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Com José Saldanha

O que há por trás da famosa e suculenta fruta brasileira

O que há por trás da famosa e suculenta fruta brasileira Assalariados, homens e mulheres, do setor frutícola do Nordeste, enfrentam condições de trabalho desumanas que foram agravadas depois da reforma trabalhista de 2017, disse para A Rel, José Saldanha, presidente da Federação dos Trabalhadores Rurais do Rio Grande do Norte (Fetraern).

O dirigente sindical lembrou que a metade das mulheres e dos homens que trabalham nas cadeias produtivas do melão, uva e manga, no Vale do São Francisco e Rio Grande do Norte, fazem isso apenas por alguns meses por ano e em condições de precariedade absoluta.

Não é de se estranhar que estejam entre os 20% mais pobres do Brasil.

“Depois da reforma trabalhista, as empresas do setor se acham no direito de precarizar ainda mais as condições de trabalho dos trabalhadores e das trabalhadoras da fruticultura irrigada. Nós acostumamos a dizer: fruta doce, o amargo da vida”, disse Saldanha.

“Inclusive as empresas que possuem certificações de excelência não oferecem instalações adequadas para os seus trabalhadores e trabalhadoras se alimentarem, descansarem e realizarem sua higiene pessoal”, afirmou.

De acordo com o dirigente, o que lhes resta é defender as convenções coletivas já conquistadas, embora acredite que, com a reforma, a legislação trabalhista está completamente fragilizada.

Quase escravos

“Apesar deste cenário, conseguimos junto à Fetaern, chegar a acordos que mantêm benefícios no setor produtor do melão, da uva e da manga, mas na maioria dos casos fica difícil uma negociação coletiva, principalmente porque as empresas estão se baseando em aspectos da normativa onde é estipulado que o negociado está por cima do legislado”, explicou.

Diante desta realidade, tanto os sindicatos como as federações de assalariados rurais estão realizando um trabalho forte no campo, convocando os trabalhadores e as trabalhadoras para tentarem manter suas conquistas.

“Se fosse pelas empresas ou pela falta de garantias trabalhistas que vivemos, já teríamos voltado para a época da escravidão. Só não é tão drástico, porque as organizações sindicais combativas, como nós, continuam lutando pela defesa de nossos direitos e conquistas”, ressaltou.

Na região do Vale de São Francisco são plantados melões, mamões, mangas, bananas, uvas e abacaxis. A maioria da produção é exportada para a Europa e, agora também, para o mercado asiático.

Homens e mulheres na linha de fogo

Por outro lado, os trabalhadores e as trabalhadoras do setor estão em constante risco de contaminação por agrotóxicos.

O Brasil é um dos países campeões mundiais na aplicação de venenos agrícolas.

“As trabalhadoras apresentam um quadro de maior vulnerabilidade, afirma o dirigente. Além de terem menos oportunidades de trabalho e de ganharem menos que os homens, a saúde delas está sendo constantemente ameaçada, porque a aplicação de agrotóxicos nas plantações é em quantidades absurdas. 

Finalmente, Saldanha agradeceu à Rel UITA pelo apoio dado aos assalariados e às assalariadas rurais do Brasil.

“Agradecemos este contato com A Regional. Para nós é uma honra trabalhar com gente tão comprometida como esta equipe da Rel”.