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Em Montevidéu,
Com Jair Krischke
“A realidade está
cobrando a fatura”
cobrando a fatura”
Análise da conjuntura política e social no Brasil
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Além de velho amigo do jornal A Rel, Jair Krischke, presidente do Movimento de Justiça e Direitos Humanos de Porto Alegre, é um observador crítico da realidade social de seu país. Conversamos com ele no afã de conhecer a sua análise sobre a atual crise instalada no Brasil e que, de uma forma ou de outra, afeta toda a América Latina.
-Qual é a sua reflexão sobre este cenário social, político e econômico vivido pelo Brasil?
-Esta crise política tem uma base econômica muito forte, porque a crise financeira é o resultado do mau uso dos recursos públicos em etapa de campanha eleitoral.
Como estratégia política, foram tomadas medidas econômicas tais como baixar o custo da energia elétrica, congelar o preço dos combustíveis, entre outras, pensando na reeleição da presidenta Dilma Rousseff.
Uma vez conquistada a reeleição, começaram a aplicar uma série de ajustes, explodindo com o sistema financeiro, com aumentos de mais de 50 por cento nas tarifas públicas, cortes orçamentários, cortes de benefícios sociais e na previdência, etc.
O que acontece agora é que chegou o momento de pagar as contas, e a realidade está cobrando a fatura.
-Mas, como sempre, esta conta é paga pelos mais fracos...
-Exatamente! Quem termina pagando estas dívidas são, como sempre, os trabalhadores, a classe operária, os mais vulneráveis.
Este cenário econômico grave termina por contaminar o político e o social, e é consequência direta de uma base política completamente artificial, calcada no mundo dos negócios.
Devo lembrar que a base política da Dilma era formada por setores cuja “militância” existia graças à troca de favores. José Sarney, Delfim Neto, Collor de Mello são algumas dessas “figurinhas carimbadas”. Quando isto começa a falhar, a presidenta perde apoio, gerando este caos no qual o Brasil está mergulhado hoje.
-Os casos de corrupção dentro do governo também não ajudam...
-No meio de tudo isto, está a escandalosa fraude da Petrobrás, onde surgem nomes como o do atual presidente da Câmara de Deputados, Eduardo Cunha, e do próprio presidente do Senado, Renan Calheiros, convertendo a política do Brasil em uma história de revanchismos pessoais.
-Como é isso dos revanchismos?
-Cunha, acreditando que foi Rousseff quem o delatou no caso Lava Jato da Petrobrás, começa a desengavetar todos os projetos de lei que geram polêmica e que são de difícil consenso e os apresenta para serem votados. Então, falando de forma curta e grossa, o Congresso brasileiro é um verdadeiro “samba do crioulo louco”.
As leis que estão sendo votadas eliminam conquistas históricas dos trabalhadores brasileiros: lei sobre as terceirizações (PL4330), redução ao mínimo possível do seguro-desemprego (medida provisória 665/2014), uma tentativa de reduzir a maioridade penal, entre tantos outros projetos que ressurgem no Congresso, nesta luta de cabo de guerra para ver quem fica com a maior fatia do bolo.
-Esta crise política tem uma base econômica muito forte, porque a crise financeira é o resultado do mau uso dos recursos públicos em etapa de campanha eleitoral.
Como estratégia política, foram tomadas medidas econômicas tais como baixar o custo da energia elétrica, congelar o preço dos combustíveis, entre outras, pensando na reeleição da presidenta Dilma Rousseff.
Uma vez conquistada a reeleição, começaram a aplicar uma série de ajustes, explodindo com o sistema financeiro, com aumentos de mais de 50 por cento nas tarifas públicas, cortes orçamentários, cortes de benefícios sociais e na previdência, etc.
O que acontece agora é que chegou o momento de pagar as contas, e a realidade está cobrando a fatura.
-Mas, como sempre, esta conta é paga pelos mais fracos...
-Exatamente! Quem termina pagando estas dívidas são, como sempre, os trabalhadores, a classe operária, os mais vulneráveis.
Este cenário econômico grave termina por contaminar o político e o social, e é consequência direta de uma base política completamente artificial, calcada no mundo dos negócios.
Devo lembrar que a base política da Dilma era formada por setores cuja “militância” existia graças à troca de favores. José Sarney, Delfim Neto, Collor de Mello são algumas dessas “figurinhas carimbadas”. Quando isto começa a falhar, a presidenta perde apoio, gerando este caos no qual o Brasil está mergulhado hoje.
-Os casos de corrupção dentro do governo também não ajudam...
