2º Encontro de Trabalhadores Hoteleiros
Com Francisco Calasans Lacerda
“O notável não é a multa aplicada ao McDonald’s mas sim solucionar um grave problema”
A Rel dialogou com o presidente da Federação Regional de Trabalhadores no Comércio Hoteleiro e Similares do Estado de São Paulo, durante o 2º Encontro de Trabalhadores Hoteleiros, realizado nos dias 17 e 18 de maio, na colônia de férias da Federação, no município de Peruíbe-SP.
-Qual é a sua avaliação sobre este encontro?
-A meu ver foi um encontro muito importante, que deveria ser feito com mais frequência, e com expositores cujas palestras nos atualizem e nos ajudem a informar todos os trabalhadores, tanto de São Paulo como do interior.
-Entre os participantes notei a falta de jovens e de mulheres. Isto aconteceu apenas neste encontro ou é um aspecto comum que vem afetando a categoria?
-Você tem razão. É um fenômeno que vem se dando, mas eu não saberia dizer o motivo. No nosso Sindicato, estamos abertos à participação de jovens e de mulheres. Porém, se por um lado não existe estatutariamente nenhuma obrigação ou restrição para a participação feminina, o certo é que há muito poucas mulheres dentro da militância sindical do setor em geral.
–Além do incentivo para haver uma maior participação da mulher e dos jovens, quais os principais desafios atuais desta categoria?
-Esta categoria apresenta inúmeros desafios, mas acredito que um dos principais – mesmo que pareça pretensioso – é a necessidade de pressionar para os empresários também formarem parte da capacitação dos trabalhadores e, por sua vez, eles mesmos se capacitarão para melhorar a qualificação da mão-de-obra.
O crescimento vertiginoso dos últimos anos, no setor de serviços e de hotelaria, fez com que não se contasse com um grande número de trabalhadores idôneos na matéria. Daí, a necessidade de capacitar ser cada vez maior e mais importante, porque este é um setor de grande desenvolvimento e de grande potencial.
-A Rel-UITA formou parte da luta da CONTRATUH contra a jornada móvel imposta pela rede transnacional McDonaldʹs no Brasil, o que resultou em multas e penalidades para a empresa. Entretanto, surgiram rumores de que estas multas e penalidades não tenham sido fruto do trabalho sindical, mas sim de uma decisão do MPT. Qual é a sua versão isto?
-Na verdade, o Mc Donaldʹs criou um sindicato alinhado aos seus interesses, para poder implantar a denominada jornada móvel, -chamada por nós de jornada criminosa-, já que de outra forma teria sido impossível implantá-la. Estes rumores são criados por estes sindicatos amarelos.
O Ministério Público do Trabalho (MPT) deveria invalidar todo e qualquer sindicato amarelo, porém o fato é que há centrais sindicais aqui no país que os amparam, tornando o trabalho de sindicatos como o SINTHORESP, dosverdadeiros sindicados, mais complicado ainda.
Apesar disso o Sindicato conseguiu fazer as denúncias contra a McDonaldʹs chegarem aos ouvidos de um procurador idealista, lá no estado de Pernambuco, que começou a investigar a Arcos Dourados (franquia da McDonaldʹs) no nível nacional.
A partir de então, nossa Confederação entrou em cena como assistente do processo, que foi levado adiante pelo procurador Leonardo Osório Mendonça, tornando-se um assunto de interesse nacional, com uma sentença, portanto, de alcance nacional.
O notável em todo este processo não é a multa em si, mas sim a solução do grave problema que gerou a implantação, pelo McDonaldʹs, dessa jornada criminosa. A partir da sentença do MPT a empresa terá que eliminar essa modalidade de contratação em todos os seus restaurantes do país. Essa é a verdadeira conquista, a grande vitória.
Agora cabe a nós velarmos para que a transnacional cumpra a sentença.
-A partir de agora os trabalhadores e trabalhadoras da McDonaldʹs estão enquadrados dentro do Convênio Coletivo do SINTHORESP?
-Sim, estão. De fato já tínhamos um acordo para o estado de São Paulo, mas não para a cidade, já que o município de São Paulo, através do Tribunal Regional do Trabalho decidiu em favor do sindicato amarelo, em uma decisão completamente antissindical, pois esta organização foi a responsável por milhares de trabalhadores se virem prejudicados pela imposição da jornada móvel de trabalho. Estamos recorrendo da sentença.
-Para finalizar, vocês mantêm algum tipo de relação com a gerência do McDonaldʹs?
-Nós estamos sempre dispostos a dialogar e a debater civilizadamente com a gerência da empresa. Agora, o que exigimos é o cumprimento de tudo o que a justiça decidiu, em todos os seus aspectos, incluída a alimentação saudável de seu pessoal.