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Acidentes de trabalho e sua ligação com a precarização do trabalho

Um problema de grande magnitude

No mês do Dia Mundial da Saúde e Segurança no Trabalho, as organizações sindicais brasileiras realizam a campanha Abril Verde, que visa sensibilizar e prevenir acidentes e doenças relacionadas ao trabalho.

Amalia Antúnez

16 | 4 | 2024


Foto: Gerardo Iglesias

Embora essa seja uma luta abraçada pelo movimento sindical há anos, os dados de pesquisas sobre o assunto revelam um aumento dos acidentes e mortes associado à crescente precarização do trabalho.

O último estudo realizado pelo Observatório de Segurança e Saúde no Trabalho (SmartLab), uma iniciativa do Ministério Público do Trabalho e da OIT, indica que, em apenas um ano, foram registrados no Brasil quase 613.000 acidentes de trabalho, com 2.538 mortes.

A taxa de mortalidade, de quase sete mortes a cada 100.000 empregos, é a mais alta em uma década.

Os dados correspondem a 2022 e consideram apenas os registros de funcionários com carteira assinada, ou seja, a mortalidade no lugar de trabalho pode ser ainda maior.

São Paulo lidera o ranking de estados com maior número de notificações de acidentes de trabalho, com 34,6%, seguido por Minas Gerais, com 10,8%. Em terceiro lugar está o Rio Grande do Sul, com 8,56%.

Um relatório da Divisão de Vigilância em Saúde do Trabalhador indica que foram abertas 462 investigações de mortes por acidentes de trabalho, das quais 284 foram confirmadas.

As terceirizações matam

Esses números alertam sobre a necessidade de uma interpretação que vá além da segurança e adentre no âmbito legislativo.

Desde a implementação da reforma trabalhista de 2017, o Brasil tem enfrentado desafios crescentes no que diz respeito à segurança e à saúde no local de trabalho.

Parece ser inegável que existe uma correlação entre a precarização das relações ocupacionais e o aumento dos acidentes de trabalho.

Os pesquisadores entendem que há uma relação direta entre a reforma trabalhista e a lei de terceirização, com o aumento dos acidentes de trabalho e das doenças ocupacionais, pois está intrinsecamente ligada à flexibilização das normas e à fragmentação das responsabilidades.

Um amplo impacto

Além das cifras, o impacto social dos acidentes de trabalho é profundo e amplo. Há repercussões diretas sobre o trabalhador envolvido, que podem incluir desde lesões graves até incapacidade temporária ou permanente, ou o que é pior, fatalidades.

Esses incidentes afetam não apenas a saúde física e mental do indivíduo, mas também podem deixar sequelas emocionais duradouras.O acidente de trabalho também afeta a família do trabalhador, que, além de lidar com a dor emocional, frequentemente depende do salário do acidentado como sua principal ou única fonte de sustento.

Segundo José Ribeiro, coordenador da área de Geração de Conhecimento para a Promoção do Trabalho Decente do Escritório da OIT no Brasil e coordenador da iniciativa SmartLab pela OIT, a questão da saúde mental no trabalho tornou-se um desafio ainda maior devido aos efeitos da pandemia.

“A Organização Mundial da Saúde e a OIT instaram a tomar medidas concretas para lidar com as questões de saúde mental na população ativa. Estima-se que se percam 12 bilhões de dias de trabalho por ano devido à depressão e à ansiedade, o que custa à economia global quase um trilhão de dólares”, disse Ribeiro.

Torna-se imperativo gerenciar os riscos psicossociais no trabalho e promover a saúde mental no e através do trabalho. Ambientes seguros e saudáveis minimizam o estresse e os conflitos, além de melhorar a retenção de pessoal, bem como o desempenho e a produtividade no trabalho”, acrescentou.


(Com informações de OIT, MPT e SENGE)