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Primeiro de Maio

Desconheço outro Primeiro de Maio mais angustiante na História, para a classe trabalhadora brasileira. Estamos ainda pior, que antes da Carta Trabalhista implantada por Getúlio Vargas. Antes dela, não tínhamos lei que garantisse sombra de tratamento digno por parte do empregador. Ao perdê-la, pudemos perceber o que é voltar para o inferno.

Estamos vivendo há um ano e meio sob a égide de uma Reforma Trabalhista, cujo único objetivo foi dilacerar o contrato de trabalho e fragilizar os sindicatos. Os empregos prometidos na época, 6 milhões, nem mostraram as caras, numa situação que hoje se mostra crônica. Direitos vão sendo varridos dos acordos e convenções coletivas, sob imposição da nova lei.

Adicional noturno acima dos 20%, cesta básica, participação nos lucros, auxílios de alimentação ou escolar, abonos e outras conquistas de décadas, vem sendo trucidados pela empáfia dos vencedores de uma batalha sórdida. A Reforma Trabalhista atou as mãos dos sindicatos, impedindo a defesa destes direitos.

Entidades patronais sem compromisso com o bem-estar do trabalhador, muito menos com a sociedade, têm triunfado mediante o suporte do conluio Mercado-Governo-Mídia, com resultados terríveis para o elo mais frágil da corrente.

E no fim do túnel não tem luz. Sabedores do caminho livre para as atrocidades, que envolveram inclusive a letargia de um trabalhador alienado, além da surpresa atônita de um movimento sindical surpreendido, o conluio quer mais.

Ante a afronta mortal de uma “carteira verde e amarela”, golpe de misericórdia nos mais elementares direitos trabalhistas, a impressão abobalhada foi silenciosa por parte da população. A recepção da ideia foi sem qualquer viés crítico.

Mas e o futuro? Sabemos que a História é cíclica, e que a mesma crise que pune, faz também refletir. São cada vez mais intensos os contatos particulares de trabalhadores com diretores de sindicato, numa aproximação não vista há tempos. A angústia do ataque aos direitos tem levado gente às sedes das entidades, ou mesmo para as páginas das redes sociais.Então vamos perder tudo isso mesmo? A fagulha de consciência parece ter nascido das trevas.

Neste Primeiro de Maio, recusamos a homenagem hipócrita daqueles que não veem o trabalhador como seres humanos. Os que felicitam um tal “Dia do Trabalho”, como se um substantivo sem forma concreta merecesse ser homenageado.

Queremos respeito, empatia, mais humanidade. Queremos uma sociedade que reconheça o real valor do trabalhador, para o desenvolvimento nacional. Uma sociedade que pare de culpá-lo pelas crises, e que pare de destruir as entidades que o representam.

Neste Primeiro de Maio, convocamos nossos companheiros para escrevermos outra página desta História. Uma página diferente, da forma como gente merece.

Unidos, ninguém pode nos deter.