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Com Wagner do Nascimento
A falta de ética da
Lactalis do Brasil
Wagner do Nascimento, presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Alimentação de Carambeí no Paraná (SINTAC), que representa os trabalhadores e as trabalhadoras da transnacional francesa naquela região, deu um panorama da situação da Lactalis, empresa que, segundo ele, é totalmente antiética.
Amalia Antúnez
31 | 03 | 2022
Wagner do Nascimento | Foto: SINTAC
-Em que estágio está a negociação com a empresa da sua região?
-Neste momento estamos estancados, não só porque a empresa não mostra abertura ao diálogo, mas também pela própria conjuntura socioeconômica do país.
A Lactalis tem seguido a linha dos nossos atuais governantes e tem aproveitado o fato de o Brasil ter uma taxa de desemprego altíssima e uma legislação trabalhista que foi desmantelada após o golpe contra Dilma Rousseff em 2016. A pandemia, primeiro, e a guerra, depois, contribuíram para abrir o caminho para esses maus empresários.
-Vocês sempre tiveram dificuldades em negociar com a Lactalis?
-Nem sempre. A partir de 2017, com a reforma trabalhista promovida pelo governo de Michel Temer, a empresa mudou radicalmente a sua conduta.
Sempre tivemos nossas diferenças, mas nunca antes a empresa havia sido tão marcadamente antissindical e exibindo um oportunismo sem precedentes.
Nem mesmo nas piores crises do setor de laticínios dos últimos tempos as empresas se atreveram a oferecer um reajuste salarial abaixo da inflação, como é o caso agora da Lactalis, que impôs um reajuste que só chega aos 80% da taxa de inflação, causando forte perda salarial para seus trabalhadores.
-Como a empresa expressa seu antissindicalismo?
-Promove o medo a serem demitidos se os trabalhadores ou as trabalhadoras se filiarem ao sindicato. Por outro lado, oferece benefícios não remunerativos e realiza campanhas para desprestigiar a organização sindical.
Essa prática é tão forte que o índice de filiação sindical dos trabalhadores dessa empresa é o mais baixo da região.
E esse índice baixo não se deve a uma ação sindical fraca, porque na verdade já vencemos várias batalhas judiciais para garantir direitos trabalhistas, como o plano de saúde, que em algum momento a empresa queria precarizar.
O medo de perder o emprego em um país com mais de 13 milhões de desempregados é o que mais pesa na hora.
-Você afirmou que a Lactalis do Brasil carece de ética na negociação coletiva...
-Aqui em Carambeí a empresa ofereceu uma participação nos lucros e resultados (PLR) num valor mentiroso de 60%.
Esse valor inclui o percentual de inflação negado no reajuste salarial e condicionaram o acordo da PLR ao fato de os trabalhadores também aceitarem o reajuste salarial inferior à inflação, colocando tudo no mesmo acordo e acusando o sindicato de se negar a assiná-lo.
Além disso, a empresa tem estirado ao máximo as instâncias de negociação com o claro propósito de vencer pelo cansaço.
Lembremos que em meio a esse processo ocorreu uma pandemia que aprofundou as desigualdades e colocou a classe trabalhadora em situação de maior desvantagem.
Existem outras empresas que tiveram uma postura mais ética ao negociar as condições de trabalho com seus trabalhadores e que levaram em conta a nossa desfavorável conjuntura.
Não tínhamos certeza se era uma diretriz global ou apenas uma prática específica para o Brasil, até que a Rel UITA investigou e descobriu que em outras filiais da Lactalis a empresa havia fechado acordos com seu pessoal.
-Existe uma data para uma nova rodada de negociações?
-Solicitamos uma reunião para os primeiros dias de abril, mas até agora não recebemos resposta.
Nos resta esperar e resistir.