-No meio de tudo isto, está a escandalosa fraude da Petrobrás, onde surgem nomes como o do atual presidente da Câmara de Deputados, Eduardo Cunha, e do próprio presidente do Senado, Renan Calheiros, convertendo a política do Brasil em uma história de revanchismos pessoais.
-Como é isso dos revanchismos?
-Cunha, acreditando que foi Rousseff quem o delatou no caso Lava Jato da Petrobrás, começa a desengavetar todos os projetos de lei que geram polêmica e que são de difícil consenso e os apresenta para serem votados. Então, falando de forma curta e grossa, o Congresso brasileiro é um verdadeiro “samba do crioulo louco”.
As leis que estão sendo votadas eliminam conquistas históricas dos trabalhadores brasileiros: lei sobre as terceirizações (PL4330), redução ao mínimo possível do seguro-desemprego (medida provisória 665/2014), uma tentativa de reduzir a maioridade penal, entre tantos outros projetos que ressurgem no Congresso, nesta luta de cabo de guerra para ver quem fica com a maior fatia do bolo.
Guerra entre bandidos
Ontem aliados, hoje adversários
-Os aliados do PT na campanha política são hoje os seus principais opositores...
-No Brasil está acontecendo um fenômeno onde a oposição política não é por questões ideológicas, mas por vantagens econômicas. É uma verdadeira guerra entre bandidos.
Durante o segundo semestre de 2013 e todo o ano de 2014 a administração da Dilma Rousseff esteve voltada para a sua reeleição, oferecendo benefícios e vantagens políticas que geraram esta bolha que está a ponto de explodir.
Atualmente, o contexto político está completamente instável, qualquer coisa pode acontecer.
-Inclusive um impeachment?
-Pessoalmente acredito que não se chegue a isto, e agora estou especulando: acredito que deixarão a Dilma sangrar até o final do seu mandato. Esta é a estratégia da oposição..
Neste cenário politico tão pobre, já estão pensando nas eleições de 2018, onde o Lula seria novamente candidato à presidência.
Se a Dilma chega ao final do seu mandato massacrada, a oposição buscará inviabilizar a candidatura do Lula, que inclusive está sendo investigado por um suposto abuso de funções. Está sendo acusado de ter feito lobby para uma das principais construtoras do país, também envolvida com a operação Lava Jato.
Tudo isto é muito triste, considero esta crise como um dos males que a ditadura nos deixou.
O passado não foi pisado
Ausência de novos líderes
-Em que sentido são um vestígio da ditadura?
-Em que não há renovação política, as ditaduras mataram uma geração inteira de bons políticos. Esta crise que vivemos, na minha opinião, é produto das ditaduras do Cone Sul.
São sempre os mesmos, não conseguimos encontrar novos líderes políticos que se preocupem pelo bem-estar comum, sejam de esquerda, de direita ou de centro.
Basta observar o cenário regional: no Chile Bachelet foi reeleita, no Uruguai o Tabaré Vázquez, na Argentina não há opções muito diferentes e o Brasil tem a Dilma Rousseff e o Lula.
Infelizmente, o Brasil se converteu em um grande negócio para a classe política. As campanhas eleitorais gerenciam cifras astronômicas, gastam para serem eleitos até três vezes o salário que vão receber para “servirem ao povo”. Alguma coisa anda mal.
-Isto gerou uma série de mobilizações em massa na sociedade...
-Nós, brasileiros, não toleramos mais estes excessos políticos, nem estes negociados à custa do povo.
Entretanto, neste contexto há algo que me chama poderosamente a atenção: uma nova modalidade de manifestação autoconvocada por meio das redes sociais, que atraem milhões de pessoas, mas que se proclamam apolíticas, porque vinculam os partidos ao pior a ao corrupto. Isto é muito ruim para a democracia.
Não há forma de fazer política democraticamente sem ser por meio dos partidos políticos. São as ditaduras que gostam de deixar os partidos políticos de fora. Isto me preocupa muito.
-Que saída você vislumbra?
-A saída seria os eleitores tomarem consciência de que tem que acabar, de uma vez por todas, essa alternância entre “seis e meia dúzia”, que é o modelo que estamos vivendo nas últimas décadas.
Temos de repensar a forma de se fazer política, retomar a ideia de que o político está para servir ao povo e não vice-versa. Como a coisa caminha, acabaremos chegando ao fundo do poço.
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Fotos: Gerardo Iglesias
Rel-UITA
29 de julho de 2015
Tradução: Luciana Gaffrée