NR36

“A saúde não se vende”

X Congresso Estadual da Federação de Trabalhadores nas Indústrias da Alimentação do Rio Grande do Sul (FTIA/RS)

“A saúde não se vende”
X Congresso Estadual da Federação de Trabalhadores nas Indústrias da Alimentação do Rio Grande do Sul (FTIA/RS)
20121019 nr-POR-610
Ilustração: Allan McDonald
Em Porto Alegre, de 18 a 20 de outubro, O Congresso debaterá, entre várias questões, sobre a Norma Reguladora (NR), as Lesões por Esforço Repetitivo (LER) e a precarização do trabalho, pois, além de perderem direitos, os trabalhadores estão perdendo a saúde.
O Sindicato de Caxias do Sul apresentou uma tese sobre a Saúde dos Trabalhadores, fazendo alusão às LER. “Homens e mulheres, ligados a atividades que exigem trabalho muscular intenso de caráter repetitivo, apresentam sintomas diversos, entre eles: dores musculares, perda de força e de movimento, bem como fadiga crônica”.
 
As LER estão diretamente relacionadas com o trabalho onde predominam: “movimentos repetitivos, ritmo intenso de trabalho, muitas horas de trabalho durante as quais se fica sempre sentado ou em pé, máquinas e equipamentos incômodos, pressão contínua dos chefes para manter a produtividade, incentivo à produção cada vez maior, exigência de horas extraordinárias de trabalho, impossibilidade de interromper o trabalho até para ir ao banheiro, ambientes frios e úmidos e, além disso, a inexistência de um canal de diálogo com a empresa para serem feitas alterações nestes fatores”.
 
O Sindicato de Caxias observa que “as indústrias avícolas e frigoríficas no Rio Grande do Sul estejam se transformando em fábricas de doenças e de doentes. Estima-se que 32 por cento dos trabalhadores que entraram no Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS) e abandonaram suas atividades provêm das indústrias avícolas e frigoríficas. E cabe mencionar o fato de a maioria das empresas não informa sobre os portadores de LER”.
 
Considerando os casos atendidos por médicos especializados, o Sindicato afirma que entre 2008 e 2011 houve um crescimento médio de 17 por cento nos casos de LER, sendo em sua grande maioria mulheres que trabalham em avícolas e frigoríficos da cidade e da região.
 
Por sua parte, o Sindicato de Serafina Correa concorda com a análise de Caxias e propõe que “não obstante o processo avançado na discussão sobre o texto final da Norma Reguladora (NR), agora passamos a enfrentar os principais pontos que serão incluídos nela: as pausas e a redução do tempo de exposição dos trabalhadores ao ritmo excessivo”.
 
Neste sentido, propõe que seja intensificada a Campanha “NR, JÁ!” tanto em nível nacional como internacional, na qual a Federação deve desempenhar um papel fundamental, pois o Rio Grande do Sul é um dos estados com maior produção de carne do país.
 
Outro tema que a Federação colocará em consideração do Congresso é a terceirização, habitualmente utilizada como um instrumento para precarizar as condições de trabalho, a redução de direitos e o aumento dos acidentes de trabalho.
 
De acordo com o DIEESE, os trabalhadores terceirizados ganham 27 por cento menos que os contratados diretamente, e permanecem, em média, menos de três anos no mesmo emprego gerando uma rotatividade que supera os 45 por cento.
 
O setor de carnes no Brasil cresceu exponencialmente concentrando capitais em um processo que tende, indubitavelmente, à formação de monopólios. Neste emaranhado, o Banco Nacional de Desenvolvimento Social (BNDES) ajudou a criar verdadeiros gigantes que engordam em detrimento das pequenas e médias empresas.
 
Para a Federação “o agravante é que empresas, com um histórico desrespeito à dignidade humana, se beneficiam do dinheiro público, criando um verdadeiro círculo vicioso em que toda a sociedade paga, pois cada trabalhador que se lesiona ou adoece entra ao INSS. Além disso, esse dinheiro público está sendo utilizado para contribuir com o número de demissões e com a falência de empresas, gerando um impacto negativo, social e econômico, para os nossos municípios.
 
Frigoríficos, comoo JBS e o Marfrig, estão na lista das prioridades do BNDES. Assim, o peso do banco no capital do grupo Marfrig passou de 3 por cento em 2009 para 14 por cento em 2011, e já existe um projeto para ampliar esta porcentagem”.
 
A Federação entende que já é hora de o BNDES exigir contrapartidas sociais e ambientais, para que qualquer empresa beneficiada com dinheiro público tenha que respeitar a legislação trabalhista e ambiental, bem como garantir a geração de emprego e condições de trabalho dignas onde a saúde e a integridade física e psicológica não estejam comprometidas.