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Demissões em massa no setor frigorífico
Clarice Gulyas
Brasil
FRIGORÍFICOS
Demissões em massa no setor frigorífico
CNTA Afins cobra governo uma solução
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Foto: CNTA
Após "ajuste fiscal" do governo federal, frigoríficos alegam falta de matéria-prima e demissões podem atingir 440 mil trabalhadores no país.
Após criticar a sanção das leis que restringem o acesso dos trabalhadores aos direitos trabalhistas e previdenciários (MPs 664 e 665), os trabalhadores do setor frigorífico têm enfrentado grande dificuldade para manter seus empregos.

O setor tem promovido demissões em massa e fechamentos de fábricas em todo o país, que são contestadas pela Confederação Nacional dos Trabalhadores nas Indústrias de Alimentação e Afins (CNTA Afins).

Só em 2015, foram fechadas pelo menos 44 unidades, segundo levantamento recente da Agrifatto (empresa de análise e consultoria de mercado). A última demissão ocorreu nessa terça (21/7), em Chupinguaia, Rondônia (RO), após o fechamento do Marfrig. Ao todo, foram demitidos cerca de mil trabalhadores diretos e indiretos.

Em Mato Grosso (MT), seis frigoríficos encerraram suas atividades, demitindo cerca de quatro mil trabalhadores. Um desses frigoríficos foi o Minerva Foods, que em junho fechou a unidade de Mirassol D'Oeste, causando a demissão de 701 trabalhadores.

Em julho foi a vez do JBS demitir 500 trabalhadores ao fechar uma de suas 12 unidades no Estado. De acordo com o Sindicato das Indústrias de Frigoríficos do Estado de Mato Grosso (Sindifrigo-MT), em Mato Grosso existem 43 frigoríficos, subindo para 19 o número de plantas frigoríficas com atividades encerradas nos últimos dois anos.

No Mato Grosso do Sul (MS) foram fechados 13 frigoríficos em menos de um ano, subindo para 6,7 mil o número de trabalhadores demitidos diretamente, segundo a Associação de Matadouros, Frigoríficos e Distribuidores de Carne de Mato Grosso do Sul (Assocarne).

De acordo com a entidade, que acusa a JBS de monopólio por ter fechado outras duas unidades há bastante tempo, outros três, dos 23 frigoríficos presentes no Estado, podem fechar as portas ainda esse ano.
Números controversos

No último dia 16, a CNTA Afins lançou, em São Paulo, a pesquisa Raio X da Alimentação, produzida pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE) à pedido da entidade, que representa atualmente 1,5 milhão de trabalhadores da categoria.

De acordo com o estudo, dentre os cinco setores que mais empregaram no ramo da Fabricação de Produtos Alimentícios em dezembro de 2013, o setor frigorífico foi o que mais empregou naquele ano, somando 440.150 trabalhadores.

Segundo a pesquisa, o setor frigorífico liderou com folga o ranking entre os setores da Alimentação que mais ampliaram o número de vagas em 2014: com 18.841 novos vínculos abertos.

No entanto, este crescimento não foi homogêneo no setor como um todo, aponta a pesquisa. Foi no setor de Abate de Suínos, Aves e Outros Pequenos Animais que a maioria dos empregos foi gerado: 16.636 ou 88% das novas vagas.

Só o Estado do Paraná respondeu sozinho por 7.596 contratações, ou seja, por mais de 40% dos novos vínculos. Santa Catarina (2.994 novos vínculos), Rio Grande do Sul (2.719), Minas Gerais (2.188) e São Paulo (1.570), completam o ranking dos cinco Estados que mais abriam vagas no setor frigorífico em 2014.

Ainda segundo o levantamento do Dieese, o ranking confirma o momento favorável da agropecuária brasileira: três dos cinco setores que mais ampliaram o número de vagas estão ligados, em maior ou menor escala, aos ramos: frigorífico, laticínios e fabricação de alimentos para animais.

O setor frigorífico também lidera o ranking entre os setores que mais ampliaram o número de vagas no primeiro trimestre de 2015: foram 8.169 novos vínculos. No entanto, este crescimento novamente não foi homogêneo. Enquanto o setor de Abate de Suínos, Aves e Outros Pequenos Animais gerou 8.567 novas vagas, o de Abate de Reses, Exceto Suínos fechou 884 postos de trabalho.

Ao analisar os Estados, mais uma vez o Paraná respondeu pela maior parte das contratações: 4.200 ou 51,4% dos novos vínculos. Santa Catarina (1.326 novos vínculos), Minas Gerais (843), Rio Grande do Sul (617) e Tocantins (383), completam o ranking dos cinco Estados que mais abriam vagas no setor frigorífico no primeiro trimestre de 2015.
O BNDES e a responsabilidade social

Segundo o presidente da CNTA Afins, Artur Bueno de Camargo, é importante ressaltar que grandes grupos do setor, geralmente beneficiados com empréstimos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), são os que mais têm demitido trabalhadores e fechado unidades.

"A falta de uma política de responsabilidade social para as empresas beneficiadas com empréstimos de dinheiro público coloca os trabalhadores em condições vulneráveis sempre que, por alguma razão, houver queda na produção”.

Talvez as empresas que doaram milhões para as campanhas políticas poderiam ter economizado esse dinheiro para utilizá-lo agora e manter os empregos dos trabalhadores, que são os principais geradores dos lucros, inclusive, dos milhões doados aos partidos políticos", critica Bueno, que pede fiscalização e cobrança da contrapartida social às empresas beneficiadas com os empréstimos públicos.

Rel-UITA
29 de julio de 2015
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