro”, denunciou.

A BRF tomou o caminho oposto do recomendado pelo governo, diferentemente da JBS, que se negou rotundamente sequer a dialogar e cujos frigoríficos registraram contágios em grande escala, tendo que fechar parcialmente muitos deles.

O acordo que assinamos no ano passado, e que renovamos há alguns dias, não contempla tudo o que os sindicatos e trabalhadores queríamos mas, sem dúvidas, é um precedente para todo o movimento sindical”.

Mais conquistas que fracassos

Entre os pontos que os sindicatos não conquistaram, estão a diminuição da quantidade de trabalhadores por turno, e a distância mínima de 1,5 metro entre trabalhadores na linha de produção.

“Entretanto, conseguimos que todos os funcionários, que estivessem com licença médica por serem do grupo de risco, recebessem seus salários integralmente”, destacou Modelski.

É um acordo inédito com uma empresa do porte da BRF, garantindo as mesmas condições para todos os sindicatos no país.

“A renovação deste acordo introduz uma nova realidade, uma vez que o governo federal não mais pagará o subsídio aos trabalhadores do grupo de risco e, portanto, a empresa aplicará o layoff em algumas de suas fábricas”, informou.

Os sindicatos negociaram que esta suspensão temporária dos contratos não implicasse na perda dos postos de trabalho e que fossem mantidos os benefícios para estes trabalhadores, principalmente a manutenção de seus salários.

“O programa de layoff é anterior a esta pandemia e não contempla os trabalhadores aposentados ou com pouca antiguidade nas empresas. Neste aspecto o acordo passa a ser inovador e socialmente responsável, porque a BRF garantirá os salários deste grupo também”, destacou.

Modelski explicou que outro detalhe importante do acordo se refere às trabalhadoras grávidas, que serão excluídas do layoff. Aquelas que estiverem no sétimo mês de gestação passarão a ter licença maternidade até que seja hora de solicitarem o auxílio por maternidade do governo.

“Além disso, não serão suspensos os contratos daquelas mulheres que estiverem nos primeiros meses de gestação. Entrarão em licença quando lhes corresponder e até então receberão todo o seu salário”.

JBS, a outra face

É impossível deixar de comparar as ações da BRF com a outra grande empresa do setor, a JBS, que até a data se nega a dialogar com as confederações, tentando marcar reuniões separadas com os sindicatos para quebrar a sua unidade nacional, conquistada pelas nossas filiadas CNTA e CONTAC.

A JBS só cumpriu com os protocolos biossanitários, quando foi obrigada a cumpri-los pelo Ministério Público do Trabalho.

Cabe destacar que esta empresa, a transnacional do setor das carnes, a mais importante do mundo, embolsou só no último trimestre do ano passado mais de 500 milhões de dólares.

Recursos não lhe faltam. Responsabilidade social e humanitária, sim.