20
Octubre
2016
Brasil | Sindicatos | AMBEV

Cultura "violenta" de gestão da Ambev é tema de palestra em São Paulo

CNTA Afins
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Artur Bueno de Camargo | Foto: Gerardo Iglesias

A Confederação Nacional dos Trabalhadores nas Indústrias de Alimentação e Afins (CNTA Afins) realiza nesta quinta (20/10), em São Paulo (SP), encontro nacional dos representantes dos trabalhadores da Ambev no Brasil.
Na ocasião, o jornalista e mestre em História Social, Carlos Eduardo Batista, irá proferir palestra sobre a evolução da gestão do trabalho da Ambev, uma das maiores cervejarias do mundo.

Atualmente, o Brasil possui cerca de 35 mil trabalhadores ligados à esta indústria brasileira, sendo as regiões sudeste, nordeste e sul as principais em número de trabalhadores, com 17,4 mil (53%); 6,2 mil (18,9%) e 5 mil (15,5%), respectivamente.

Com o estudo "Gente Ambev - A trajetória da 'Gestão do Trabalho' que levou a primeira multinacional brasileira ao centro do capitalismo mundial", fruto da dissertação de mestrado concluída em março desse ano, Carlos Eduardo Batista irá abordar o crescimento de uma das maiores indústrias do país (no período de 1985 a 2010) concomitante a transformação sofrida nas relações sociais internas da empresa.

Também irá destacar aspectos das condições de trabalho a partir da análise da implementação da Cultura da Ambev na filial de Jacareí (SP), uma das maiores em capacidade produtiva, entre os anos 1990 e 2010.

Segundo a pesquisa, "a permanente transformação é uma das características deste modelo de gestão".

De acordo com o autor, que trabalhou na indústria entre 2000 e 2008, a gestão cotidiana do trabalho dentro da Ambev é "bastante violenta" e "com histórico de assédios morais" em sua Cultura.

Com um modelo imposto de cima para baixo, as diferentes formas de gestão desenvolvidas desde a época Brahma até a Ambev, segundo o estudo, resultaram das tensas e conflituosas relações entre capital e trabalho, gerando, consequentemente, problemas, como o aumento da rotatividade da mão de obra de trabalho e situações de pressões por metas e ameaças de desemprego.

Além da vivência de Carlos Eduardo Batista, a pesquisa engloba entrevistas com 15 trabalhadores, fontes documentais, consultas a sindicatos e análise de relatórios anuais da empresa.

"Acho que este tema para a categoria profissional da Alimentação é fundamental porque uma das coisas que a Ambev passou a fazer foi impor a competição entre as suas unidades para conquistar o Prêmio de Excelência Fabril.

Isso fez com que os sindicatos não conversassem mais entre si para estabelecerem uma pauta nacional, sendo a discussão feita individualmente por cada unidade, com temas importantes, como o banco de horas”, comenta o autor, que revela ter presenciado situações de constrangimento e humilhações enquanto trabalhou na Ambev.

“O motivo de estarmos promovendo esta palestra é por entendermos a importância da visão de um companheiro que trabalhou dentro de uma empresa que se tornou hoje o maior grupo do mundo neste seguimento.

Esta tese do mestrado, a qual eu tive a oportunidade de acompanhar pessoalmente a defesa, demonstrou não só o conhecimento teórico, como, na prática, um aprofundamento extraordinário de estudo de quem vivenciou a política da empresa e que pode constatar, e até mesmo sofrer as consequências, dos procedimentos inadequados da Ambev.

Por esta razão, se torna de suma importância que os representantes dos trabalhadores possam ter a oportunidade de conhecer a história de toda esta trajetória com consequências preocupantes para a categoria até os dias de hoje”, afirma o presidente da CNTA, Artur Bueno de Camargo.