20130214 agricultura

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Lucrando com a fome
Em Espanha, Víctor García Arroyo
Mundo
    FOME
    A volatilidade dos preços em situações de fome extrema
    Lucrando com a fome
    Bancos e fundos de investimento intervêm nos preços dos alimentos ao especularem com eles na bolsa. As Nações Unidas propõem seja definida uma autoridade de vigilância de mercados para impedir que os preços afundem ou disparem, e que milhões de pessoas fiquem sem comer.
    Há alguns dias atrás, foi difundida a informação de que o Deutsche Bank, o maior banco alemão, voltou a especular com o preço dos alimentos. Trata-se de um claro exemplo da tendência do que já se pratica há alguns anos.
     
    Numerosos bancos de investimento procuram a Bolsa de Chicago para ter acesso aos mercados de matérias primas e apostar em quanto subirá ou cairá o preço de certos produtos básicos.
    Os responsáveis pelo banco alemão justificam sua conduta com o pretexto de que não se pôde provar, de forma empírica, a relação direta entre esta especulação e a subida dos preços dos alimentos.
     
    Não é o que diz o Parlamento Europeu, que atribui aos movimentos especulativos a responsabilidade por 50 por cento do aumento do preço dos alimentos entre 2010 e 2011.
     
    O Banco Mundialtambémreconhece que, no mesmo período, surgiram 44 milhões de novos famintos no mundo por culpa das operações de bancos e de outros fundos de investimento neste setor.
     
    A ONG alemã Deutsche Welthungerhilfe afirma com autoridade que “as especulações contribuíram claramente para reforçar a volatilidade dos preços em situações de fome extrema”.
     
    No último quinquênio, os investimentos em produtos alimentícios passaram de 35 bilhões para 300 bilhões de euros e o preço dos alimentos sofreu um aumento de 135 por cento.
     
    Os investidores estão convencidos de que os preços das matérias primas aumentarão e apostam na subida dos preços ao adquirirem grandes quantidades de diversos produtos.
     
    Mesmo com estas matérias não chegando às suas mãos, o mercado reage como se as reservas estivessem reduzidas, o que provoca o aumento dos preços.
     
    O mais habitual são as práticas especulativas a muito curto prazo que distorcem o mercado. Esta subida incessante dos preços origina uma bolha alimentar.
     
     
    As Nações Unidas propõem seja definida uma autoridade de vigilância de mercados para impedir que os preços afundem ou disparem.
     
    Um dos casos paradigmáticos é o do milho, com um aumento de 94 por cento em seu preço entre 2010 e 2011. Este cereal é um elemento básico na alimentação das pessoas e na composição da alimentação para o gado.
     
    O mais trágico ocorre quando estas induzidas flutuações dos preços afetam as pessoas e as famílias, onde 80 por cento de seu orçamento familiar se destinam à alimentação.
     
    Em muitas regiões, principalmente na África subsaariana, as famílias se veem obrigadas a vender o pouco patrimônio que têm para poder comer. Hipotecam seu futuro e, ao mesmo tempo, contribuem sem querer para a criação das grandes fazendas das multinacionais, que há muitos anos vêm colecionando hectares para seu usufruto.
     
    Estas empresas produzem bens nas baratas plantações africanas e os exportam para o Ocidente junto com produtos alimentícios como a soja ou o azeite de dendê. As matérias primas, que poderiam servir de alimento, são utilizadas como agrocombustível. Aumentam a escassez e os preços.
     
    Portanto, o suposto investimento do qual tanto se alardeia contribui para a criação de oligopólios e expulsa os comerciantes locais. O chamado liberalismo econômico tem chegado longe demais.
     
    Há uma década, só os operadores e produtores do setor podiam especular com as matérias-primas alimentares. Isto contribuía para estabelecer um equilíbrio nos preços. Hoje, qualquer um pode negociar com estas matérias como se tudo fosse um mero jogo. Com a especulação, os intermediários ganham e os produtores e consumidores perdem.
     
    Este mercado global produz o necessário para abastecer o dobro da população mundial, mas um bilhão de pessoas ainda passam fome e 40.000 pessoas morrem por dia de inanição.
      
    A defesa da liberdade de mercado não pode servir como desculpa para não se estabelecer limitações que garantam ou pelo menos trabalhem para conseguir alimentar toda a população global.
      
    O relator especial da ONU, Jean Ziegler, propõe que os preços sejam fixados pelos países produtores e consumidores e não pela bolsa, já que são bens públicos.
      
    A especulação é uma prática duvidosa; sendo que a especulação com os alimentos age como uma arma de destruição em massa em muitas regiões do  planeta e provoca um genocídio silenciado pelos meios de comunicação.  
      
       

    alimentos y especulacion-610

     Ilustración: CartonClub

     

    CCS Solidarios
    21 de fevereiro de 2013