Conforme o presidente do Movimento, Jair Krischke, o local foi utilizado pelo regime ditatorial entre 1964 e setembro de 1966. Caracterizado pela utilização do método de tortura inglesa, o Dopinho tinha as paredes manchadas de sangue, relembra Krischke.
“Aqui se aplicava muito as técnicas inglesas de tortura, com música alta, escuridão para as pessoas perderem a noção do tempo. Deixavam as vítimas com calor e frio para depois bater. Assim, sem ninguém te tocar o dedo, as vítimas já estavam quebradas”, salienta.
O local parou de funcionar depois que o corpo do ex sargento ManoelRaimundo Soares foi encontrado, em setembro de 1966. Contrário ao golpe militar, Soares foi barbaramente torturado no casarão por 28 militares e agentes da segurança, durante 152 dias, a mando do major Luiz Carlos Menna Barreto. O corpo foi encontrado com as mãos amarradas, nas águas do Guaíba.
O Dopinho foi a quarta unidade identificada como estrutura utilizada para a prática de crimes cometidos pela Ditadura Militar em Porto Alegre. Os demais foram o Palácio da Polícia, que sediou o Departamento de Ordem Política e Social (Dops), no bairro Azenha; a Praça Dr. Raul Pilla, onde havia o Quartel da Polícia do Exército, no Centro, e o antigo Presídio Militar Especial, hoje sede do Colégio Paulo Gama, no bairro Partenon, na zona Leste. Ao todo, Movimento já identificou 22 unidades utilizadas pela Ditadura na Capital.
O casarão na rua Santo Antonio pertence a um proprietário privado, mas a Prefeitura de Porto Alegre já iniciou tratativas para adquirir a residência. A meta é construir um memorial sobre os chamados Anos de Chumbo, assegurou o secretário Municipal dos Direitos Humanos, Luciano Marcantonio.
Durante a manhã, os proprietários chegaram a colocar tapumes em frente à casa, na calçada, para dificultar os trabalhos da Prefeitura, lamentou Krischke.