DERECHOS HUMANOS

McDonald’s e Burger King violam direitos humanos e trabalhistas

Foram as primeiras empresas em aplicar o pagamento por hora, revela estudo da Universidade Autônoma Metropolitana de Xochimilco – UAM

McDonald’s e Burger King violam direitos humanos e trabalhistas

Foram as primeiras empresas em aplicar o pagamento por hora, revela estudo da Universidade Autônoma Metropolitana de Xochimilco – UAM

Utilizam esquema de contratação temporária de adolescentes de 16 a 22 anos com o mecanismo de terceirização e, usando os sindicatos como proteção, denunciam as entrevistas realizadas pela UAM.
Pagamento de 15 a 16 pesos mexicanos (o que não chega a três reais) por hora trabalhada, que significam salários quinzenais de 1.600 pesos mexicanos, em média (269,46 reais aproximadamente); contratação como empregados de serviços gerais, os quais, numa mesma jornada de trabalho, preparam comida e lavam banheiros e pisos, gerando constantes acidentes, principalmente quedas e fraturas; além da obrigação de assinarem pedidos de demissão em branco; estas são as condições de trabalho dos jovens contratados pela McDonald’s e a Burger King.
 
As entrevistas realizadas com estes funcionários, em uma pesquisa da Universidade Autônoma Metropolitana de Xochimilco e as informações do Projeto de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (ProDesc) revelam as condições em que trabalham os jovens nestes restaurantes de comida rápida, os quais têm sindicatos de proteção, que lhes asseguram a não organização de seus trabalhadores, além de gozarem de outra particularidade: raramente recebem inspeções dos fiscais da Secretaria do Trabalho.
 
Tanto a McDonald’s como a Burger King, de acordo com informações recolhidas, utilizam-se do mesmo esquema de contratação temporária de adolescentes e jovens de 16 anos a, no máximo, 22 anos, porque não querem trabalhadores com antiguidade nem contratos permanentes.
 
Contratam na sua maioria estudantes, que serão capacitados pelos seus próprios companheiros.
 
Nas duas empresas, depois de suas jornadas de trabalho, mesmo que tenham preparado comida ou trabalhado como caixas, todos terão a obrigação de fazer a limpeza dos locais, lavar os banheiros, limpar as mesas, o chão, as janelas, o fogão e o que for preciso, é o que afirmam os jovens nas entrevistas feitas pela Universidade Autónoma Metropolitana Xochimilco.
 
Uma jovem que chamaremos Maria – que, trabalhando no McDonald’s,  sofreu acidente em um dos olhos – e Ernesto, que trabalha no Burger King, afirmaram que as jornadas de trabalho podem durar mais de oito horas: se a loja fecha às 22h, eles podem ficar de duas a três horas a mais limpando o estabelecimento; e então terão que ver como irão para as suas casas à meia-noite ou de madrugada, muitas vezes pedindo aos seus pais para buscá-los.  
 
Maria relata que o acidente que sofreu foi porque salpicou óleo quente no seu olho, sendo encaminhada de emergência para uma clinica coberta pela Previdencia Social. Ficou um mês incapacitada de trabalhar e ao retornar foi despedida.  Nunca lhe entregaram a sua liquidação, “me fizeram dar várias voltas: ‘venha amanhã, o seu cheque não está assinado, não o encontramos”, Até que acabei deixando de ir”.
 
Mesmo com sequelas pelo acidente no olho direito e com informações de que muitas outras colegas de trabalha sofreram quedas, fraturas e intoxicações com produtos químicos de limpeza, Maria diz que é impossível reclamar, porque eles tiveram que assinar renúncias em branco e documentos para liberar a empresa das suas responsabilidades.
 
Ernesto detalha que os jovens, que reclamam das condições de trabalho, são despedidos imediatamente, por só receberem uma média de 15 a 16 pesos mexicanos por hora, menos de três reais, por às vezes não receberem o equipamento de segurança para executarem as suas tarefas e por só terem um dia de descanso. Tanto a McDonald’s como a Burger King contratam através de empresas terceirizadas.
 
Carlos García Villanueva, professor e pesquisador da Universidade Autônoma Metropolitana-Xochimilco, no seu relatório Jovens e trabalho precário expõe que estas empresas foram as primeiras a aplicar o pagamento por hora, com baixo salário, elemento básico na contratação de funcionários em condições precárias de trabalho.
 
Em sua análise, publicada na revista Veredas, Revista do Pensamento Sociológico, o especialista afirma com detalhes que na Burger King as contratações são feitas através da intermediação terceirizada de Comidas Rápidas SA de CV.
 
Ficam por um tempo em uma condição indeterminada, sem estabilidade profissional, sob condições de multifuncionalidade, com a empresa tendo a prerrogativa de alterar os seus horários e tarefas, as quais vão desde descongelar carne para os hambúrgueres e cozinhá-las, até lavar a cozinha, desinfetar os utensílios, limpar os banheiros e outras coisas mais.
 
Nas entrevistas, feitas pelo pesquisador aos trabalhadores, conclui-se que as condições de trabalho nestas empresas estão marcadas por uma situação de  alta rotatividade, salário insuficiente, falta de segurança e higiene, maus-tratos, grande quantidade de atividades a realizar e proteção sindical nula.
 
A ProDesc levou a cabo na semana passada um Dia de ação global contra as violações dos direitos humanos trabalhistas na McDonal’s e informou, com detalhes, que nos Estados Unidos alguns trabalhadores de intercâmbio tiveram que cumprir turnos de até 25 horas ininterruptas, sem pagamento de horas-extras, e com remunerações inferiores ao salário mínimo, além de pagarem preços exorbitantes pelo seu alojamento.  
 
Na cidade do México, a McDonald’s assinou contratos coletivos de trabalho com o Sindicato Progressista Justo Sierra de Trabalhadores da República Mexicana, controlado por Ramón Gámez, “o czar dos contratos de proteção, que é fugitivo da justiça”; entretanto, foi nomeado como o secretário geral desta organização.