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Com Givanilson “Gil” Silva
A CONTAG, um sopro vivificante e esperançador
Givanilson Silva, popularmente conhecido como “Gil”, assessor de Aristides Santos, presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (CONTAG), nascido em Alagoas, depois radicado em Pernambuco, sociólogo de formação, conta com uma ampla trajetória junto ao movimento sindical do campo, das águas e da floresta. Atencioso, simpático, profundo conhecedor da história de nossa filiada, conversou conosco na última visita a Brasília por ocasião da comemoração da 6ª Edição do Encontro Nacional de Formação da CONTAG (ENAFOR).
Gerardo Iglesias
30 | 06 | 2022
Givanilson “Gil” Silva | Foto: Gerardo Iglesias
-Como você definiria a CONTAG?
-A CONTAG é antes de tudo uma organização de síntese. Nasceu sintetizando o conjunto das diversas lutas dos agricultores e das agricultoras familiares pela organização sindical, por direitos trabalhistas, por políticas públicas, por saúde e por educação. A CONTAG é herdeira de uma trajetória fundamental de organizações de base desde a década de 1930.
Neste momento, estou realizando uma pesquisa sobre a questão dos primeiros sindicatos de trabalhadores e trabalhadoras rurais. Ao contrário do que se acreditava até agora, elas datam de 1937, em Pernambuco, Espírito Santo, Minas Gerais, tendo sua origem em ligas camponesas, algumas vinculadas à Igreja Católica e outras ao Partido Comunista, que ajudaram a construir tanto a ULTAB (União dos Lavradores e Trabalhadores Agrícolas do Brasil), sendo a primeira organização, para posteriormente surgir a CONTAG.
Devido a essa origem, a CONTAG é uma organização plural, pois carrega um conjunto de ideias que não se contradizem, pelo contrário, representam a riqueza histórica e cultural da agricultura familiar brasileira.
-São muitos anos de luta, de uma história muito rica. Sou daqueles que pensam que não é possível falar em construção de políticas públicas para o campo no Brasil sem falar da CONTAG…
-Exato. Do Congresso Camponês de 1961, reunindo todo esse conjunto de lutas pela reforma agrária, até a formação da CONTAG em 20 de dezembro de 1963, a história do campo brasileiro e a da maioria das políticas públicas para a agricultura familiar neste país trazem em seu DNA a luta e a assinatura da CONTAG.
Como uma das organizações pioneiras nessa construção, hoje aos 59 anos, celebramos essa trajetória de lutas, conquistas e contribuições para a agricultura familiar do Brasil; de contribuições para a construção democrática do país, para o estabelecimento da Constituição de 1988 que foi fruto de um grande pacto social pela saúde, educação, moradia e pelos direitos fundamentais.
-Uma luta que ultrapassa a especificidade rural e que vai ao encontro de outros desafios?
-Correto. A CONTAG não atua apenas pensando em seus associados. Sua luta faz parte de um projeto de nação, de construção coletiva e plural. Portanto, desde meados da década de 1990, a CONTAG vem construindo, em parceria com a CUT, o projeto alternativo de desenvolvimento rural sustentável solidário que deu origem ao Pronaf - Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar, consolidado em 1995.
-Na 6ª edição do ENAFOR destacam-se a alegria, a determinação dos jovens, o resgate da memória histórica, a criação de espaços lúdicos típicos da educação popular. Um ponto de encontro onde convergem Paulo Freire, Irmã Dorothy Stang, Chico Mendes e Marielle Franco, entre tantos outros e tantas outras lutadoras. Respira-se a mística em todos os cantos e recantos.
-É verdade. Cabe destacar que o 6ª ENAFOR foi elaborado a partir de 636 experiências de organizações de base, das diversas formas de diálogo com os agricultores e as agricultoras familiares, desde os lugares onde produzem, onde trabalham, onde sonham com um mundo melhor: em suas comunidades, assentamentos de reforma agrária, em regiões extrativistas, e também em comunidades quilombolas ou nos povos indígenas.
Tanto a escola quanto o Encontro Nacional de Formação CONTAG têm justamente o propósito de resgatar a mística do cuidado. Uma pedagogia da autonomia, como dizia Paulo Freire: não só pensando na pedagogia do oprimido, mas também celebrando a luta, o trabalho e a organização com o protagonismo dos jovens e das mulheres.
Para mim, esse é o diferencial da CONTAG: a celebração, a vitalidade. Mantermos viva a chama da luta coletiva, a mística da esperança e do esperançar, como dizia Freire.
O que celebramos no ENAFOR é continuar sendo, a partir do processo formativo, o que em algum momento passei a chamar de sopro vivificante das organizações sindicais, para que não se fossilizem na burocracia da estrutura sindical.