23
Março
2017

“Que a crise se converta em oportunidade”

En São Paulo, Gerardo Iglesias
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Artur Bueno Junior | Foto: Gerardo Iglesias

A crise da carne em mal estado deveria trazer à tona a questão da soberania alimentar e o modelo produtivo sustentável, disse para A Rel o presidente do Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias da Alimentação de Limeira.
-Em recente matéria, você escreveu sobre esse assunto, mencionando que os culpados deveriam ser punidos, mas também que os sindicatos podem se utilizar desse fato para algo proveitoso. Como é isso exatamente?
-Em primeiro lugar, o movimento sindical deve apoiar o processo de investigação para que este assunto da carne vencida seja esclarecido e que, se houver responsáveis, estes sejam punidos com todo o rigor da lei.

Por outro lado, devemos encarar esta situação como uma oportunidade de aproximação com o consumidor.
Que de uma crise como esta possamos, finalmente, trazer à tona a questão da soberania e da segurança alimentar no país, com um modelo produtivo sustentável. Estes dois aspectos foram deixados de lado pelo movimento sindical brasileiro.

É uma grande oportunidade para isto. A única coisa lamentável é que se dê desta forma. Só que é justamente o setor frigorífico que precisa rever os seus modelos de produção, porque esta é uma área que possui altos níveis de concentração, cada vez mais.

A monopolização do setor das carnes é um fenômeno global, e é preciso que o movimento sindical propicie este debate, principalmente porque a indústria das carnes e seus derivados, sem dúvida alguma, tem uma grande dívida social com os trabalhadores, e este é outro aspecto sobre o qual há que refletir.

O setor das carnes é um setor que adoece e mata trabalhadores e trabalhadoras nas linhas de produção, sem falar dos crimes ambientais cometidos.

Este é o momento de debater sobre estes assuntos, não só os sindicatos, mas também a sociedade como um todo.

-Entretanto, a BRF e a JBS afirmam para a grande mídia que são empresas responsáveis social e ambientalmente...
-Claro, são estratégias de marketing difíceis de digerir. Agora, a Operação “Carne Fraca” da Polícia Federal conseguiu, com o seu correto trabalho, desmascarar uma série de irregularidades e crimes que atingem empresários e funcionários públicos.

Talvez tenham errado na exagerada difusão da investigação, mas não podemos negar que a operação realizada foi correta.

Onde há fumaça, há fogo. E nós, no movimento sindical, não podemos fazer vista grossa.

O que realmente nos preocupa é a situação dos trabalhadores do setor, os quais são, neste momento, o foco de nossas ações como Confederação.

Manter os postos de trabalho é o mais importante, porque quando há uma crise já sabemos como termina. A corda arrebenta sempre do lado mais fraco.

Tradução Luciana Gaffrée