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JBS, Roberto Carlos e a picanha: Um trio que desafina
Em Montevidéu, Gerardo Iglesias
Brasil
JBS-FRIBOI
Quero ter um milhão de bifes…
JBS, Roberto Carlos e a picanha:
Um trio que desafina
20140305 ROBERTO CARLOS-610
Foto: redeto.com.br
De acordo com versões jornalísticas difíceis de comprovar, o Rei Roberto Carlos teria sido aconselhado por sua nutricionista a terminar com seus 30 anos de vegetarianismo e a recomeçar a consumir carne. O que sim é fácil de se comprovar é a JBS ter contratado o “Rei” Roberto Carlos como figura principal de sua recente campanha publicitária nacional. Simultaneamente, a força-tarefa relativa a "Meio Ambiente de Trabalho em Frigoríficos Avícolas" interdita uma de suas fábricas por falta de segurança e risco à saúde dos trabalhadores.
Quase no mesmo dia em que a JBS lançava sua nova campanha baseada na imagem do artista mais popular do Brasil, o Rei, a força-tarefa organizada pelo Ministério Público do Trabalho (MPT) e pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) interditava sua unidade avícola de Montenegro, no Rio Grande do Sul, onde uma inspeção de ambos os organismos havia constatado uma “grave situação e um iminente risco para a saúde e segurança dos trabalhadores”.
 
Trabalho é saúde, menos na JBS
 
Não era para menos: máquinas com risco de causar amputações e esmagamento de membros superiores, choques elétricos e riscos ergonômicos significativos que podem levar a adoecimento foram apenas algumas das irregularidades encontradas pelos auditores-fiscais do Trabalho.
 
A unidade foi aberta uns dias depois, desde que a JBS se comprometesse a cumprir determinadas mudanças e adaptações para minimizar esses riscos, com especial foco no “ritmo de trabalho”, considerado pelos auditores-fiscais como o principal problema.
 
De acordo com as medições realizadas pelos auditores-fiscais, os trabalhadores deviam embalar de 30 a 32 frangos por minuto, e para isso realizavam 85 ações técnicas (movimentos) a cada minuto.
 
A empresa se comprometeu a colocar mais máquinas e a contratar mais trabalhadores para reduzir o ritmo de trabalho. Sua reabertura se manterá sempre e quando esta unidade comprove ter feito e mantido as mudanças. Para isso deverão a cada dez dias enviar relatórios aos auditores-fiscais.
 
O relatório técnico realizado pelos auditores-fiscais contém o resultado de uma breve entrevista aos trabalhadores. Alguns números:
  • 93 por cento dizem haver sentido dores na última semana. As partes do corpo mais mencionadas foram os ombros, as costas e os braços.
  • 73 por cento admitiram terem tomado medicamentos nos últimos sete dias, especialmente analgésicos, anti-inflamatórios e relaxantes musculares.
  • 73 por cento também afirmaram ser necessária uma redução do ritmo de trabalho.
  • 46,6 por cento alertaram para o fato de suas dores desaparecerem após um final de semana completo de descanso.
  • 60 por cento denunciaram dormência em seus braços.
  • Muitos dos trabalhadores que disseram sofrer de dores e adoecimentos, bem como aqueles que assumiram usar medicamentos têm a idade de 22 a 26 anos.
O debate sobre a aprovação e posterior promulgação da Norma Regulamentadora (NR) colocou e manteve na agenda nacional a importante questão das condições de trabalho nos frigoríficos.
 
Mesmo sendo uma excelente ferramenta para os sindicatos e trabalhadores, falta percorrer o exigente caminho do controlador de sua aplicação de maneira completa e universal no setor.
 
Um ídolo perdido dentro de sua bolha
 
É provável que o admirado Rei Roberto Carlos não tenha nunca tomado conhecimento dessa luta ferrenha que levou até a vigência da NR dos Frigoríficos.
 
É possível que nunca tenha pensado em dedicar um pouquinho do seu enorme talento em colocar nas canções as vicissitudes dos trabalhadores e trabalhadoras deste setor.
 
É inclusive imaginável que depois de 30 anos de um vegetarianismo rigoroso tenha decidido “voltar a ser carnívoro”, como aquele filho pródigo das churrascarias. Mas, o que realmente parece incontestável, a julgar pela enorme quantidade de piadas e memes difundidos nas redes sociais, é a sua infeliz ideia de aceitar ser protagonista do comercial de lançamento da campanha da JBS. Uma tristeza.
 
Como dizia meu avô: “Não há rei que não caia”.
 
Rel-UITA
7 de maço de 2014

Tradução: Luciana Gaffrée

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