SINDICATOS

O fruto de uma longa e valiosa luta

Intervenção do Dr. Roberto Ruiz no lançamento da cartilha da NR 36

A NR 36, uma conquista dos trabalhadores
O fruto de uma longa e valiosa luta

A experiência, militância, profissionalismo e assessoria técnica do doutor Roberto Ruiz foram decisivos na aprovação da Norma Reguladora das Condições de Trabalho no Processamento de Carnes, conhecida como a NR 36. Ele é, acima de tudo, um querido companheiro e amigo da Rel-UITA, um desses militantes imprescindíveis por sua bagagem sociopolítica e pelo seu jeito de ser de gente boa e simples. A seguir, apresentamos parte do seu discurso proferido por ocasião do lançamento da Cartilha da NR 36 da CONTAC.

“O processo de construção da NR 36 foi não só uma experiência profissional muito boa, uma prática totalmente enriquecedora, mas principalmente uma oportunidade de participar deste movimento integrado por dirigentes muito qualificados e comprometidos com a luta.
 
Os primeiros contatos
 
Gerardo (Iglesias) se lembrará de quando nos conhecemos, lá por volta de 1997 em Sorocaba. Lá chegou ele com a Neuza Barbosa de Lima, no momento em que eu era médico do município desta cidade.
 
A seguir, nos debruçamos na tarefa de divulgar a epidemia das Lesões por Esforço Repetitivo (LER) na XII Conferência da Rel-UITA em Los Cocos, outubro de 2000. E esta foi uma questão que, como tantas outras, a Regional Latino-americana levou até à UITA em seu conjunto, como por exemplo, os transgênicos, a mineração, os agrotóxicos e a nanotecnologia.
 
Esta cartilha que hoje apresentamos -comenta Roberto– contém um resumo do trabalho realizado nestes anos, entretanto considero que seriam necessários livros inteiros para contar tudo o que se fez desde aquele momento até a aprovação da Norma neste ano. Foi trabalho demais, dedicação demais e muita militância”.
 
Visivelmente emocionado, lembrou também quando, na XII Conferência Regional, Enildo (Iglesias), então secretário regional da UITA, “me perguntou se eu gostava da dinâmica utilizada no evento e me disse:
-Bem-vindo à família da Rel-UITA. Assim somos, inovadores e muito comprometidos com as pessoas e com os seus problemas.
 
Então, compreendi que o contato, a convivência e a troca entre os trabalhadores, os sindicalistas e os profissionais convidados e até mesmo com os observadores, era muito importante para esse coletivo que o Enildo chamava de ‘família’.  
 
A coletivização da luta
 
A partir de então esta questão passa a ser abordada com total compromisso e seriedade; a NR é o fruto de um trabalho comprometido que, em mais de uma oportunidade, provocou grandes angústias porque se queria avançar com maior velocidade e dinamismo.
 
Como bom paulista que sou –continuou o doutor Roberto– guardo comigo uma lição: não é necessário estar de acordo em tudo com os outros para poder realizar um bom trabalho. Depois, me mudei para o estado de Santa Catarina, e ali aprendi mais uma coisa: não é necessário estar de acordo, mas se estivermos, é muito melhor.
 
Agora estou na CONTAC desenvolvendo este trabalho de combate as LER e, apesar de termos algumas diferenças aqui e acolá,o mais importanteé resgatar o positivo das relações humanas para as coisas serem bem feitas.
 
Quando surge alguma discrepância entre os realizadores da cartilha sempre digo: se você estiver insatisfeito com alguma coisa, se você se sentir ofendido por alguma coisa, pense em quem está no frigorífico desossando frangos e certamente a sua bronca vai durar pouco.
 
As raízes que guiam
 
Não podemos nos distanciar da realidade nestes âmbitos porque então  corremos o risco de terminar como Brasília, nossa ‘Ilha da Fantasia’, completamente desconectada da realidade.
 
As pessoas, os deputados e senadores que estão em Brasília, acham que a vida passa por reuniões em enormes salões com ar condicionado e alto fluxo de dinheiro; mas no resto do Brasil a vida é outra.
 
O Brasil –explica Roberto– onde a maioria ganha um salário de miséria – porque o salário mínimo neste país é miserável – e apesar disto se consegue construir grandes coisas, então temos que honrar este trabalho do povo que ainda acredita em seus líderes sindicais.
 
A CONTAC se antecipou uma vez mais, porque não está apenas lançando uma cartilha, com isto está dando a mensagem de que, apesar de a Norma já estar homologada, o esforço não deve ficar nisso, a tarefa continua.  
 
E isto não é pouco –alega Ruiz– e, para que tenham uma ideia da importância deste segundo passo, eu lhes conto que a NR 32 sobre Serviços de Saúde foi aprovada há cinco anos, mas só agora me convocaram para um seminário de difusão desta Norma uma vez que, passados esses cinco anos, nada havia sido feito.
 
Este é o segundo round desta luta, estamos aqui para exigir a implementação da NR 36.
 
Os pilares da luta
 
Devo dizer sinceramente que, sem a figura do Siderlei (de Oliveira), esta NR não teria existido; também há que mencionar o importantíssimo papel desempenhado pelo Ministério Público do Trabalho nesta tarefa, e obviamente a participação da Rel-UITA.
 
Esta é uma vitória da classe trabalhadora –exclamou Roberto– e a luta da classe trabalhadora é internacional, por isso é tão importante a participação da Secretaria Regional da UITA também nesta oportunidade. Esta Regional tem uma rica história, bagagem, um trabalho político sindical que muito poucas outras organizações realizam.
 
Por tudo isto: damos início a esta atividade com toda a força de uma riquíssima história de lutas e de dignidade”, concluiu.

 

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Foto: Gerardo Iglesias.