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Campeã em doações
Brasil
JBS
Campeã em doações
JBS Friboi virou gigante da carne
com R$ 10 bilhões do BNDES
Maior processadora de carnes do mundo, a JBS -mais conhecida pela marca Friboi-, é a empresa que mais distribuiu dinheiro a partidos e candidatos nestas eleições até agora, com R$ 51 milhões em doações, segundo dados divulgados pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Os números referem-se à primeira parcial de doações. Até a realização do pleito, em 5 de outubro, haverá uma segunda parcial. Os números consolidados com o total de doações só serão divulgados em novembro, após a realização do segundo turno.
 
O montante doado neste ano, entretanto, já supera de longe o que a JBS distribuiu ao todo em 2010: R$ 30 milhões. Naquele pleito, o grupo já figurava entre as dez maiores doadoras de campanha.
 
Grupo não faz discriminação
ideológica nas doações
 
Os dados do TSE mostram que a JBS não discrimina ao doar: partidos de diferentes ideologias, governistas, da oposição e até os que se postulam à terceira via, como o PSB, receberam aportes do grupo.
 
O mais beneficiado pelo grupo, que tem o cantor Roberto Carlos e o ator Tony Ramos como garotos-propaganda, foi o PMDB, que recebeu R$ 13,6 milhões, dos quais R$ 6,6 milhões foram direcionados ao diretório da sigla no Rio de Janeiro, que tem Luiz Fernando Pezão como candidato ao governo. Outros R$ 5 milhões foram doados ao diretório pemedebista no Mato Grosso do Sul, Estado em que Nelson Trad Filho disputa o governo pelo partido.
 
José Batista Júnior, o Júnior Friboi, um dos irmãos que são donos do conglomerado, filiou-se ao PMDB no ano passado. Era cotado para disputar o governo de Goiás, mas foi preterido por Íris Rezende.
 
O PP, sigla de Paulo Maluf, é a segunda na lista de beneficiados pelas doações, com R$ 10 milhões, todos remetidos ao diretório nacional do partido. O PSD de Gilberto Kassab vem em seguida, com R$ 9 milhões, também enviados ao comando da legenda. O PR ganhou R$ 5 milhões e o nanico PRB foi abastecido com R$ 300 mil.
 
Todas as siglas acima listadas pertencem à base de sustentação ao governo de Dilma Rousseff no plano nacional. O PT recebeu do grupo R$ 5 milhões, todos direcionados para a campanha de Dilma à reeleição.
 
Já o PSDB ganhou R$ 7 milhões da Friboi, dos quais R$ 5 milhões foram para a campanha de Aécio Neves e R$ 2 milhões para o diretório de Minas Gerais, onde Pimenta da Veiga disputa o governo do Estado e Antonio Anastasia concorre ao Senado.
 
O PSB recebeu R$ 1 milhão para a campanha do presidenciável Eduardo Campos e mais R$ 370 mil, direcionados para o diretório baiano, onde a candidata ao governo é Lídice da Mata.
 
Procurada pela reportagem, a JBS afirmou, por meio de sua assessoria, que faz doações por acreditar "que pode contribuir com o debate político do Brasil."
 
Doações da JBS
  

PMDB

R$13,6 milhões

PP

R$ 10 milhões

PSD

R$ 9 milhões

PSDB

R$ 7 milhões

PT

R$ 5 milhões

PR

R$ 5 milhões

PSB

R$ 1,4 milhão

PRB

R$ 300 mil

 
Ascensão meteórica
 
A trajetória da Friboi empresa pouco conhecida até meados da década passada, coincide com a chegada do PT ao poder.
 
Mais do que mera coincidência, na realidade, o crescimento do grupo está diretamente relacionado com uma política declarada do governo de Luiz Inácio Lula da Silva de eleger "campeãs nacionais", empresas líderes de setores considerados estratégicos, e torná-las gigantes internacionalmente, como ocorreu com a Oi e com as empresas de Eike Batista.
 
O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), banco público cuja finalidade é estimular a infraestrutura do país, foi o instrumento utilizado para aplicar tal política. Entre 2005 e 2013, a JBS recebeu empréstimos de R$ 2,1 bilhões do banco, segundo o próprio BNDES.
 
O valor é equivalente a cinco vezes o que foi emprestado ao Corinthians para a construção do Itaquerão (R$ 400 milhões).
 
O maior aporte de recursos do BNDES na JBS, entretanto, ocorreu por meio da compra de papéis do grupo: R$ 8,5 bilhões. Hoje, o banco detém 24,6% do capital do grupo.
 
Neste período de parceria com o BNDES, a JBS tornou-se o maior frigorífico do mundo, comprando mais de 20 grandes empresas nacionais e internacionais do setor. Em 2013, o volume de vendas da JBS chegou a R$ 93 bilhões.
 
A política é criticada por concorrentes da JBS e até pela Confederação Nacional da Agricultora e Pecuária (CNA), que veem cartel na prática, embora o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) não veja irregularidades.
 
Questionada sobre se há conflito ético em receber altas quantias de um banco público e ser campeã de doações eleitorais, a JBS respondeu: "Todas as doações são registradas e seguem as regras do TSE, não havendo por isso qualquer tipo de conflito de interesse."
 
Números da JBS
 

93 bilhões

Receita líquida da JBS em 2013

2,1 bilhões

Total de empréstimos feitos pelo BNDES ao frigorífico desde 2005

8,5  bilhões

É o valor que o BNDES pagou à JBS em troca de papeis do grupo

 
O que dizem os candidatos
 
O mesmo questionamento direcionado à JBS foi feito às campanhas de Dilma Rousseff, Aécio Neves e Eduardo Campos entre quinta e sexta-feira. A reportagem ainda perguntou às campanhas se pretendem manter a política de investimentos em empresas "campeãs nacionais".
 
A assessoria da campanha da presidente afirmou que "o comitê da candidata tem cumprido rigorosamente o que determina a legislação eleitoral no que diz respeito à captação de recursos" e que "todas as contas têm sido apresentadas ao TSE e tratadas com máxima transparência". A segunda pergunta não foi respondida.
 
A assessoria da campanha de Aécio informou, na sexta-feira, que o senador estava em Botucatu (SP) e que não conseguiu fazer contato com ele para responder às questões. Já a assessoria de Campos não respondeu às perguntas.
 
UOL
12 de agosto de 2014

 

N do E: Agradecemos o envio desta matéria ao procurador Sandro Sardá
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