17
Fevereiro
2017
Nicaragua | Sindicatos | HRCT

“Minha demissão foi injusta e desumana”

Informa a trabalhadora com doença profissional, demitida pelo Hotel Crowne Plaza Managua

En Managua Giorgio Trucchi
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Nancy González | Foto: Giorgio Trucchi

Nancy González tem 26 anos, é viúva e mãe solteira de um menino de 7 anos. Durante os últimos quatro anos trabalhou como camareira no Hotel Crowne Plaza Managua. Foi diagnosticada com diferentes doenças profissionais musculoesqueléticas e o local de trabalho se transformou em um inferno... até que, em janeiro, a empresa decidiu se desfazer dela.
-Quando você começou a trabalhar no Hotel Crowne Plaza Managua, e o que fazia lá?
-Comecei em 2013, como camareira. Cumpria turnos de 8 horas. Eu tinha que colocar no carrinho os lençóis, as toalhas e tudo o que eu iria precisar para limpar uma média de 14 apartamentos. Entretanto, quando havia escassez de pessoal, eu chegava a limpar até 18 apartamentos.

O mais difícil, por causa do peso, era levantar os colchões para depois forrá-los om os lençóis, cumprindo com os padrões de qualidade estabelecidos pelo hotel. Com o tempo, isso foi me afetando e, depois de um ano e meio, comecei a sofrer de dores nas mãos.

-O que aconteceu depois?
-De repente, apareceu um cisto sinovial na palma da minha mão. Fui à clínica médica provisória e lá disseram que iam me operar. Depois de 20 dias de licença médica voltei ao trabalho, só que comecei a sentir que já não tinha mais a mesma força de antes.

Não podia mais levantar as coisas direito e sentia muita dor nas mãos. Às vezes, elas formigavam ou de repente vinham câimbras. Voltei ao médico e desta vez os exames relevaram que eu já estava com síndrome do túnel do carpo.

Alguns meses depois, fui diagnosticada com síndrome de De Quervain(1), radiculopatia cervical e lombalgia. Foi então que o médico especialista notificou ao hotel que eu já não podia pegar pesos superiores a 7 quilos. 

Paralelamente, entrei com um pedido de incapacidade de trabalhar.

-Qual foi a reação do hotel?
-Entreguei toda a documentação para a chefe de Recursos Humanos, Johanna Sotelo, e ela me disse que se eu já sentia não poder desempenhar o meu trabalho, era melhor (eu) pedir demissão e buscar outro trabalho.

Eu respondi que de maneira alguma iria pedir demissão, porque as doenças que diagnosticaram em mim eram produto do trabalho que eu fazia no hotel. Finalmente, ela aceitou enviar pessoal extra para me ajudar no trabalho, mas como não estavam capacitados, eu sempre terminava levantando mais peso do que podia.

Já em março de 2016, o médico solicitou que eu fosse remanejada, e me mandaram trabalhar na rouparia. Durante quase um ano eu me senti discriminada, denegrida, pois eu acabava fazendo coisas que minha condição física não me permitia.

E mesmo assim, isso não foi suficiente para evitar a minha demissão.

Uma camareira em seu labirinto de dor
Uma empresa pelos corredores da vergonha
-Como você foi demitida?
-No dia 31 de janeiro passado, a RH da empresa me chamou e friamente me disse que o comitê executivo do hotel tinha decidido aplicar o artículo 45 do Código do Trabalho (2), e que, portanto, eu estaria demitida.

Depois, quis que eu assinasse uma quitação do contrato de trabalho e que eu aceitasse o pagamento de minha indenização. Eu estava assustada e irritada, ao mesmo tempo, mas consegui me acalmar.

Não assinei nada. Peguei a cópia da minha demissão e fui me assessorar com os companheiros do Sindicato. Foi nesse momento que percebi que acabavam de demitir o companheiro Manuel Munguía, que vive uma situação muito parecida à minha.

Sinto que o Hotel Crowne Managua está violando nossos direitos. É muito injusto o que estão fazendo conosco e não vou ficar sem fazer nada.

Vou até as últimas consequências, e não vou fazer isso só por mim, mas também por todas as minhas companheiras de trabalho que, cedo ou tarde, vão padecer das mesmas doenças.

-São muitas as trabalhadores com problemas de saúde?
-Muitas já sofrem de várias doenças, mas têm medo de dizer. Eu sempre dizia que falassem, que não escondessem o que estava acontecendo, mas elas têm medo de perder o trabalho.

Depois do que a empresa fez comigo, minhas companheiras trabalham com muito mais pressão. Nem sequer pedem uma licença por doença, porque têm medo de que, ao voltarem, sejam mandadas embora.

-Por que você acha que foi demitida?
-Foi um ato discriminatório. Como já não posso desempenhar o trabalho de camareira, não sirvo mais. Além disso, sabem que a cláusula 35 do nosso Convênio Coletivo prevê o pagamento de 40 salários em caso de um trabalhador contrair uma incapacidade parcial ou total.

Então, usam o artigo 45 que permite a demissão sem justa causa para me mandarem embora. Isto é uma vergonha.

-O que você vai fazer agora?
-Vou lutar na justiça pelos meus direitos, e conto com todo o apoio do SindicatoGuitiérrez y Martínez”.

Sou viúva e mãe solteira de um menino de 7 anos, que está doente. A única coisa que quero é poder continuar trabalhando, porque esta demissão está acabando comigo. Vou até as últimas consequências, porque é desumano o que estão fazendo.

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Ilustração: Allan McDonald

1 Uma forma de tendinite crônica grave. É a constrição dolorosa da bainha comum dos tendões dos músculos abdutor longo e extensor curto do polegar.
2 O artigo 45 estabelece que o empregador pode demitir o trabalhador sem justa causa, pagando para isso uma indenização.

Tradução: Luciana Gaffrée